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     Eu não imaginei que a pessoa que eu ia tentar extrair informações sobre o caso fosse assassinada antes que eu pudesse interrogá-la com mais cuidado. Mesmo assim, não fiquei surpresa com a morte dele. Afinal, se eu fosse uma assassina e não quisesse que um relacionado a mim fosse interrogado, eu também o mataria antes que ele tivesse a chance de me entregar. Entretanto, confesso que toda essa cena me fez notar que de fato, as coisas estão mais ligadas do que pareciam estar.

     Xavier me tirou da minha linha de raciocínio quando me perguntou se ele deveria ir chamar a Weems. Ele parecia melhor e menos horrorizado, mas o medo puro e genuíno em seu olhar ainda era nítido. Eu assenti. Trancamos calmamente a porta do quarto e fomos em direção à diretoria tentando ao máximo parecer normais para não chamar atenção desnecessária. No fim das contas, a diretora não ia abafar o caso da morte do Eric e todo mundo na escola saberia mas no momento, discrição era o melhor para todos.

     Chegando à sala, assumi o controle da situação, já que Xavier não estava em condições para sequer mencionar a cena que ele presenciou, e expliquei para a diretora que ela deveria ver ela mesma o que tinha ocorrido e em seguida acionar a polícia. Nós três retornamos ao quarto e ela ficou horrorizada ao ver mais um de seus alunos sem vida. Imagino que ela deve se sentir no mínimo culpada por isso, ainda que ela não seja, mas preciso que ela mantenha o foco para lidarmos com a situação da melhor forma possível.

     Acontece que a diretora não parecia tão calma depois que saímos da sua sala, o que atraiu vários olhares curiosos que a seguiram até o quarto do Eric e começaram a espalhar para toda Nunca Mais sobre o aluno morto. Belo começo. Mas não diria que foi de todo tão ruim, pois eu pude avistar o rosto pálido de Kent, um sereiano amigo de Bianca, olhando assustado para o cenário por alguns minutos ao colocar somente a cabeça para dentro do quarto e depois seguir seu caminho pelo corredor de forma atrapalhada. Aparentemente, eu não tinha pista alguma sobre o caso, já que o assassino teve todo o cuidado de limpar seu trabalho sujo, mas pelo menos eu poderia começar por Kent.

     Talvez vocês estejam pensando que eu já vou sair em uma empreitada para acusar outro adolescente de um assassinato que ele pode não ter cometido baseada das "vozes da minha cabeça", mas garanto que não é. As vozes não me falaram nada.

     Eu aprendi que os olhos são uma das partes mais expressivas do corpo, pois mesmo que você minta e toda a sua linguagem corporal minta com você, seus olhos nunca vão conseguir fazer o mesmo. Estudei todos os tipos de medo no olhar das pessoas quando alguma catástrofe acontece. O medo desesperador. O medo curioso. O medo desacreditado. O medo chocante. Mas o medo que eu vi no olhar de Kent era um completamente diferente e que talvez mais pessoas tivessem reparado se não estivessem preocupadas demais com o sangue se espalhando cada vez mais pelo banheiro. O medo culpado.

     Não conheço Kent bem o suficiente para saber se ele poderia ou não matar alguém. Na verdade, sempre achei que ele era burro demais para conseguir adequadamente tal proeza. Contudo, aprendi que qualquer indivíduo pode ser um assassino se você souber pressioná-lo o suficiente. Ou seja, com as motivações certas, até o mais fraco e ingênuo ser vivo pode se tornar um assassino. E foi com base nesse raciocínio que eu decidi investigar sobre a vida desse sereiano que eu conhecia de rosto mas não tinha ideia de quem era.




                                           ...

     Depois que a diretora afirmou estar em condições para assumir o controle da situação sozinha, acompanhei Xavier até o seu estúdio porque ele aparentava estar surtando por dentro e só estava esperando um momento de privacidade para começar a enlouquecer. Seguimos em silêncio até adentrarmos no armazém e quando ele fechou a porta, ele se virou com sua expressão marcada por desespero e pavor e eu me preparei para ouvir ele desmoronar.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora