Capítulo XIX - Quebrando a maldição - Último capítulo

25 1 0
                                    

Eles retornam para o centro da floresta, onde agora estão sentados exatamente entre todas as lápides, mais precisamente bem perto da de onde Pedro está enterrado.

Enrico tenta freneticamente fazer com que dois galhos de uma velha árvore peguem fogo.

— Anda logo com isso? — Marcos se desespera.

O livro está na sua frente o medalhão sobre ele.

— Eu estou indo o mais rápido que posso — Ele tenta respirar fundo, mas a pressão o faz querer agir rapidamente.

Ele estava juntando outro galho e algumas folhas secas e ficou fazendo atrito com o outro galho e depois de tanto se esforçar, ficou uma pequena faísca surgir. Continuou a esfregar e a chama foi aumentando, conseguindo amenizar o frio e iluminar o que antes estava em penumbra.

— Você lembra o que precisa ser feito? — Enrico o olhou, depois que a chama foi de fato feita e estava forte. Ele se levantou e começou a juntar todas as folhas secas que conseguiu, para manter o fogo aceso, caso houvesse imprevistos.

— Precisamos queimar o livro — Marcos disse olhando para baixo e pegando-o — Página por página... não sei porquê...

O jovem abriu o livro na primeira página e a arrancou. Dobrou e aos poucos foi jogando no fogo. A chama começou a ficar cada vez maior e mais escura. Eles se afastaram e gritos foram ouvidos.

— A maldição começa a ser desfeita... — A voz ouvida saiu de dentro do fogo, que se agita e fica ainda mais forte.

— O que foi isso? — Enrico olha assustado ao se afastar ainda mais.

Marcos consegue apanhar o medalhão que estava caído perto do fogo e arranca mais uma página do livro, dobrando-a e arremessando na chama, que se atiça ainda mais. Enrico toma o livro de suas mãos e faz o mesmo.

A cada segundo que passa eles jogam páginas do livro dentro do fogo, alimentando-o e o deixando cada vez mais forte.

Um forte vento passou por eles, quando apagando o fogo.

— Vocês nunca vão conseguir me destruir — Ouviram a voz do diretor.

Os dois olharam para trás e viram o diretor, que está se decompondo, junto das inspetoras, que também tem pedaços de carne preta pendurados por toda a parte. O diretor está coberto por uma roupagem preta, assim como elas.

Marcos e Enrico se desesperam. O livro já está na metade e agora eles não sabem o que fazer.

— Vocês não podem — O diretor gritou e tentou dar um passo, mas antes de fazer isso, espíritos surgiram e o seguraram — Peguem eles — O diretor gritou para as suas esposas, que se mantinham eretas no mesmo lugar.

A cada página que eles rasgam e queimam, deixam eles mais fracos e fazem com que a porta do mundo eterno seja lentamente quebrada.

Marcos conseguiu rasgar o máximo de páginas possível e uma a uma foi jogando no fogo. A cada página sobre o fogo um grito de agonia era ouvido, como se aquilo estivesse de fato queimando a sua pele. A carne preta vai aos poucos se desprendendo dos seus ossos e caindo no chão, derretendo e virando uma gosma escura. As inspetoras continuam paradas em seus lugares enquanto o diretor se debate enquanto é segurado por feixes de luz.

Freneticamente Enrico e Marcos jogam as páginas dentro do fogo até chegarem à última, quando então a chama fica ainda maior.

— Façam alguma coisa — O diretor grita para elas.

— Você nos manteve presas por dois séculos — A inspetora Euclávia diz — Eu me sinto liberta e você vai apodrecer no inferno junto de nós — Ela diz com a voz cheia de raiva e rancor.

— Você não vai conseguir terminar — Ele ri.

Marcos olha para Enrico, que está de frente para as chamas. Marcos vai até a lâmina caída no chão, apanha-a e depois olha para o medalhão e direciona o olhar para Enrico que está apreensivo.

