O dia amanheceu triste como de costume. A sineta tocou tão alto que fez Marcos pular da cama, caindo no chão. Atordoado, logo levantou-se, coçou os olhos e depois de um longo bocejo, sentou-se na cama. Ele procurou pelo quarto para ver se encontrava Enrico e ele não está em nenhum lugar. Olhou dentro do banheiro e até mesmo embaixo da própria cama e nenhum sinal dele.
Várias paranóias passavam por sua cabeça, a principal delas foi sobre Enrico ter se chateado por ele ter pedido para dormir com ele durante a noite passada, mas a princípio não. O jovem logo se recordou de que o domingo foi o dia escolhido pelo diretor Graça para que os internos fizessem suas ligações para casa ou recebessem as suas cartas, caso houvesse algum parente para escrevê-los.
Marcos esperou e cansou-se. Resolveu tomar banho e na saída do banheiro para o quarto, encontrou Enrico sentado em sua cama, segurando uma carta.
— O que é isso? — Apontou para a carta — Por que você não estava aqui quando acordei? Eu pensei ter feito algo errado...
— Eu fui até a sala do diretor, aproveitei que era cedo e poderia pedir para que ele me entregasse qualquer coisa que tenha vindo para você — Respondeu estendendo a mão e entregando o papel a Marcos — Parece que você recebeu uma carta.
— Achei que tinha se chateado por ter te acordado durante a noite passada — Disse meio sem graça.
— Eu gostei de você ter dormido na minha cama, eu me sinto tão solitário — Riu abafado — Agora abre essa carta, eu fiquei curioso para saber o que tem aí.
— Dinheiro eu sei que não é — Gargalhou alto.
— E nem cigarros — Enrico olhou triste.
Marcos riu. Sentou-se na cama, bem ao seu lado e começou a abrir o envelope. Ao tirar a carta de dentro do envelope, pôs-se a lê-la em voz alta.
Marcos, eu fiquei assustada quando recebi a sua mensagem. Natanael e eu ficamos sem chão quando soubemos que você estava indo para esse lugar perverso. Alguns amigos nosso também ficaram sabendo, eles nos falaram, mas pareceram imparciais e simplesmente estão fazendo de conta que você não existe.
Se eu soubesse que você estava fazendo isso, teria pedido para meus pais deixarem você ficar aqui por alguns dias. Os pais do Natanael também deixariam. Eu conversei com meus pais e expliquei a situação e eles se mostraram compreensíveis. Mas, já que preferiu assim, não podemos fazer nada.
Nós dois esperamos que você tome cuidado e também não deixe que nenhum delinquente lhe faça mal. Eu sei que nesse lugar aí tem vários caras nojentos, tatuados, que fumam cigarro igual um trem maria fumaça. Por favor, tente se cuidar.
Agora eu preciso dizer uma coisa... os seus pais saíram da cidade. Eles venderam a casa e disseram que iam para um lugar onde você nunca os encontraria. Eles parecem estar bem chateados. Eu não consigo entender eles, pois, tem um filho maravilhoso e mesmo assim agem dessa forma.
Quando você voltar para casa, nós estaremos de braços abertos.
Beijos e abraços, Natália e Natanael
Marcos terminou de ler a carta com os olhos marejados. As duas pessoas ao qual ele mais ama (independente de tudo), simplesmente fugiram, sem sequer dar explicações para onde iriam. Marcos agora está sozinho e sem família. Certamente, seus pais avisaram a toda a família para que nenhum deles o recebessem em suas casas.
— Eu — Enrico tenta falar, mas Marcos falou primeiro:
— Não precisa dizer nada — Tentou rir, mas não conseguiu — Eu não sei onde errei...
— Você não errou nada, quem errou foram seus pais quando fizeram isso — Pegou a carta de suas mãos e a pôs do seu lado — Olha — Chamou sua atenção, segurou seu rosto com as duas mãos e disse: — Nós nos conhecemos a pouco tempo, mas eu posso confiar em você e você pode fazer o mesmo. Nós dois estamos aqui por motivos diferentes, mas juntos podemos ir além.
Marcos apenas o abraçou e chorou longamente em seu ombro. Soluços eram ouvidos e mais choro a cada segundo saia. Marcos chorou mais do que na noite em que se assumiu gay para os seus pais. O seu rosto ficou inchado, mas mesmo assim eram evidentes as lágrimas em seus olhos.
Enrico tentou de todo custo fazê-lo parar de chorar, mas a melhor forma de cessar um choro é deixado-o findar-se por si só.
Em seus pensamentos, Marcos achava que seus pais poderiam lhe entender e posteriormente poderiam viver como uma família amorosa e comum. Uma típica família brasileira é o que Marcos sempre quis. Uma típica e tradicional família consiste em membros que se amam mutuamente, propagando o respeito, carinho e todo o amor que puderem dar.
Enrico saiu do quarto para ir buscar cigarros com o seu amigo Jorge, mas rapidamente retornou ao quarto, passando todo o dia e boa parte da noite em companhia de Marcos.
O jovem realmente não esperava que isso lhe acontecesse, mas infelizmente aconteceu. Enrico tem lhe passado boas energias, mas mesmo assim ainda sente um tremendo vazio existencial. Apenas a melhor coisa a se fazer, seja dar tempo ao tempo.
Mesmo que de uma maneira dolorosa, ele fala sobre sua vida, mas de uma forma bem avulsa. Marcos lhe contou sobre seus dois amigos, estes que sempre estiveram juntos e de fato parecem não se importar com a radical decisão do jovem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Mistério do Internato (Livro Gay) - Completa
Science FictionMarcos muda-se para um internato por conta própria, em virtude de ser gay. Ao mesmo instante que conhece Enrico - diferente de todos os garotos que existem dentro do ISM. Ele se depara com acontecimentos peculiares. Nada ali é normal. De momento sur...