Capítulo XV - Aliados

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É uma tarde de sexta-feira.

Marcos, Enrico e Tiago estão na biblioteca, no fundo da sala, bem pertinho do relógio, mas não podem fazer nada. Ambos quando acordaram sentiram-se estranhos, como se em suas costas existisse um imenso peso a ser carregado.

Na manhã do mesmo dia eles se encontram e mesmo com toda a indiferença entre Enrico e Tiago, eles conseguiram se falar pelo bem comum. Marcos ainda queria saber o porquê de os dois serem tão rebeldes um contra o outro. Mesmo sendo adultos, eles ainda agem feito duas criancinhas de jardim de infância.

Mesmo na maravilhosa noite entre Marcos e Enrico, os dois estavam assustados e temerosos o bastante para discutir sobre qualquer safadeza que fosse possível ser falada.

Um leve atrito sempre vai existir, por mais que estejam ligados em prol de ajudar alguém que nem está mais entre eles.

Os três aproveitaram que nada fariam durante aquela sexta à tarde e marcaram de se encontrar como se fosse um quase estudo, com toda a calma do mundo. Mas, por dentro eles estão quase morrendo de medo... nada de mais estranho poderia acontecer... nada é mais estranho do que ter um sonho conjunto e ajudar um fantasma a fugir de um mundo paralelo.

— Eu não consigo acreditar... — Tiago diz baixinho.

— Então por que está aqui? — Enrico lança um olhar mortal sobre ele.

— Não vamos ficar aqui igual crianças — Marcos tenta acalmar.

— Primeiro vamos começar do começo — Marcos diz e a sua mente sussurra (— Você é um infame por usar pleonasmo e deixar uma frase viciosa, seu inepto indecente).

— Por que eu sonhei com você? — Tiago olha para Enrico — Você tudo bem... — Ele direciona o olhar para Marcos — Mas você... — Direciona-o mais uma vez para Enrico.

Marcos está sentado ao lado de Enrico, enquanto Tiago está de frente para eles.

— Essa não é a questão... — Enrico bufa — Nós estamos prestes a morrer!

— Só se não fizermos nada... — Marcos olha para trás, em direção a bibliotecária que o olha de volta, instantaneamente ele dá um sorriso forçado e ela se convence, voltando a escrever em seus papéis surrados.

— Como vamos fazer alguma coisa? — Tiago diz em tom despreocupado.

— As inspetoras nunca saem do nosso pé... — Marcos pensa em algo.

— Durante o dia não será possível fazermos nada... — Enrico apoia os cotovelos na mesa e descansa seu queixo sobre as mãos.

— Que tal virmos aqui a noite, enquanto todos estão dormindo? — Tiago sugere — Eu vi quando vocês vieram naquele dia... era eu no bilhetinho embaixo da porta — Ele ri, mesmo o momento sendo sério.

— Seu filho de uma puta! — Enrico diz alto, chamando a atenção da bibliotecária que deu um leve salto de sua cadeira.

— Foi mal! — Tiago levanta a mão em sua direção.

— Nós quase morremos de medo! — Marcos diz irritado.

— Mas é uma boa ideia — Enrico fala — Podemos nos encontrar aqui à meia-noite.

— Mas e o livro...? — Marcos suspira.

— Nós podemos pegar ele e esconder... — Enrico olha-o.

— As inspetoras o achariam e todos estaríamos ferrados — Marcos balança a cabeça negativamente.

— Temos de pegar na noite de lua cheia — Tiago sussurra.

— Sim... — Os dois dizem em uníssono.

— Eu ainda não consigo acreditar que estou vivendo em um inferno... — Marcos diz ao dar um longo suspiro.

— As inspetoras são bruxas velhas — Enrico diz zangado — O diretor... como eu pude acreditar nele? Como eu pude acreditar...

— Acredita no que? — Tiago questiona.

— Eu vivo aqui porque ele deixou — Respondeu-o irritado.

— E se fugirmos? — Tiago sugeriu — Nós estaríamos livres de todos esses sufocos.

— Mas..., viveríamos assombrados pelos fantasmas... — Marcos sentiu calafrios.

— Não podemos esquecer do que o Pedro disse... devemos ter cuidado... devemos ficar atentos a quem quer que seja... — Marcos diz ao olhar para todos os lados — Será que todos aqui estão juntos com o diretor?

— Creio que não, mas se eles não estão juntos dele, além das inspetoras... eles também podem ser os próximos a morrer... — Enrico respondeu.

— Como iremos saber o dia certo? — Tiago os olha.

— A lua deve estar cheia em alguns dias... — Marcos responde.

— E como vai ser depois que isso tudo passar? — A pergunta ficou no ar e um longo silêncio se formou.

Os três apoiaram-se na mesa e ficaram se encarando. Tiago e Enrico com suas expressões irritadas e Marcos somente pensando em como será o fim de tudo isso.

Eles nunca poderiam imaginar que o diretor mata as pessoas para poder ter a vitalidade junto a suas esposas. Eles nunca poderiam imaginar que tudo isso se deve à ganância que ele teve. A sua ganância o fez virar um monstro.

— Se um de nós morrer!? — Tiago quebra o silêncio.

— Será um sinal de que eles sabem sobre a nossa aliança e que estamos prestes a destruir eles — Marcos diz então confiante — Eu não vou ser mais um bobalhão medroso!

A porta da biblioteca é aberta com tal força que os deixou assustados. Marcos pulou da cadeira, caindo de bunda no chão e reclamando de dor.

— Por que estão aqui, lixos? — A inspetora Euclávia lança um olhar demoníaco sobre eles.

— Não tínhamos nada para fazer e viemos para cá — Enrico responde com toda a calma do mundo.

O olhar lançado sobre eles é de desconfiança. Algo em sua intuição diz que está à deriva.

Na mesma noite do sonho, uma noite antes, Pedro foi capturado pelo Diretor Graça, que o levou de volta para o mundo eterno, onde não poderá mais sair de lá.

— Professores nojentos — Ela sussurrou — Todos vão morrer — Diz ainda mais baixo.

A inspetora se aproxima de onde eles estão. Chega bem perto de onde Marcos está caído e ele consegue sentir toda a sua energia negativa.

— Não adianta mentir para mim — Ela ri, mostrando os dentes amarelados e cheios de comida — Tenham cuidado com as paredes — Ela se vira e bate a régua na mão.

Após ela caminhar lentamente até a porta e de faro sair dali eles se olham. Uma certa tensão surgiu. O medo está de fato os consumindo e agora eles têm quase plena certeza que foram descobertos.  

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora