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     Não consegui pensar muito bem pelo resto do dia. Tentei manter o foco nas aulas que sucederam minha conversa com Xavier, mas foi em vão. Eu não ia deixar ninguém perceber, claro, mas eu percebo que minha cabeça não está muito certa hoje. Agradeci quando todas as aulas do dia acabaram e eu pude voltar para o quarto, onde podia ficar sozinha com meus pensamentos.

     Sozinha até certo ponto, na verdade. Estava sentada confortavelmente na cama por volta das oito da noite lendo um livro sobre serial killers mulheres que Enid me deu quando ela simplesmente abriu a porta do quarto e começou a falar sobre um documentário sobre a trajetória da Taylor Swift e em como ela estava ansiosa para assistir comigo.

     Eu não sabia bem quem era essa, mas Bianca falou que ela tinha um monte de ex-namorados e escreveu várias músicas para eles. Já Enid só fala que é um "estilo de vida" e a "razão da sua existência".

     — A gente tem que assistir isso!

     — Acredite, vai ser pior se eu assistir porque vou fazer questão de deixar essa experiência o mais desgastante possível para você.

     — Por favor! Eu nunca te pedi nada!

     — Nos últimos segundos, só se for.

     — Por favor, você não tá fazendo nada de legal. A gente precisa fazer atividades juntas para fortalecer os laços da nossa amizade e isso só é possível no nosso tempo livre, já que a maioria das nossas aulas são separadas.

     — Deixa os laços frouxos mesmo. Todas as minhas relações interpessoais são assim.

     — Por isso mesmo! Você não pode ficar desse jeito! - ela falou, indignada, mas depois se acalmou e continuou - Tudo bem. Já que você não quer assistir ao documentário comigo, você vai ter que aceitar fazer outra programação.

     Estreitei meus olhos e hesitantemente perguntei:

     — Que tipo de programação?

     Ela deu um sorriso largo e depois começou a gargalhar com Mãozinha ao seu lado, como se eles já tivessem planejado isso. E eu sinto que é algo que eu provavelmente não vou gostar.

                                        ...
  
    — Você ainda quer assistir aquele documentário? Acho que eu prefiro.

     — Nem pensar, você recusou então agora lide com suas consequências - ela disse enquanto Mãozinha passava um esmalte "cintilante" por cima do esmalte preto que ainda precisava secar e Enid penteava meus cabelos soltos e fazia pequenas tranças nas laterais da minha cabeça. Isso tudo com sua caixa de som tocando alto a música "champagne problems", da Taylor Swift.

     — Não sei por que você inventou de fazer isso no meu cabelo sendo que eu vou dormir e amanhã eu vou desfazer tudo.

     — Eu quero ver você tentar! Olha, não me leva a mal, eu amo suas tranças, mas talvez você possa acabar gostando de algo novo.

     — Eu não gosto de mexer em time que está ganhando. Prefiro manter sempre o mesmo porque sei que isso não vai me decepcionar.

     — Ou vai ver te decepciona mas você nunca vai saber porque você se acostumou e nunca experimentou algo que não te deixe decepcionada.

     — Ainda estamos falando sobre cabelo?

     Enid sorri, tomando bastante cuidado para não deixar um fio fora do lugar e não errar nenhuma trança, já que ela sabe que eu não deixaria que ela a refizesse se errasse. Isso seria tortura demais e até eu tenho um limite para isso.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora