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     A surpresa de Xavier com certeza bagunçou um pouco a minha cabeça e, com certeza, iria bagunçar ainda mais nossas próximas interações. Mas não foi algo que me preocupou, pelo contrário, me deixou ansiosa de uma maneira quase positiva.

Agora entendo o que minha mãe quis dizer quando falou que Nunca Mais muda as perspectivas de vida dos seus alunos. Se eu falasse para a Wandinha do ano passado que estou curiosa para conversar com Xavier, ela provavelmente diria que eu estava enlouquecendo, e não do jeito bom. Isso é também algo que me perturba. Não posso mentir, mas vou tentar contornar a verdade o máximo que eu puder: eu não sei o que estou sentindo por ele. Nunca senti nada desse tipo com nenhum menino, até porque eu só beijei uma vez e depois descobri que o cara era um assassino sociopata que estava trabalhando para alguém que me queria morta. Além disso, eu não consigo falar sobre isso com ninguém, nem mesmo com Enid, no momento.

Pela primeira vez na minha vida, eu não sei como resolver algo e não quero tentar sozinha. Eu queria muito falar com Enid, mas eu não sei como colocar o que eu sinto para fora, pois é tudo muito confuso. Eu imagino que ela poderia me aconselhar, já que ela tem mais experiência com o sexo oposto do que eu, mas tocar nesse assunto com ela seria dizer que eu estava começando a desenvolver sentimentos fortes por Xavier e eu não sei se é isso que está acontecendo.

Quando comecei a ficar com dor de cabeça, decidi que era certamente a hora de eu parar de pensar nisso e ir dormir. Então, disse boa noite à minha colega e fui para a cama. Amanhã eu voltaria a pensar e decidiria o mais inteligente a ser feito.

 

                                           ...

     Acordei com o som do despertador tocando e fui rapidamente em direção ao banheiro me arrumar. Não consegui dormir tão bem com o assunto não resolvido atormentando minha mente. E acabei de me tocar que eu tenho um outro problema que com certeza deixa minha existência mais miserável: a irritação em cadeia.

A irritação em cadeia consiste em alguém se estressar com algo e do nada, tudo ao seu redor começa a ser extremamente sufocante. Me irritei com a questão com Xavier, o que me fez me irritar com o som do despertador, da temperatura no quarto - que estava estranhamente quente -, da minha mesa que me parecia bagunçada, mesmo sabendo que ela estava exatamente igual a ontem, quando eu a achei perfeitamente organizado, e de Enid, que falou que isso tudo era falta de terapia.

Mesmo já com raiva da maioria das coisas que eu via, me arrumei rápido e fui até a biblioteca dos Belladonas, já decidida que não ia tomar café hoje para me torturar ainda mais. Eu e Mãozinha deixamos Enid no quarto e caminhamos juntos até a estátua de Edgar Allan Poe que protegia a entrada do local. Ficamos lá esperando  a hora da minha primeira aula do dia, quando fechei o livro e voltei para a civilização adolescente que me aguardava lá em cima.

Tive uma série de aulas tediosas, mas agradeço por não ter tido nenhuma com Xavier hoje. Eu não estou muito no clima para aturar seus flertes agora. Até que chegou a aula pela qual eu mais esperava: esgrima. E com Bianca. Combinamos há alguns dias de fazermos dupla na nossa primeira aula juntas e eu estava particularmente ansiosa por isso. Infelizmente, talvez essa aula não fosse ser tão revigorante quanto eu esperava, pois Xavier também estava lá e quando me viu chegar, tirou sua máscara e me deu um sorrisinho enquanto arrumava seu cabelo um pouco bagunçado. Além disso, foi o segundo round que Bianca conseguiu marcar dois pontos seguidos.

— Ei, tá tudo bem, Wandinha? - ela me perguntou se aproximando de mim com preocupação genuína em seu rosto. - Você quer parar um pouco?

— Não, obrigada. Eu estou bem.

Trust - Wandinha e XavierOnde histórias criam vida. Descubra agora