Capítulo XVIII - A árvore do medo

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A longa caminhada pela floresta foi intensa. Eles não poderiam de jeito nenhum se perderem da faísca de brilho amarelo, que os guia pela escuridão. Toda a caminhada serviu para chegar até uma grande árvore negra, sem folhas e com grandes galhos que chegam a se arrastar pelo chão. No seu tronco há uma espécie de boca, e ao redor existem dentes. Em seu interior está o velho livro e o medalhão sobre ele.

— É isto... — Enrico olhou para ele.

A faísca foi vista entrando no interior e se apagou. Uma leve brisa foi sentida e cessou.

— Acho que devemos pegar... — Marcos caminhou por entre os galhos e todas as folhas secas caídas no chão.

— E se for uma armadilha? — Enrico segurou seu braço, impedindo-o de prosseguir.

— Creio que não... — Ele continuou caminhando e se posicionou bem a frente.

Um barulho foi ouvido, enquanto todos os galhos da árvore se mexiam, formando uma espécie de cela, prendendo-o ali. A boca da árvore foi se fechando e os dois se desesperam.

— Eu te disse! — Enrico disse irritado — Era uma armadilha — Gritou.

— Socorro — Marcos gritou.

— Se quer o livro e o medalhão, o motivo me dirá — Uma grave voz foi ouvida.

— Quem está aí? — Enrico gritou.

— Eu sinto bravura..., mas o seu medo ainda é grande... — A grave voz diz.

— O que você quer? — Marcos diz amedrontado ao cair no chão em prantos.

— Me diga o motivo de querer o livro e o medalhão — A voz saiu ainda mais grave.

— Para destruir e libertar todas as almas... — Responde trêmulo.

— Prove!

— Como!? — Ele se arrependeu de ter perguntado isso.

— Para libertar todos, você tem de sacrificar o seu bem mais precioso... — A voz saiu seguida de um forte vento, que espalhou todas as folhas e fez os dois jovens tremerem na base.

Marcos pensou bastante e não conseguia pensar em nada ao que poderia ser referido.

— O meu bem mais preciso...? mas o meu bem mais preciso é a minha vida... — Ele diz olhando para o chão.

— Sim... — A voz saiu como um sussurro.

— Não! — Enrico gritou, se debatendo do outro lado.

Os galhos da árvore formaram uma espécie de prisão, onde separou Marcos de Enrico. Ele está de frente para a parte onde a boca da árvore estava aberta.

— A minha vida... — Marcos sussurrou — Se for assim... — Ele fechou os olhos e se levantou.

— Você não pode fazer isso? — Enrico gritou ao se agarrar aos galhos e tentou separar um do outro, mas de nada lhe adiantou.

— Se isso servir para salvar todos, eu estou disposto a fazer... — Ele ainda se mantém de olhos fechados e respira fundo.

Um longo e frígido galho começou a deslizar pelo chão cheio de folhas. Enrico notou a movimentação e começou a se desesperar. Marcos sentiu-o subindo pela sua perna, passando pela sua coxa, enroscando-se em sua barriga... passando pelo seu peito e se envolvendo em seu pescoço. O jovem sentiu uma leve pressão e abriu os olhos desesperado.

— Conte até três e seus olhos irão se fechar para sempre — A greve ecoou por toda a floresta.

— Por favor, não! — Enrico gritou.

Marcos fechou os olhos e contou um... sua vida começou a passar pela sua mente como um flash... dois... fechou ainda mais os seus olhos... três... sentiu o galho da árvore se afrouxando e saindo de seu corpo. Enrico que havia fechado os olhos em desespero para não o ver morrer, abriu-os e o viu sem nenhum arranhão.

— Mas... — Marcos tocou o seu pescoço, tentando checar se estava tudo realmente bem.

— Um homem corajoso de verdade doa a sua vida para ajudar outros, mesmo que estes não estejam em plano terreno — A voz diz um pouco mais amena — O livro e o medalhão são seus... — A cavidade começa a se abrir, logo Marcos consegue segurar o velho livro e o medalhão.

— Obrigado — Marcos sorri contente, mesmo ainda com certo medo.

Enrico vai até ele e o beija como se fosse o último beijo de suas vidas. Um beijo tão intenso que fez a própria árvore tremer.

— Nunca mais faça isso — Ele sussurra ao se separarem.

— Vocês precisarão dessa lâmina — Eles ouvem quando algo agudo cai dentro da cavidade da árvore e Marcos logo se recorda de que precisará de sangue — Vão até o meu galho mais comprido e quebrem-no, vocês precisarão de madeira — A voz cessa.

Enrico mais que rapidamente sai procurando o galho mais longo, enquanto Marcos pega a lâmina dentro da árvore, tomando cuidado para não se cortar. Ele consegue tomar tempo o suficiente para vagar por entre as páginas do velho livro e vê cenas peculiares, como a de dois rapazes sendo queimados vivos em uma fogueira, isso instintivamente o faz fechar os olhos e o livro com tal força que ecoou por toda a floresta.

— Consegui! — Enrico diz contente ao ter quebrado o galho e erguido, mostrando a Marcos.

Os dois se aproximaram e quando olharam para trás, viram a árvore se desfazendo em cinzas.

— Isso foi muito louco! — Enrico fala ao colocar a mão no peito.

— Eu vi uma imagem de dois garotos sendo queimados em uma fogueira... aqui dentro do livro... — Marcos fala com certo medo.

— Deve ser algo aleatório... — Enrico diz tentando acalmar — Sem sentido...

— Sério que você vai dizer isso depois de tudo o que passamos? — Marcos olha para ele incrédulo.

— Estressadinho — Enrico brinca e lhe dá um beijo.

— E agora...? — Ele respira fundo.

— Vamos voltar para lá... ainda estamos no prazo, já que tudo acaba na vida do ano e ainda estamos no final de setembro — Enrico responde.

Marcos olha bem atentamente para a surrada capa do livro. Depois olha o medalhão que parece ser de ouro, no meio existe um rubi azul. Ele o abre e o vê vazio.  

O Mistério do Internato (Livro Gay) - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora