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     O choque de saber que uma aluna de Nunca Mais tinha misteriosamente se matado não me causou tanto impacto quanto achei que causaria. Não quando tive uma visão há poucas horas da última pessoa que a viu com vida depois que fui atormentada com mais uma mensagem do Número Desconhecido. Coincidência demais. E eu não acredito em coincidências.

     A princípio, pensei se deveria fazer um mapa mental de tudo que eu já sabia, tanto em relação ao stalker quanto ao suicídio dessa menina. Mas logo, caiu a ficha de que eu não sabia quase nada sobre a segunda ocorrência, então me perguntei o que qualquer pessoa normal faria nesse momento. Provavelmente, descansaria e no dia seguinte iria falar com o xerife sobre o ocorrido. Em seguida, joguei essa ideia pela janela e fiz exatamente o contrário: comecei a arrumar uma mochila para ir em direção ao local do corpo. Enid comentou de um riacho e de trilhas, então eu tinha mais ou menos uma ideia de onde ela se referia.

     Mãozinha parecia mais do que satisfeito em sair depois das nove da noite para tentar obter informações desse suicídio, ao contrário de Enid, que ainda parecia muito afetada.

     — Você tá louca! Só pode! Mais louca do que o normal! Eu não vou deixar você sair sozinha, de noite, depois do toque de recolher só para você ver o local onde uma colega nossa foi encontrada morta!

     — Enid, se acalma. Eu não vou sozinha. Mãozinha vai comigo. Eu estou em ótimas mãos. -  eu concluí com um leve sorriso.

     — Se você acha que ficar de piadinhas vai me fazer mudar de ideia, esquece! Você não vai! Nem que eu tenha que te amarrar nessa cama!

     — Ah, por favor, nós duas sabemos que eu me soltaria em dois minutos.

     — Por favor, eu to tendo um ataque aqui e você vai simplesmente me deixar sozinha? É sério mesmo? Esse mato tem todos os tipos de criaturas estranhas e assassinas. Não foi você que catalogou mais de quarenta espécies que poderiam te matar lá? E isso foi só de plantas. Tá tarde, escuro, é perigoso e você com certeza vai pegar carão por ter saído depois do toque de recolher.

     — Qual é, você acredita mesmo que essa menina se matou? Sendo que a última pessoa que foi vista com ela voltou tranquilamente para escola sem ela e não disse para absolutamente ninguém? Nem fez questão de saber se ela estava aqui ou não. Além disso, por que ela se mataria com ele lá e no meio de um trabalho escolar? Por que ele voltou sem ela? Essa história está extremamente mal contada.

     — Porque ela acabou de ser reportada! Amanhã a polícia com certeza vai interrogar esse menino e as pessoas do círculo de convívio dela. Você acabou de descobrir essa história e já tá especulando um monte de coisa sendo que não deu nem tempo de você ter as respostas das suas perguntas.

     — Você tem parte do seu argumento válido. Mas eu não acredito em absolutamente nada do que você disse. Preciso ir até lá agora para tentar coletar provas frescas. Se essa menina não se matou, eu vou descobrir quem matou. E caso ela realmente tenha feito, eu descubro por quê.

     — Você tá dando uma de investigadora sendo que esse trabalho é perigoso e é da polícia.

     — Acredite, se a polícia fosse fazer o trabalho dela, eu não sairia do meu conforto para investigar isso.

     — Isso é mentira.

     — Correto. É mentira. Por isso que eu preciso ir agora. E só para você não se preocupar, chamei o Ajax para ficar com você até eu retornar. Apesar de ser teimosa o bastante para não obedecer às suas súplicas, não sou tão maligna a ponto de te deixar aqui sozinha.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora