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𝖡𝖱𝖠𝖲𝖨𝖫
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𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗡𝗔𝗠𝗘

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𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗡𝗔𝗠𝗘

CORRIA ATRÁS DO MENINO que ria da minha cara por não estar alçando ele com facilidade, eu também ria, já que era uma situação bastante engraçada para todos que brincam do jogo.

Tinha conseguido acertar todas as sete pedrinhas apenas de uma vez, além de conseguir pegar todos rapidamente, contudo, o menino que corria desesperado como se sua vida dependesse disso, tornou-se o garoto mais difícil de pegar.

Jogo a bola e o menino agacha-se, mas ouço o barulho seco de quando algo bate em alguém, levanto o meu olhar e percebo que acabei acertando em um militar; ele cuidava da área para certificar que todos adoravam o novo comandante. O homem vira-se e acabo sorrindo em sua direção.

- Papai! - falo e abraço o maior sorridente - Não sabia que iria trabalhar até essa hora - digo enquanto ele me carrega.

- É, vou ter que trabalhar até mais tarde... Falando em "tarde", você sabe que não pode ficar na rua até essa hora - lembra e desvio o olhar - Há homens maus aqui fora.


Meu pai sempre alerta-me sobre esses caras maus e tinha me explicado sobre o tempo em que vivíamos, ele disse que um homem muito poderoso governava o Brasil e dominava ele, se eu não o obedecesse, poderia ser mandada para um lugar muito ruim. Eu não quero isso.

- Ei! Militar! - ouço uma voz atrás do meu pai e vejo um homem que se surpreende ao me ver - Oh, S/a! - fala e aproxima-se - Sabe que ela não pode ficar aqui! É perigoso!

- Eu já estava mandando ela entrar, Joaquim! - meu pai fala para o seu amigo que revira os olhos - Pegue essa bola e fale para o seu amiguinho entrar, depois faça o mesmo. Lembre-se, há homens maus lá fora - diz e desce-me dos seus braços.

Joaquim entrega-me a bola e aceno para me despedir dos mais velhos. Corro em direção ao garoto digo ao menino o que meu pai mandou-me dizer a ele, que concorda sem questionar. Quando estou indo para casa, vejo meu pai fazer sinal para eu me esconder atrás da parede próxima, por causa que um carro preto aproximava-se, e do veículo saiu o general.

- Soldados, o que fazem aqui? - pergunta o homem encarando meu pai e o seu amigo.

- Fazendo uma rápida checagem, Senhor! - responde e o homem assentiu. Ele deveria saber que era mentira, eu acho; mas eu sei que é mentira! Então, ele também sabe que é mentira.

Adultos não devem ser os seres mais inteligentes desse planeta, acho que comandam as coisas por serem mais altos que as crianças.

Enquanto penso sobre como o general é burro, acabo deixando a bola cair, o que faz um barulho leve, mas ainda sim chama a atenção. Poderia ter parado aí, contudo, o brinquedo vai girando para a estrada e isso faz o general olhar para ambos os soldados a sua frente.

Meu pai vira-se e encara-me assustado, suspirando profundamente e caminhando em direção a bola que está centímetros de distância de mim. O mais velho pega e caminha novamente em direção ao seu superior, mostrando-lhe o objeto.

- Uma bola de uma criança... Uma criança - fala dando ênfase.

O general analisa o objeto que meu pai tem nas mãos e antes de falar algo, ouço a porta da casa que estou escondida sendo aberta, e vejo a mulher saindo, no caso, minha mãe. Ela caminha com seus saltos barulhentos em direção ao homem e aparenta tentar convencer ele de algo.

- Deve ter caído da janela... Sabe, meu filho tem muitas dessas bolas de futebol - comenta rindo, o que mentira. Ela tem apenas a mim de filha, nunca pensou em ter um menino ou ter um segundo filho - Obrigada por ter achado soldado! Com o seu governo, está sendo bem melhor viver! - diz pegando a bola.

Antes do homem poder falar alguma coisa, minha mãe caminha em direção a casa novamente, e olha-me como se dissesse que era para eu ficar quieta enquanto o mais velho estivesse ali. Respiro fundo e sento-me passando meus braços em meu joelho, apoio minha cabeça em minha perna e espero os longos minutos passarem.

[...]

Jantamos calmamente, enquanto minha mãe defendia o ponto da mesma de ter ido me defender o general, mas por outro lado, meu pai brigava pelo fato da mulher ter enfrentado o homem e não ter ao menos pensado nas consequências do que poderia acontecer com ela.

- Nada iria acontecer comigo. Amor! Fique calmo - diz enquanto enrola o macarrão no garfo.

- Eu sei, mas querida... Eu não sei o que posso fazer se eles pegarem alguma de vocês duas... Odeio a ditadura! - comenta e acabo rindo, o que chama a atenção de ambos - O que foi, meu amor?

- Vocês brigando são engraçados. Não estão brigando como a vizinha e sim, porquê querem ver quem mais protege quem... Isso é legal - digo rindo e minha mãe sorri junto ao meu pai.

- Sinto que temos sorte de ter uma estrelinha tão esperta como você - ouço a voz da mulher dizer docemente.

Antes do meu pai poder falar algo, ouvimos uma pessoa bater rapidamente na porta, e minha mãe caminhou para abrir a mesma. Militares entraram em minha casa e andaram até a mesa aonde encontrava-se meu pai, puxaram o mesmo brutalmente da cadeira, enquanto o mais velho encara eles confuso.

- O que vocês estão fazendo? Vamos! Solte ele! - minha mãe manda e caminho ao seu lado, abraçando suas pernas e segurando-me forte em sua saia longa - Soltem o meu marido!

- Recebemos denúncias. Não podemos fazer nada em relação a isso - diz o homem e olho de relance para o carro preto que esperava meu pai - Se despeça dos seus familiares, senhor. É a última vez que verá eles.

Meu pai encara-me e depois muda o olhar para minha mãe, o homem solta-se dos guardas e abraça a mais velha que encontrava-se aos prantos por causa da ida repentina do mesmo, meu pai agacha-se e alisa meus cabelos, depois puxa-me em um abraço apertado.

- Eles são os homens maus, não é? - pergunto baixo. Nunca tinha visto eles, nunca soube o que precisamente acontecia quando eles eram levados pelo carro preto, contudo, sabia que ele nunca mais voltaria - Não é, papai? - pergunto chorosa para o mais velho.

- São, querida... São eles sim - diz e desfaz o aperto limpando minhas lágrimas. O homem também tinha seus olhos marejados, mas havia um sorriso tranquilizador em seu rosto - Proteja a mamãe, protege ela pela gente, tá bom? - assinto para ele.

Os homens puxam meu pai e levam ele para o carro preto. Observo o homem que estava em frente ao carro e percebo que é o amigo do meu pai de mais cedo. O mais velho parece gritar com ele e chamar ele de alguma coisa, enquanto ele apenas se mantém com um sorriso estranho em seus lábios, porém sua feição muda ao caminhar para o lado da minha mãe.

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𝐌𝐘 𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐑𝐎𝐁𝐈𝐍 | ʳᵒᵇⁱⁿ ᵃʳᵉˡˡᵃⁿᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora