03

325 32 72
                                    

𝖣𝖤𝖭𝖵𝖤𝖱
¹⁹⁷⁸

𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗡𝗔𝗠𝗘

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗡𝗔𝗠𝗘

OUÇO OS GRITOS DE FELICIDADE da minha mãe assim que a mais velha adentra a residência. A mesma estava com sacolas de supermercado cheias e com uma alegria que não é do seu feitio. Eu poderia estranhar e até me dar o luxo de supor algo, mas aposto que os meus comentários não seriam levados a sério.

Talvez isso deve ser alguma benção divina enviada para mim, pois terei que contar a mulher como fui na prova da primeira unidade e como não passei nas recuperações, ficando assim abaixo da média e ganhando uma bela nota vermelha no meu boletim. Poderia adiar esse meu encontro com a morte, contudo, ficaria a mercê das chantagens da minha irmã mais velha. Eu realmente não faço ideia qual dos dois é pior.

— Vai contar mesmo para a mamãe? Ela vai ficar muito brava — a loira insinua escovando seus fios rebeldes para o seu encontro no Drive-in.

— Acho melhor do que mentir — insinuo e a garota olha mortalmente para o meu reflexo no espelho.

— Olha, a mamãe já passou por muita coisa e eu não quero ver ela se estressar por sua culpa... Sabe... Eu sou uma boa filha — diz cínica colocando a escova na penteadeira — Você deveria ser uma boa filha também e poupar ela da decepção.

Decepção... Ah, que palavrinha mais chata, incomoda-me tanto que nem sei como descrever. A loira está certa, mas ao mesmo tempo está errada. Entendo que a mesma está apenas fazendo mais um dos seus joguinhos mentais idiotas para fazer-me cair e tirar proveitos de mim, porém, do mesmo jeito, eu não consigo parar de pensar nisto, não consigo parar de pensar que posso ser uma completa decepção para a minha mãe.

— Eu posso muito bem omitir as suas notas, irmãzinha, mas... Essas coisas tem um preço — olho para a garota e reviro meus olhos — Não sei o que te cobrar agora. Então coloca na conta, tudo bem? — pergunta e começa a caminhar em direção a porta.

Por alguns segundos, pego-me torcendo para que seus saltos finos vermelhos quebrem e faça a mesma descer às escadas se enrolando pelos degraus. Um pouco cruel da minha parte, mas é o que desejo nesse momento para minha querida irmã.

— Eu te odeio do fundo do meu coração, espero que você suma! — peço arrumando a minha cama e deitando-me para dormir.

[...]

Encaro um dos cartazes na cerca da escola que anuncia um um grande jogo em junho entre os alunos de uma outra escola que o nome desconheço, em poucas palavras, haverá um interclasse e eu havia esquecido-me disso por completo. Todos parecem animados com a notícia e também estou um pouco, pois isso lembra-me os jogos que aconteciam no Brasil.

— Vai assistir? — ouço uma voz masculina atrás de mim e viro para ver quem era.

Em minha frente, aparece um garoto de cabelos morenos repartidos ao meio e como acessório utilizava uma bandana. A pele do menino é levemente bronzeada e uma de suas mãos estava com um curativo aparente. O garoto encara-me com os braços cruzados.

— É-É, eu vou sim — respondo e encaro o mesmo — Você vai jogar? — pergunto ao mesmo que nega.

— Não, perguntei só por curiosidade — fala rindo e descruza seus braços, estendendo sua mão em minha direção — Robin; Robin Arellano.

— S/n... S/n S/s

— Não é daqui, suponho — fala sorrindo sem mostrar os dentes e começa a caminha junto a mim em direção a escola.

Enquanto passamos pelo corredor, percebo que o moreno é enjoativamente sociável, acho que posso descrevê-lo dessa forma. Fora que ele também é temido por alguns garotos, reparei nisso após um grupo de meninos abrirem caminho para o menino enquanto ele encarava seriamente um dos integrantes, apenas para brincar com eles e o medo deles.

— Uau, que demais! — digo tentando segurar o riso. O mesmo manda-me esperar enquanto passávamos por mais um e ele novamente encara o rosto do garoto seriamente que até derruba os livros com o olhar do mexicano.

Hazles daño, no te harán daño fala em espanhol e apenas concordo forçado para o garoto — Um dia eu falo para você a tradução, enquanto isso... Melhore o seu espanhol para hablar comigo, chica.

Levanto meu dedo do meio com a sua fala e o menino ri, acabei dizendo algumas palavras que poderiam afetar o psicológico de uma pessoa, mas não o mesmo.

Sua forma confiante e um tanto que convencida, é bem engraçada e invejada por mim, mesmo que a maioria das vezes ele abuse do poder que tem para assustar pessoas aleatórias.

Entro na sala e sento-me em uma cadeira distante do meu professor que tem uma estranha animação em todas as aulas, também é um pouco lerdo para entender frases simples ditas pelos alunos e sempre está sorrindo para o completo nada; sua vida parece feliz.

— Veio tomar mais um zero? — pergunta uma garota sentada atrás de mim e ignoro a mesma, que não sente-se nada feliz — Ei! Eu falei com você.

— É... E eu não te respondi, significa que eu não quero conversar com você — explico para a mesma e pego meu livro o folheando.

Antes da menina responder mais uma vez, o professor anuncia que a aula irá começar e que não queria ninguém fazendo nenhum barulho, pois ainda queria escutar o som do mar que há em sua cabeça. Olho estranha para o mais velho que não presta atenção.

O homem começa a dar a sua aula e sinto que irei morrer se ficar mais um segundo aqui. Abaixo minha cabeça e acabo ficando imersa em meus pensamentos.

A vida de estudante não deve ser tão ruim assim, se colocarmos a vida dos adultos que me rodeiam em comparação. Essa parece ser a vida dos sonhos, mesmo que haja histórias ruins por trás delas.

Ouço sempre os mais velhos dizendo que amariam voltar no tempo não época em que eram crianças e não tinham nenhuma preocupação. Portanto, acho que eles ficariam surpresos se eu dissesse a eles que agora, sim, as crianças tem preocupações; muitas até. Teorizo que a culpa deve ser do tempo, quanto mais inteligentes ficamos, mais dor causamos em nós mesmos, deve ser isso.

Puta que pariu, dessa vez eu viajei legal...

━━━━━━ 𑁍 ━━━━━━

𝐌𝐘 𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐑𝐎𝐁𝐈𝐍 | ʳᵒᵇⁱⁿ ᵃʳᵉˡˡᵃⁿᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora