Capítulo 03. Rainha

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É manhã, tão cedo que o sol mal teve tempo de se erguer no céu, uma brisa gelada invadia pelas janelas. Eliot, acabava de acordar, levantando as pressas, pegando sua mochila e correndo pela casa.
Lilith que já estava pronta sentada em uma cadeira lendo um jornal, vê Eliot correndo pela casa com uma blusa no pescoço e tentando vestir uma calça.
— Tome cuidado, idiota — Sorriu. A garota costumava se gabar para o irmão sobre como era responsável com os horários, diferente do tal.
O rapaz consegue se vestir, corre para a cozinha e toma uma xícara de café o mais rápido que consegue — Pronto!!— Gritou.
Lilith para de ler, ela se levanta em frente ao irmão — Dois minutos atrasado, da próxima você melhora.
— Droga... mas acho que logo eu consigo bater meu recorde.
— Quem sabe... se um dia for tão bom quanto eu — brincou e deu uma leve cotovelada em seu braço.
A casa estava mais limpa do que o dia anterior, Lilith finalmente havia feito uma faxina enquanto Eliot descansava. Com as cortinas presas e janelas abertas, não havia poeira e o piso brilhava junto do aroma limpo da residência.

Uma batida na porta é ouvida, um toque suave, Lilith pega sua mochila que estava no chão do lado de sua cadeira e vai até a porta. Ela abre e como esperado lá estava, a elfa de cabelos negros e logo atrás uma carruagem belíssima.
A elfa se curva perante a garota — Senhorita Lilith Belmam, é um prazer vê-la novamente!
Lilith a olha de cima para baixo, com seus olhos profundos e assustadores. Parecia que a mesma estava menos confiante do que na noite passada, provavelmente havia sido repreendida por "assustar" sua convidada.
Seus dedos se enrolam pelo braço de Eliot, enquanto a mão livre empurra a mulher para abrir passagem de forma rude.

A carruagem balançava para os lados com a estrada de terra. Seus olhos amarelos e sérios apenas podiam observar o rosto idiota da garota à sua frente enquanto Eliot suspirava.
— Me diga seu nome...
— Flora... — A elfa revirou os olhos baixo envergonhada.
Lilith não teve mais o que dizer, deixando um silêncio vago e constrangedor para todos alí.
— Então... Flora — Diz Eliot — É legal lá onde mora?
Sorriu — É, eu gosto. Sou a guarda da princesa dos elfos de Pandora, é um cargo bom. A rainha é adorável.
— Isso é bom. Deve ganhar bem trabalhando com isso.
Desviou o olhar — Eu não ligo muito pro dinheiro, acho que a parte mais legal é que estou sempre ao lado da rainha... — Seu rosto ficou ligeiramente vermelho, sem manter contato visual. Suas orelhas pontudas e grandes balançaram.
Lilith e Eliot trocaram olhares, captando a mensagem de prováveis amantes sáficas.
A carruagem para, Flora sai primeiro e espera os dois irmãos pegarem suas bagagens e descerem também.
— Senhor e senhora Belman, eu vos apresento a Cidade dos Elfos de Pandora.
Um lugar adorável lhes é apresentado, uma grande cidade cercada por muros de árvores grossas e plantas verdes. Com uma grande movimentação e fervor, o cheiro das barracas de comida adentravam suas narinas e faziam o rosto vibrar e os olhos brilhar.
— Desde quando é permitido inaugurar cidades escondidas no reino?
— Nós tivemos permissão, mas pessoas erradas não são bem vindas.
— Quer dizer que eu e meu irmão éramos errados até antes de sairmos dessa carruagem? — Uma de suas sobrancelhas se ergueu.
— Você sabe do que estou falando, senhorita Belman...

Os bruxos não foram os únicos a serem massacrados. Diferente deles, elfos sofreram discriminação desde muito antes de tudo, mas com muitas forças, puderam manter sua espécie longe da extinção.
Entretanto, por algum motivo, elfos mesmo depois de tudo continuaram a se ver como uma espécie superior por sobreviver tão "facilmente".

Andaram até o grande castelo no final da cidade, um belo castelo com tetos pontiagudos em suas torres e um belo tom de creme pintado nas paredes.
Duas belas portas de madeira avermelhada se abriram, revelando o saguão principal. Emyla, como esperando, sorrindo gentilmente mas de forma estranha. Com os cabelos soltos e um vestido verde se arrastando por seus pés.
— O que temos aqui? Senhorita Lilith...
— Diga-me, o que quer de mim? — Sua voz ecoou.
— Peça desculpas antes de tudo.
Revirou os olhos — Desculpas por quase matar você depois que quis me contratar sem minha vontade? Corta essa, orelhuda.
Seu rosto se enfureceu — Não seja insolente, garota!
Lilith se aproxima de seu rosto delicado — Algum problema? — Implica.
— Pensa mesmo que pode me constranger? Não ouse pensar isso de mim, Belman.
Eu quero que cumpra um serviço
— Não quero — cruzou os braços.
— Pare de ser teimosa!
Lilith se vira e olha para Eliot que estava apreensivo. Ela volta os olhos para a elfa — E se eu recusar?
— Farei com que assista seu irmão morrendo — Sua guarda prende Eliot com uma braço e puxa sua espada
Seu sorriso caí em uma expressão amarga — Beleza... Qual o tipo de serviço?
— Mate meu marido.

Embora inusitada a proposta, Lilith aceitou com um sorriso em seu rosto.
Allan II, marido de Emyla, um elfo rude e agressivo que a mesma foi obrigada a se casar. Sem um pingo de empatia e respeito com qualquer ser.
Allan estava em um bar próximo, como de costume. A garota planejou apenas seguir um plano simples: Atrair a presa e matá-la num lugar escondido.
Para uma assassina habilidosa, devia haver dentro se si uma atriz habilidosa. Não fez muito ao se vestir para o personagem. Usou um vestido simples vermelho, na altura de seus joelhos, com alças finas que deixavam seus ombros expostos e um decote deplorável que a fazia querer vomitar. Lilith odiava expor os grandes seios que tinha ou as coxas volumosas.
O homem estava posicionado em frente ao balcão, tomava whisky em silêncio enquanto via as elfas seminuas dançarem em seu palco.
Lilith se aproximou — Allan?
— Ah, sim? — O louro respondeu — Em que posso ajudar uma moça tão linda?
— Pode-se dizer que sou uma grande fã sua... — A mulher se sentou ao seu lado — Se é que me entende...
Ele posicionou sua mão sobre sua coxa — Entendo muito bem... Você não é elfa, é?
— Sinto te desapontar, mas de fato não sou.
— Tá tudo bem, eu até prefiro humanos... — Ele subiu um pouco a mão — O que faz aqui?
— Digamos que gosto de coisas novas... Por que um rei tão lindo se esconde num barzinho podre e sujo?
— Não tem que mentir, sei que deixei de ser "lindo" há décadas. O que mais faria se não frequentar o único mundo que pode me fazer esquecer de onde vivo?
— Huh? — A garota se interessou.
— Se és minha fã, sabes que sou comprometido... Mas não adianta de nada se minha mulher não sente o mesmo por mim.
Eu me declarei, fiz cartas, recitei poemas e a agradei como nunca fiz, tudo isso para que ela sentisse nojo de mim — Rosnou num ato de ódio ao se lembrar de sua maldita vida de um amor não compreendido — Aquela guarda...
A jovem pôs a mão em seu ombro — Está tudo bem — Estava apenas atuando, mas sentia pena de matar alguém apenas pelo fato de não ser agradável para a própria parceira.
O homem sorriu — Agora viverei aqui até minha morte, me afogando na bebida e em noites vazias. Eu almejo mais emoção.
— Posso lhe dar a emoção que procura, se és o que deseja — Forçou um sorriso e passou seus dedos em seus cabelos.
— Qualquer emoção?
— Qualquer emoção.
— Então vamos deixar a conversa de lado, me acompanhe.

Lilith o seguiu, havia um segundo andar, escuro e sombrio. Havia apenas uma cama e uma janela trancada.
— Huh, quanta escuridão. É tímido ou algo assim?
— Tímido?
— Sim... Alguns homens sentem vergonha ao se deitar com mulheres, inseguranças.
— Oh querida... Não sou tímido.
De repente, uma lâmina brilhante se pôs contra o pescoço da garota, sendo encurralada.
Allan cheirou seu pescoço — Que inovador... É a primeira que não posso sentir o cheiro do medo. Ele sorriu, apertando ainda mais a lâmina da faca — É a primeira vez que fica tão vulnerável?
— Huh... — Engoliu seco — Não...
— É notável. Você não exala medo, não demonstra angústia. É tão sem graça... Assim faz com que não haja diversão.
— Seu doente, agora sei o porquê de sua mulher não amar você.
— Vá se foder! Não fale de minha mulher, sua putinha pobre.
— Quantas mulheres já não devem ter chamado deste mesmo apelido escroto. Pensei que fosse almejar meu corpo, não minha morte.
— Você aceitou me dar a emoção que eu quisesse! Devia ter pensado duas vezes antes de aceitar! Não se preocupe... Aproveitarei muito de seu corpo quando ele esfriar o suficiente para satisfazer meus desejos.
— Que tristeza, hein — Ironizou, o provocando.
— Ah! Cale-se! — Labrava feito cão.
— Se é assim, por que não me solta logo? Morrer aqui não me será um problema caso eu não tenha opção.
— Eu gosto de ver pessoas vulneráveis... Eu adoro isso... Eu amo a sensação que isso me trás... Amo triunfar minha faca por pescoços belos como o teu, manchar a cama de sangue enquanto você engasga nele feito veneno. Me diga, não é boa? A sensação de estar aqui, prestes a morrer... — Lambeu os lábios.
— Seria uma pena te revelar que não — A mulher sorriu, colocando seu pé atrás dos do rei, o derrubando.
Em passos rápidos e silenciosos, ela pegou a faca e o prendeu contra o chão. — É visível que a tua sede por sangue cega teus olhos, homem tolo. — Em meio ao julgamento, sorriu — Você deveria melhorar sua estratégia antes de sair prendendo qualquer um.
Allan deu um leve riso sádico, balançando os ombros — Vamos, eu sei o que acontece. A heroína tenta me matar, mas num ato de bondade ao ver que me entrego para ser morto, você diz: " Tu não merece a morte, blah, blah, blah" —
A brilhante lâmina deslizou e escureceu com o sangue vermelho rubro.
— Eu não sou uma heroína.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora