20

1.1K 132 44
                                    

     Depois de algumas horas sem conseguir me concentrar, resolvi ir até a diretoria para checar se a Weems não tinha descoberto nada que eu já não soubesse. A loira estava impaciente e parecia cada vez mais nervosa, ela caminhava de um lado para o outro da sala enquanto eu esperava que ela se recompusesse para que eu começasse a fazer perguntas.

     — Isso é inacreditável! Cada vez mais pessoas, tanto na escola quanto fora dela estão sumindo e a melhor solução que a polícia achou foi fazer um lockdown na escola! Como se o problema fosse nós! Eles esquecem que também perdemos alunos, amigos, pessoas queridas nos acontecimentos recentes. Colocar patrulhas para impedir a saída e entrada dos alunos não vai resolver em nada nessa situação.

     Tomei conhecimento há alguns momento atrás que aparentemente a onda de desaparecimento não está assolando somente a escola, e sim outras partes da cidade. Apesar de ser extremamente anormal, pouco me interessa impedir o sumiço de mais padrões, na verdade se todos eles fossem extintos, não faria a mínima diferença para mim. Todavia, eu quero muito descobrir o que está acontecendo em Nunca Mais em relação a todos os casos e o primeiro deles é Eric.

     — Eu vou precisar entrar no quarto do Eric. Vasculhar os pertences dele. Tenho que saber se ele não estava na posse de algo suspeito.

     Eu na verdade não sei por que eu avisei isso a ela, como se pedisse permissão. Eu iria arrombar a fechadura ela autorizando ou não, mas essa ação transmitia a ela que apesar de eu não querer incluí-la em nada, esse era um aviso do meu próximo passo. Se ela não for uma acéfala, tenho certeza que ela vai notar isso.

     — Faça o que você quiser.

     — Imaginei que fosse requerer uma lista complexa do porquê você deveria permitir que uma adolescente assumisse a responsabilidade de dar continuidade a uma investigação policial por conta própria — Deve ter sido a primeira vez no dia que fiquei surpresa de verdade. A diretora, apesar de nunca ter me proibido de fazer algo relacionado à investigação, nunca tinha aceitado tudo sem antes ser apresentada a argumentos plausíveis.

     — Se você não descobrir que porcaria está acontecendo nessa escola, Nunca Mais vai acabar para sempre, os pais vão perder a segurança que têm aqui e vão mandar seus alunos para casa. Estamos à beira de um colapso e a polícia não tem a decência de fazer nada, então decisões críticas devem ser feitas em situações críticas. Repito, Addams. Faça o que achar necessário. Cheguei num ponto de tanto desespero e raiva que creio que ainda que você matasse alguém, eu a defenderia. Agora, pelo amor de Deus, vá até o quarto do defunto.

     Assenti para a loira e me dirigi até a saída da sua sala. Eu não tinha absolutamente nada mais interessante para fazer agora e precisava me manter ocupada para não pensar em Xavier, então aproveitei que a maioria dos alunos ou estavam descansando em seus quartos ou estavam no Pentágono para ir investigar o quarto de Eric.

     Destranquei sua fechadura com um grampo de cabelo assim que cheguei no local e me apressei em fechar a porta novamente quando adentrei no recinto.

     O quarto estava perfeitamente normal, como se seu dono estivesse lá embaixo conversando com seus amigos e voltaria eventualmente, com exceção da enorme mancha marrom que não foi removida completamente do porcelanato branco do banheiro. Tudo estava exatamente do jeito que Eric deixou na última vez que entrou aqui e isso era muito bom, significa que ninguém alterou nenhuma evidência. Coloquei luvas ortopédicas e amarrei minhas tranças em um coque para começar a procurar por algo útil para minha investigação.

     Comecei pelo lugar mais óbvio de se encontrar alguma coisa: a escrivaninha. Passei a folhear os livros e cadernos escolares que eu encontrava na superfície da mesa em busca de qualquer coisa suspeita, mas não obtive sucesso. Revirei as duas primeiras gavetas do móvel, sempre checando para ver se havia algum compartimento secreto, mas também não encontrei nada, principalmente levando em conta que todos os móveis de Nunca Mais eram exatamente iguais e modificar um deles por conta própria seria muito pouco provável. Concluindo que não consegui nada de importante, resolvi passar para algumas prateleiras que ficavam acima da mesa de estudos. Tinha alguns pequenos vasos de porcelana em tons neutros e outros itens decorativos aleatórios combinando com a paleta de cores básica do quarto. Mas não posso dizer que os únicos dois livros não educativos que achei no recinto não me surpreenderam.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora