Capítulo 02. Convite

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Depois de um dia fora de casa, Lilith se deitou em sua cama e adormeceu, porém, seu descanso foi interrompido ao ouvir seu irmão gritando ao teu lado.
- O que quer?! - bradou irritada.
- Oh! Bem... - Eliot passa a mão atrás da cabeça - Eu vim te convidar para ir à taverna tomar algumas bebidas comigo. Eu ia chamar uns amigos, mas todos estão ocupados com coisas de família e tals... - Eliot tinha seus incríveis vinte e cinco anos e nenhuma esposa, namorada e muito menos filhos, o que tornava-o diferente de seu enorme grupo de amigos, tão idiotas quanto o próprio. Sempre falando asneiras e se colocando em perigos mortais. Por sorte, o jovem nunca se importou de admitir que estava se escondendo atrás da saia de sua irmã mais nova desde sempre.
- Talvez seja um sinal que você está ficando velho e está encalhado - brincou.
- O que?! Eu não! Sou um bebê ainda, e filhos dão muito trabalho, você já me traz muitas despesas, imagine mais!
- Está me comparando com um filho teu?!
- Sim! - Riu.
- Huh! Tudo bem, vamos lá!
- Então vamos!! - Correu para fora do cômodo.
- Não corra pela casa... - Parou ao lado da porta, enquanto Eliot se agasalhava para fugir da neve fina que caía dos céus.
- Aqui, vista seu cachecol - Enrolou um cachecol roxo em seu pescoço, e antes que o soltasse, seus olhos amarelos brilharam - Eu me lembro de como ele ficava bem em nossa mãe...
- Com certeza... Ela era a mulher mais bela dentre todas as outras.
- Você lembra nosso pai.
Olhou em seus olhos - E você se parece com nossa mãe... Às vezes é como vê-la novamente, bem em minha frente... - Deitou sua mão sobre a bochecha da irmã.
- Me pergunto se ela nos vê daqui...
- Creio que ela esteja nos observando através de seus olhos, são lindos assim como os olhos dela foram um dia.
Ambos se olharam reciprocamente por alguns minutos em silêncio, Eliot passou a mão sobre seus cabelos - Vou cuidar de ti como não pude cuidar dela - Beijou sua testa suavemente - Vamos logo.

Andaram até o bar mais próximo. A luz emitida pelo fogo dos postes iluminava as ruas vazias. O bar não era grande. Chamativo, sua madeira era escura e polida. Logo ao lado da entrada, bancos almofadados em cor de sangue seguiam em fileiras junto das mesas. Paredes de vidro vinham acompanhadas, dando uma vista para a rua e o resto da cidade. Embora fosse de qualidade medíocre, ali era a melhor taverna que podiam frequentar depois dos bares podres com cheiro de vômito e urina de homens sujos e sem sonhos. Geralmente, vilarejos ou cidades não tão ricas possuíam três níveis de estabelecimentos: acessíveis para quaisquer pobres em busca de sua árdua fuga da realidade; os comuns, para aqueles pobres que não podiam pagar pelo mais caro mas que ainda desejavam conforto; e os dos ricos.
Lilith ganhava bem para comer onde quisesse, mas após tanto tempo fora do próprio emprego, teve apenas o dinheiro do trabalho suado do irmão.

Era tarde da noite, muitas pessoas dormiam e outras acordavam. Já era possível ver as casas de apostas e as fornecedoras de prazer começando a se movimentar. Clubes já davam acesso a suas longas filas em sua entrada. Mesmo que fossem lugares pobres, os moradores eram felizes podendo ao menos sentir que faziam parte de algo grande. Já outros, encontravam felicidade ao se enriquecerem com o dinheiro que recebiam e desviavam até a igreja católica, que assim encontrava mais poder para seja lá qual for seu plano maligno.
Sinceramente, Lilith gostava dessa atmosfera viva. Diferente do dia, quando as pessoas noturnas repousavam em suas camas velhas e as velhinhas fofoqueiras da vizinhança acordavam para varrer seus quintais e obrigar seus netos a estudarem.
Como uma assassina, sabia que a noite sempre seria seu local de vantagem. Se esgueirando pelas sombras nos segredos escondidos debaixo do luar.

Sentados no fundo do estabelecimento bebendo canecas de cerveja enquanto Eliot contava sua mais nova aventura, Lilith observava a rua pela parede de vidro da taverna. Ela avista guardas entrando no restaurante.
- Eliot, olhe.
No mesmo momento, o garoto finalmente se pôs a fazer silêncio. Ele arregalou os olhos se inclinando à direita vendo alguns guardas, uns cinco ou sete, entrando na taverna. Devagar volta à posição que estava antes.
- O que guardas fazem aqui?! - sussurrou atormentado.
- Não sei, Eliot, mas não se preocupe. Não sairei do teu lado.
- Será que decidiram retirar sua licença de assassina?! E se te pegarem?? Oh meu Deus! E eu?
- Por Deus, cale a boca! Não é uma licença e não vão me prender. Larga a mão de ser burro!
De repente, do meio dos guardas, uma mulher surge, uma elfa de cabelos longos e negros e olhos roxos vestindo uma armadura com uma espada em sua bainha. A jovem chega à mesa, Eliot está com o rosto virado para a parede fingindo estar tomando alguma bebida de sua caneca de cerveja vazia e brinca com seu cachecol em volta do pescoço.
- Senhorita Lilith, é um prazer conhecê-la pessoalmente.
- Diga de uma vez o que quer - Seu corpo estava preparando para atacar quando fosse necessário.
Tinha uma adaga no sapato como de costume, poderia pular da mesa e atacar seu pescoço antes mesmo que empunhasse a espada. Lilith tomaria a espada com um braço e na outra sua arma de magia, conseguiria matar cada guarda dali e fugir.
Sentiu o peito apertar ao se dar conta de que já estava planejando matar mais alguém e voltou a prestar atenção em suas palavras mansas.
- Minha rainha, ela está a sua procura e pediu para encontramos a senhora - Tinha um sorriso como se fosse deboche estampado, uma pequena esnobe. Elfos tinham o péssimo costume de se verem como superiores com a raça humana, mesmo que eles quem tivessem sido assassinados por tal.
Belman sentiu vontade de rasgar aquele sorrisinho idiota e quebrar os dentes perfeitamente brancos.
- Posso saber quais são suas intenções comigo? - Virou o rosto.
- Eu também estou curiosa, mas infelizmente eu não sei. Ela te quer com urgência em seu castelo, aparentemente são assuntos importantes.
- E como posso confiar em ti? - Franziu a testa rosnando feito cão.
- Senhorita Lilith, reconheço sua preocupação e já imaginava que fosse ter dúvidas. Em suma, nossa rainha fez à mão um convite para vossa senhoria - Pegou uma carta e entregou para a mulher.
Lilith apenas passou os olhos pela belíssima letra. Pouco lhe interessava o conteúdo. Sentiu o cheiro da mana de Emyla saindo da carta, realmente havia sido escrita à mão. Prestou atenção em muito pouco, apenas avistou o tempo que demoraria de viagem. Seria uma baita viagem de um dia todo com ida e volta por uma boa quantidade de rublos para apreciar o luxo de frequentar bares menos sujos, mesmo que aquilo não fosse de grande relevância para sua vida. Trabalhar para pessoas mais ricas era sempre bom, como princesas ou barões, era sempre oferecida uma quantia exorbitante que colocava comida na mesa e novos livros na estante. Deu um sorriso amargo, já sentindo o cheiro da biblioteca local e o som das moedas pagando.
- Huh, tudo bem, eu vou - Eliot olha para a irmã surpreso. Para o homem seria perigoso deixar sua irmãzinha tão longe com elfos sem intenções claras.
- Se você for eu também vou!
- Eliot nem pense, não quero te deixar em mãos erradas.
O sorriso glorioso da elfa se desfaz.
- Senhora Belman, não precisa ser tão rígida. Posso dar minha palavra de que estarão em mãos seguras. Nós, elfos, sempre cumprimos com nossa palavra - Sentiu o orgulho se ferir ao desconfiarem de sua rainha.
Lilith se cansou de seu jeitinho medíocre, se levantou e puxou Eliot dando alguns passos.
- Sua palavra não vale de nada para mim. No horário marcado na primeira residência da vila em frente ao lago - Andou bruscamente para fora da taverna.

Seus passos raivosos com coturnos pretos faziam um alto barulho, zangada por ter perdido uma noite onde poderia se embriagar e desmaiar na cama até o próximo fatídico dia. Eliot ainda estava indignado com sua irmã mais nova.
- Você ficou maluca?!
- Oras, Eliot. Ela com certeza quer uma assassina famosa por ser muito boa para matar alguém. É uma rainha! É muito dinheiro em jogo.
Suas sobrancelhas quase se tocaram de tanta fúria e apertou o passo para alcançar a jovem - Lilith, você tem merda na cabeça?! Quem liga pro dinheiro, eles podem te matar!
- Eu ligo! Eu sustento a gente.
- Eu também! Também tenho meu emprego! Você não tem competência o suficiente pra entender o quão arriscado é isso!
- Não sou uma criança. Eu estive numa guerra! Eu exterminei milhares de homens de Jasmim! Eu sei me virar, Eliot...! - Sua voz se acalmou no fim de sua frase, enquanto parava encarando o irmão com seus olhos tristes e brilhantes.
O garoto suspirou também se acalmando - Eu sei que você é forte... Mas eu não quero que se coloque em risco. Você sabe que da última vez que não conseguiu controlar sua mana você teve... Isso... - Tocou em seus cabelos rosas.
- Eu cresci, eu sei lidar com minha magia agora... Eu tenho que ajudar, temos que manter a casa, ter comida... Confie em mim, Eliot.
Confie em mim.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora