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O começo do dia seguinte foi tão monótono quanto eu imaginei que seria. Eu acordei, me arrumei primeiro e fiquei esperando Enid para irmos comer no Pentágono. Não consegui ficar muito tempo com ela porque me irritei devido à quantidade de pessoas que se acumulou no pátio. Inacreditável, parecia que os alunos brotavam do chão pois o local estava muito mais cheio do que o comum. Aparentemente, todos resolveram acordar mais cedo hoje.

Me distanciei um pouco mais até chegar em uma área ampla em uma das extremidades do pátio. Me apoiei em uma coluna e não tive sequer tempo de raciocinar direito quando tive outra visão.

Era provavelmente fim de tarde, porque tudo estava vazio e o céu estava meio escuro. Tudo silencioso e tranquilo, até que esse ambiente foi interrompido no momento em que Eric apareceu na visão. Mas ele não estava sozinho, marchando em sua direção, estava Kent e mais um grupo de uns quatro meninos, todos seus amigos. Eles pareciam tentar acalmar Kent, que andava até Eric de forma determinada e arrisco dizer, assassina. Ele se aproximou do lobo e simplesmente desferiu um soco no rosto dele.

Os gritos começaram, era uma mistura dos quatro meninos implorando para Kent parar, o mesmo avançava com agressões no lobo, que passou a revidar na mesma intensidade, aumentando ainda mais o desespero dos outros que tentavam apartar a discussão. Resolvi sair de perto da coluna atrás da qual eu estava observando e me aproximei cuidadosamente da briga para tentar ouvir pelo menos algo do que eles falavam. Logo de cara reparei no que tinha acontecido.

Foi no dia que vazaram a informação que Kara tinha morrido. Aparentemente, o sereiano não poupou tempo para se vingar de Eric.

"Isso é culpa sua! Isso é culpa sua, desgraçado! Você matou ela!"

"Você é doente! Me deixe em paz!"

"Ela morreu... ela morreu e você não protegeu ela! Eu nunca mais vou vê-la por sua causa... eu não vou mais ver ela... nunca mais..."

Kent parou de bater em Eric e se ajoelhou no chão chorando, a oportunidade perfeita para o lobo se afastar assustado e os amigos de Kent o levantarem e puxarem para o lado contrário, possivelmente de volta ao seu dormitório. Quando eu achei que já tinha terminado, Kent levanta a cabeça, seu rosto abatido e vermelho das lágrimas derramadas por alguém que ele amava tanto e que o amava tão pouco.

Isso o devia matar por dentro. A morte dela deveria ser encarada, de um ângulo doentio e distorcido, como um alívio. Ele nunca mais sofreria com o fato de ela o desprezar. Por outro lado, notei que o problema de Kent não era esse.

Ele não queria parar de sentir.

Ele não queria que Kara parasse de dirigir seus sentimentos a ele. Mesmo que esses sentimentos fossem de rejeição.

E ele nunca mais receberia nada dela.

Antes da visão começar a ser dissolvida e eu voltar à consciência, pude ouvir em alto e bom som, Kent pronunciando a frase que ecoou em minha cabeça mesmo quando eu estava me concentrando em algum texto da aula de Literatura ou seguindo à risca a receita de um ácido que o professor Geller solicitou.

"Eu vou te matar."


...

Assim que fui dispensada das aulas, fui em direção a Kent. Eu ia conseguir falar com ele, antes que resolvessem, por um acaso, matá-lo também. Não é possível que ele vá morrer só porque eu pensei isso.

Enid brigou comigo porque ela queria que saíssemos para almoçar com Ajax e Xavier na cidade, já que ela alegou não aguentar a ideia de comer a comida da escola no seu primeiro dia de lua cheia em Nunca Mais mas ela entendeu o risco que eu corria de perder uma pista se eu não fosse atrás dele agora.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora