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𝗥𝗢𝗕𝗜𝗡 𝗔𝗥𝗘𝗟𝗟𝗔𝗡𝗢

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𝗥𝗢𝗕𝗜𝗡 𝗔𝗥𝗘𝗟𝗟𝗔𝗡𝗢

A MORENA CANTA A MÚSICA QUE TOCA no rádio. A mesma estava dançando na cozinha enquanto o cheiro da sua comida espalhava-se pela casa. A mulher me olha e sorri afetuosa, retribuo seu gesto. Ela estava fazendo um prato que, para ela, era o ápice da culinária por ser o seu favorito, eu não sou fã, mas a minha mãe ama e como para vê-la bem.

Pozole, para o meu menino — diz servindo enquanto encaro o prato receoso, já recebendo uma encarada da mais velha — Hijo, não olhe-me desta maneira! Comemos o que você queria ontem! — argumenta.

— Eu sei, mamá... É que eu não gosto, me sinto mal comendo — comento.

— Só porquê não gosta de sopa — reformula a minha frase e acabo rindo, concordando — Ah, tinha me esquecido de te falar. Aquele seu tio americano... Ele irá passar aqui! — diz animada.

Minha mãe sempre se animou com essas coisas, ela sempre ficou feliz quando o irmão do meu pai vinha, não entendo o motivo, ele apenas falava sobre suas experiências e nada mais.

— Diz que ele aprendeu espanhol...! Eu não aguento mais ele vim aqui e eu ter que ficar falando "americano" — reclamo e a mesma corrige-me dizendo que o modo certo de dizer é "inglês" — É a mesma coisa!

— Se você diz... Não quero que fale "mexicano" com ele, quero que fale "americano" — brinca a mulher e começo ri junto a ela.

Antes de falarmos mais alguma coisa, ouço a porta ser aberta, meu pai havia chegado. Meu sorriso saí do meu rosto e minha mãe encara-me penosa, ela sabia que eu entendi o que acontecia, ela sabe disso, mas prefere esconder para que, em suas palavras, minha infância não seja afetada.

Junto ao mais velho, está o meu tio que sorri para todos. Eu não sei inglês, não muito, sei apenas cumprimentos que meu pai havia me ensinado, fora isso, não me importei em aprender, nunca sairei do meu país.

How is my little nephew? — pergunta e traduzo a frase mentalmente. Demoro um pouco para entender o que ele perguntava como eu estava, já que as duas últimas palavras eram desconhecidas para mim.

— Estou bem — respondo em espanhol e vejo meu pai me encarar — O quê? — pergunto ao mais velho.

— Me esqueço que o meu filho não entende inglês... Sabe que é o idioma do papai, certo? — pergunta.

— Sei, mas eu não me interesso. Gosto de falar espanhol; o idioma da mamãe — dou ênfase na palavra que se refere a mais velha que acompanha a briga.

O moreno me encarou confuso e depois observou a mais velha, que abaixou a sua cabeça e continuou tomando a sopa calada. Ela já tinha cumprimentado meu tio brevemente, então, não precisava falar mais nada em sua percepção.

Meu pai disse que meu tio iria dormir no meu quarto, enquanto ele e minha mãe teriam uma pequena conversa. Então, o mais velho foi comigo para cima e começamos a conversar sobre coisas aleatórias, eu tive que pegar meu dicionário para entender o que ele dizia, mas até que foi uma conversa divertida.

Eu... Tenho... 8 de idade — falo em inglês e ele ri.

I should definitely learn Spanish, it would be easier for you — fala em inglês, enquanto concordo com o que ele diz, fingindo que entendi alguma palavra.

O homem encara as palavras no dicionário e aponta para cada uma delas, formado a frase em espanhol. Ele disse seria bom descermos para comermos alguma coisa, pois estávamos tempo demais no quarto.

Concordo e vamos em direção a escada. Ouço gritos vindo da sala e meu tio também, que encarou confuso a situação, e eu não estava muito diferente do mais velho. Desço às escadas e deparo-me com a minha mãe chorando em um canto próximo a porta de casa, e meu pai encontrava-se furioso com um cinto em suas mãos.

— Pai...? — chamo o mesmo e ambos me encaram assustado. Já havia ouvido gritos da mulher, mas ela tinha me garantido que não era nada, que eu não precisava me preocupar.

— O quê? O que diabos essa criança está fazendo aqui!? — pergunta — Get that boy out of here! Now! — grita o homem paga meu tio, que toma a frente da situação.

Get the kid out of here? I should call the police! What the fuck are you doing? You're hitting your wife! — aproxima-se do meu pai que empurra o mais velho.

Não consigo entender nada o que eles estão falando, o que em deixa ainda mais apreensivo. Minha mãe sussurra dizendo alguma coisa, ela manda-me subir para meu quarto, garantindo que está tudo bem e que eu não preciso, de forma alguma, me preocupar.

Tentei descer um pouco mais os degraus da escada, chegar um pouco mais parto da minha mãe; mas, infelizmente, meu pai apareceu em minha frente e não estava nem um pouco feliz.

— O que está fazendo com a mamãe? — pergunto ao mais velho. Entendo muito bem o que está acontecendo; mas não quero acreditar que isso está mesmo acontecendo.

Meus pais sempre se amaram, eles sempre se gostaram, eles nunca brigavam em minha frente... Há alguns dias, eles pareciam distantes, mas eu não achei que era algo muito grave, vejo que estava errado, que estava muito errado.

Meu pai manda novamente eu sair do cômodo em que estava a minha mãe, mas nego. Não quero deixar ela sozinha aqui, não posso deixar a minha mãe sozinha aqui. Não com esse monstro que finge ser meu pai.

Tento correr em direção a mais velha, mas o homem segura fortemente meu braço, jogando-me para sua frente novamente, me impedindo de ir.

— ME SOLTA, SEU COVARDE! — grito debatendo-me em seus braços — MAMÃE! — grito para a mulher que não parava nem por segundo de chorar.

For God's sake, let the child go! — meu tio fala indo para cima do meu pai. Antes dele chegar até o mais velho, minha mãe se pronuncia.

Let my son out of here, let him go to his room... Let him rest... And I promise, I truly promise that I will be a better wife for you. Deixe o menino ir — diz a única frase que consigo entender.

Meu pai solta-me brutalmente e meu tio pega-me no colo. Abraço o mais velho enquanto observo que ele sobe às escadas, ele falava as únicas frases que sabia em espanhol, que no caso, era dizer que tudo estava bem e que nada havia acabado de desmontar em minha frente.

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𝐌𝐘 𝐃𝐄𝐀𝐑 𝐑𝐎𝐁𝐈𝐍 | ʳᵒᵇⁱⁿ ᵃʳᵉˡˡᵃⁿᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora