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          Acordei no dia seguinte com o som mórbido do despertador tocando. Isso teria me animado, se eu não estivesse escutando o barulho para me arrumar para as aulas do dia. Fiz minha rotina de higiene pessoal calada enquanto Enid comentava quão animada estava por agora estar oficialmente "ficando sério" com Ajax e, por coincidência, sua primeira aula do dia seria arco e flecha com ele.

     Eu nunca entendi o conceito de "ficando sério", por mais que ela já tivesse me explicado sete vezes que era quando duas pessoas estavam se pegando "sem compromisso" mas apenas com aquela pessoa. E eu expliquei para ela que isso era literalmente a definição de compromisso. Eu devo ter complicado ainda mais a vida dela ao perguntar a diferença entre isso e namoro, já que ela não conseguiu me responder e só disse que eu devia estar com sono e devia dormir para isso passar. Não passou, porque eu ainda tenho essa dúvida, mas não é algo que eu estava interessada em descobrir.

     Eu fiquei com a aula sobre flora mortal na estufa, mas confesso que não estou curiosa para saber quem será a novo professor. Contanto que essa pessoa não tente matar todos os excluídos e destruir a escola já está relativamente bom.

     Depois de sairmos do quarto, fomos até o Pentágono para tomar café e logo em seguida, cada uma de nós foi para sua respectiva primeira aula. Quando cheguei na estufa, vários alunos já haviam chegado e tinham escolhido seus parceiros de mesa para o ano. Também pude ver Xavier sentado sozinho em uma mesa desenhando em um de seus cadernos uma Nerium Oleander, também conhecida por Espirradeira, uma das plantas mais mortais do mundo. Ele provavelmente a viu perto de uma janela na estufa e decidiu pintá-la para não ficar entediado.

     Não queria arriscar me sentar sozinha e ficar com alguém desconhecido pelo ano inteiro, então conclui que a melhor opção a ser tomada era sentar ao lado dele, já que pelo menos eu o conhecia e tinha quase certeza de que ele não tentaria me matar. Afinal, será só algumas vezes por semana, não é como se eu fosse ter que aturá-lo a todo momento.

     Me sentei ao seu lado e comecei a tirar meus materiais enquanto a professora - ou professor - não chegava.

     — Bom dia, Addams. Aconteceu alguma coisa de errado?

     — Não, está tudo normal. Por quê?

     — Veio se sentar do meu lado sem eu ter que te falar que ele está vago. Veio tentar descobrir se sou algum assassino?

     — Muito engraçado. Já que está tão claro que você está desconfortável, acho melhor procurar outro lugar para sentar.

     — Não! Tá de boa, você não precisa mudar de lugar.

     — Eu estava me referindo a você.

     — Ah, claro. - ele fala em um tom sarcástico - Mas enfim, parece que vamos passar um bom tempo juntos, não?

     — Para sua felicidade, sim, Xavier. Mas não exagere, não é como se vamos ficar grudados um no outro. Isso é só uma parceria obrigatória para fins botânicos e acadêmicos.

     — Você diz obrigatória, mas foi você quem escolheu sentar aqui. Comigo.

     — Sim, era a minha opção menos ruim.

     Xavier deixa escapar uma risada baixa e antes que ele pudesse comentar algo mais, passa um homem de estatura mediana e cabelos desgrenhados castanhos com mechas grisalhas bem ao seu lado, o fazendo dar um pulinho de susto. Ele parecia estar na faixa dos cinquenta anos e parecia ter sido eletrocutado, pois suas roupas tinham partes escuras, provavelmente queimadas e seus cabelos estavam em pé como os daquele cientista padrão estranho... Albert Einstein. Ainda tenho dúvidas de que ele não era padrão, duvido que alguém em sã consciência decida estudar física por livre e espontânea vontade.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora