Sua visão aos poucos foi se dando forma. Seus olhos ardem um pouco, mas mesmo assim ele os tenta abrir ao máximo possível, algo que inegavelmente falha. Há um colchão sob seu corpo, mas este parece mais uma pedra do que propriamente dito colchão. Os vários tons cinzentos vão de fato criando forma e logo ele está sentado, vendo nada e nada, a não ser um garoto sentado na cama a sua frente.
— Acordou, gay? — O garoto sentado diz aos risos — Achei que tinha morrido — Continuou a rir — Mas por sorte está vivo e, bem-vindo ao inferno.
Marcos o procura (um pouco ainda desnorteado) e então encontra a quem pertence a voz. Um garoto risonho, que está deitado olhando diretamente para ele. Sem camisa e somente com um lençol fino cobrindo metade do seu corpo, alguns poucos músculos se forma, prendendo uma leve porcentagem de sua atenção. Logo se senta, para olhá-lo melhor.
— Como!? — Coçou os olhos — Ainda estranhando tudo aquilo — Onde eu estou?
— Para mim não precisa mentir, eu conheço um gay quando vejo um — Ri mais uma vez — Ah, antes que me pergunte novamente, você está no meu quarto... bom, no nosso quarto.
— Como sabe que sou gay? — Questiona-o
— Simples, eu também sou gay — Fez pouco caso e puxou um cigarro do bolso de sua calça cinzenta — Um gay sempre reconhece o outro — Sorriu, ainda se manteve sentado, mas desta vez analisando-o.
Isso não assustou Marcos, ele já havia fumado uma vez, quando criança. O que lhe deixou assustado foi o fato de alguém está fumando dentro de um lugar tão rigoroso, pelo menos é assim que ele o vê.
— Por que tudo tão...?
— Cinza!? — Riu ao dar uma tragada — Às vezes gosto destas tonalidades, no entanto, cinza demais chega a ser perturbadoramente irritante.
— Isso.
— Não sei. Desde que eu cheguei a esse lugar é sempre cinza e anualmente pintam novamente de cinza e mais cinza.
— Tem quanto tempo que está aqui? — Direcionou o seu olhar para baixo, pensando no porquê de ter decidido ir para esse lugar. Talvez a decisão repentina implicasse em arrependimentos futuros.
Marcos teria a possibilidade de ir morar com alguns de seus amigos, mas lembrou-se que seus pais (dos amigos) nunca deixariam ele ficar em suas casas, certamente por eventuais motivos. Antes de viajar, dois dias antes, durante a noite, ele enviou para todos os seus amigos o endereço do ISM para que eles lhe pudessem escrever.
Marcos está em seu quarto, preocupado com tudo o que o que poderá acontecer. Deitado em sua cama, ele escreve uma pequena cartinha e a programa para ser enviada para seus amigos, dentro de dois dias, quando ele irá embora de casa, rumo a algo completamente desconhecido por ele.
Em seu rosto podem ser notadas algumas lágrimas, mas não de arrependimento, apenas remorso por ter nascido em uma família tão preconceituosa. Mas pensando-se de um lado tão pessimista, pode até ser favorável para o caráter de quem o sofre. Moldes sempre são feitos da imperfeição para serem perfeitos.
Eu estou escrevendo isso aqui, porque dentro de dois dias eu estarei indo para um Internato. Se meus pais não me aceitam do jeito que eu sou, então, talvez, outras pessoas possam sentir o que eles não sentem. Vivi um engano e a partir de hoje não o viverei mais. Se quiserem me mandar algo, peço que mandem para o endereço de lá (carta). Eu os amo muito, e amo ainda mais vocês que ficaram do meu lado, mesmo depois de eu ter me assumido (pelo menos só para vocês.
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O Mistério do Internato (Livro Gay) - Completa
Science FictionMarcos muda-se para um internato por conta própria, em virtude de ser gay. Ao mesmo instante que conhece Enrico - diferente de todos os garotos que existem dentro do ISM. Ele se depara com acontecimentos peculiares. Nada ali é normal. De momento sur...