— Ele é medroso, sempre foi medroso — O diretor riu.

Todas as páginas foram queimadas e agora vê-se somente os esqueletos de todos eles. Um esqueleto negro, carregado de dores, tristezas e desgraças.

Marcos abre o medalhão e o põe no chão. Ajoelha-se e estica o braço. Com a lâmina, faz um pequeno corte no pulso, ao qual deixa pingar duas gotas de sangue em um dos espaços. Enrico se aproximou e também ficou de joelhos, estendeu o braço e Marcos posicionou a frígida lâmina ainda suja de sangue sobre o seu pulso e lentamente foi se movendo-a, fazendo sua pele se abrir e o sangue descer, caindo no outro espaço vazio.

Um grito foi ouvido quando o medalhão foi fechado e jogado dentro do fogo. Gritos histéricos fizeram com que os dois tampassem os seus ouvidos.

Os esqueletos foram aos poucos derretidos e os olhos que restaram ao diretor foram desfragmentados e reduzidos a um lamaçal fedorento.

Um vento em espiral começou. Marcos e Enrico se abraçaram fortemente. O vento ficou cada vez mais forte e luzes azuis foram vistas pairando por todo o círculo. O fogo foi apagado e um cantoria foi ouvido. Uma melodia angelical e assustadora. Todas as lápides foram sumindo com o vento. As folhas iam subindo e seguindo o espiral da forte ventania. O frio os consumia. Um clarão inundou a floresta.

Ainda abraçados eles vieram pontinhos azuis subindo de todos os lugares onde existiam as lápides. O vento ainda é forte, mas não o bastante para os derrubar. A melodia angelical ainda é ouvida e tudo cessa no menos esperar do tempo.

— A libertação — Eles ouvem freneticamente — Libertos de tudo — Eles continuam a ouvir.

A figura de Pedro se materializa em frente aos dois.

— Vocês nos libertaram — Ele sorri — Finalmente estamos livres — Ouve-se um suspiro.

— E agora? — Enrico pergunta.

Marcos sorri ainda abraçado a ele.

— Vamos todos para um lugar de descanso — Ele responde em uma voz ecoada — Mais de duzentos anos esperando...

— Eu quase morri — Marcos diz, com sua mão sobre o pulso, para estancar o sangue.

— O ISM, assim como tudo isso será reduzido a cinzas e vai ser como se nada tivesse existido — Pedro diz — Pelo menos não para vocês... vocês se lembrarão de que devolveram a paz eterna a todos nós...

— Para onde vamos? — Marcos os olha preocupado.

— Ao Norte daqui existe uma casinha abandonada que nós a presenteamos para vocês — Pedro sorri e se distancia.

Pedro se junta a todas as outras figuras que estão se materializando, inclusive Marcelo, que eles conseguem ver. Um sorriso surge diante dos dois. Todos os espíritos dos mortos dão as mãos e começam a girar, ocasionando outro vento forte, onde Marcos e Enrico estão no centro. Uma luz azul cintilante os deixa impossibilitados de enxergar qualquer outra coisa. Fecham os olhos e se abraçam e tudo some... como se nada um dia tivesse acontecido...

Eles sentem os pés dormentes e sua consciência se distanciando cada vez mais. Tudo é escuro... tudo incerto... tudo sem nexo... sem momentos para pensar e nem ações para agir...

Tudo sumiu... o chão sob seus pés... o céu azul sobre suas cabeças... o vento contra seus corpos... toda a consciência vai-se indo e os dois caem desmaiados no chão escuro e sem mundo.

Tudo se foi...

Seus corpos estão sobre o chão da casinha, deitados e de mãos dadas. Ambos partilham o mesmo pensamento, o inferno foi-se de uma vez por todas. Os rapazes se sentam, ainda tentando assimilar tudo o que aconteceu. Se olham e sorriem. Dali, um futuro e também as lembranças....  

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora