Caminho até o salão principal da escola, onde vejo vampiros se abraçando, alguns lobos correndo e as sereias conversando, Bianca entre elas. Quando ela me vê, ela acena e me dá um de seus sorrisos amigáveis, vindo falar comigo logo seguida.
— E aí, Addams? Reparei que a taça Poe parece apagada no prédio Ophelia. Acho que posso dar um jeito nisso esse ano - ela fala, com um ar de provocação e brincadeira.
— Em seus melhores sonhos, Bianca. Você precisará pensar em truques melhores do que usar seu menino sardinha, todavia sei que isso poderá ser difícil para você.
Bianca ri e diz, se afastando:
— Sempre um amor de pessoa, Wandinha.Minha intriga com Bianca acabou sendo resolvida no semestre passado e desde então, temos agido do jeito menos hostil possível uma com a outra. Ela não é de todo uma infame, afinal.
Continuo caminhando até a escadaria, mas parei ao ver alguém acenando para mim do topo dela. Eu acho que tive um dejá-vu. Porque quem eu vejo lá no alto me encarando com um sorriso de lado e com os braços apoiados preguiçosamente na sacada do topo é Xavier. Andei até uma das escadarias e comecei a andar até ele, que me acompanhava com o olhar à medida que eu subia mais degraus. E, curiosamente, não me importei com seu olhar. Quando parei em sua frente, ele soltou um de seus pequenos sorrisos e disse:
— Bem-vinda de volta, senhorita Addams. Espero que ainda ache que sou digno de vossa adorável atenção.
— Receio que isso ainda precise descobrir. Uma pena para você, não sei como sobreviverá sem minha companhia.
Ele dá uma risada baixa e continuou:
— Estou ansioso para lutar com você na esgrima. Andei praticando essas férias só pensando em te ganhar, pelo menos uma vez.— Que fofo, andou pensando em mim. Infelizmente para você, não posso dizer o mesmo.
— Sei. Imagino que não ficou nem um pouco intrigada por minha causa nesse recesso. - ele fala, com seu sorrisinho típico dançando em sua boca.
Eu não o deixaria saber a verdade. De modo algum.
— Eu preciso ir, Xavier. Ainda não falei com Enid.
— Te vejo depois, Addams. E estou ansioso por isso. - ele responde, com os olhos levemente cerrados e o sorrisinho na boca. Com uma expressão de vitória. Não gostei daquilo. Nem um pouco.
Apenas me virei e comecei a descer as escadas, não me preocupando em respondê-lo. Depois de passar pelo hall, me dirigi automaticamente ao Prédio Ophelia e subi até o último andar, onde minha colega de quarto arrumava suas criaturinhas de pelúcia em um canto perto de sua escrivaninha enquanto uma música tocava em um volume ensurdecedor. Quando ela notou minha presença no quarto, ela deu o que imagino ser um grito, já que eu não consegui ouvir tão bem o que ela falou. Ela correu até mim e começou a falar empolgadamente, mas eu apenas sinalizei para a caixa de som. Ela entendeu e desligou, voltando sua atenção para mim em seguida.
— Oi, amiga! Quanto tempo! - disse, me dando um abraço sufocante.
— Nós nos vimos há duas semanas, Enid. - respondi, retribuindo o abraço mas logo tentando me livrar dele.
— Mesmo assim! Eu tava morrendo de saudades de você!
— Como eu queria que isso fosse verdade...
— Acha que não senti saudades suas?
— Me referi à parte do "morrendo".
— Ha ha, muito engraçado. Você não consegue esconder seus sentimentos tão bem de mim, Wandinha. Mas é engraçado ver você tentar fingir que não se importa. Enfim, já tenho uma programação incrível para fazermos juntas! Entre elas temos compras, café, caminhadas de manhã... esse semestre vai ser perfeito!
— Mal posso esperar...
— Agora vamos para o que interessa de verdade. Onde está?
— Onde está o que, Enid? - pergunto, já saturada dessa conversa.
— O Mãozinha, Wandinha! Cadê ele? Alguns calos começaram a surgir nas minhas mãos depois que comecei a me transformar e já tentei de tudo, mas eles não saem por nada! Preciso de ajuda profissional. Com urgência.
Tiro a mochila das costas e a abro, libertando Mãozinha, que estava particularmente entediado por ter ficado tanto tempo preso e aparentava estar mais do que contente em ver Enid. Eu os deixo fofocando no lado colorido do quarto e vou desarrumar algumas malas quando vejo uma notificação na tela do meu celular. Talvez uma das melhores coisas que já fiz foi ter silenciado o telefone, pois se Enid tivesse escutado o som, ela teria me enchido de perguntas, as quais eu não estou de tão bom humor para responder.
Meu interesse desperta quando vejo uma mensagem do Número Desconhecido na barra de notificações. Desbloqueio o celular e vou direto para a mensagem.
"Eu ainda consigo te ver."
Em seguida, eu recebi uma foto da janela do nosso quarto. No meu lado da vidraça, era possível me ver parada olhando para o telefone. Rapidamente, vou até o terraço e procuro por qualquer movimentação suspeita pelo terreno abaixo. Não havia absolutamente nada nem ninguém. Tudo aparentemente estava normal em Nunca Mais, como em mais uma noite comum. O vento forte balançava as folhas e árvores do Pentágono e era possível ver as lamparinas e o rio sofrendo com a ação da ventania. Sem sucesso, eu retornei para dentro e organizei mais algumas coisas, ainda com as mensagens na minha cabeça. Até então, achei que era apenas alguém testando minha paciência, mas algo me diz que essa sensação está longe de tomar um fim. Uma sensação que eu desconhecia, tamanho o tempo que eu já não a sentia mais.
A sensação de estar sendo observada. E não poder fazer nada para parar.

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Trust - Wandinha e Xavier
Misteri / ThrillerIsso é uma continuação da 1ª temporada de Wandinha. Créditos da FANART: Chappysuey Iniciada 08/12/2022 Só um aviso: podem ter detalhes aqui que não vão ser exatamente como na série, mas são coisas bem bobas, que não vão alterar a história em nada...