Capítulo 04. Conhecidos

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Eliot acariciava um cavalo que estava com a cabeça na janela da cozinha do palácio élfico. — Você é macho, não é? Uh, você gostou de mim? Está com fome? Qual seu nome, cavalinho?
Lilith, já com suas roupas diárias, puxa uma cenoura do balcão e dá para Eliot alimentar o cavalo. — Se continuar fazendo perguntas, pode ser que ele realmente responda. Não queremos um cavalo falante, além de fedorento vai ser tagarela, só você já basta.
— Shiiih — pousou a lateral do indicador contra os lábios, em sinal de silêncio — O Colher é extremamente sensível, ele não sabe ouvir julgamentos.
— Colher? De onde tirou isso de repente? — Lilith riu.
— Eu posso sentir, esse é o nome dele — Eliot e o cavalo trocaram longos olhares brilhantes como se realmente se entendessem.
— Não sei não... tenho certeza de que o nome original é bem melhor. Eu gosto de Aquiles, que tal?
— Hum... — Eliot refletiu. — Tudo bem! Vou chamá-lo de Aquiles Colher Terceiro.
— Terceiro? Já teve outros com esse nome?
— Não, mas me caiu bem acrescentar algo.
— Tudo bem então — Riu — Vamos procurar algo para comer antes de irmos. Um bar é o que faz meu dia valer a pena.
Os dois pegam suas coisas e vão até um bar local comerem algo.

Ao entrar na grande taverna todos de lá estão muito animados, cantando e se divertindo. Alguém cantava no palco, interagindo com a plateia, que batia palmas e dançava para lá e pra cá ao som da belíssima voz.
Eliot corre para o balcão. — Cervejeiro, quero três cervejas e palitinhos de frango!
— Três cervejas? — Lilith se surpreende.
— Ah sim, quero quatro!
— Você é um idiota. Cerveja élfica é muito mais forte, não vai aguentar nem o primeiro gole...
Um homem de cabelos platinados, escleras e íris vermelhas, uma barba curta e óculos retangulares com um avental por cima do colete escuro e preso por seus botões. Logo abaixo do colete, uma camisa social branca. Calças pretas e sapatos brilhantes lhes entrega as quatro cervejas. — Os palitinhos já irão sair — Sorriu com sua voz aveludada e grave.

Enquanto servia para mais pessoas, não deixou de notar a garota de cabelos rosas, que de relance percebe a falta de orelhas pontudas.
— Ei! Você não é uma elfa, não é?
A mulher que estava distraída com o braço direito apoiando seu queixo olha para o homem surpresa. — Sim. Você também é humano...
— Sou sim! — O rapaz dá um sorriso. — Que pena, eu não vou poder mais agraciar o povo com minha beleza exótica! Exceto o Sun, ele não conta — brincou. — Éramos os únicos até você chegar. Sou Edgar, é um prazer.
— "Sun"? — balbuciou.
— Ah sim, ele está bem ali — O homem aponta para um garoto de ruivos e encaracolados cabelos, um bigode fino típico de um primeiro bigode no final da adolescência, belíssimos olhos castanhos e um sorriso contagiante. Camisa preta e colete de couro, com bermudas verdes e botas, que cantava em cima de um palco junto de uma grande plateia.
— Seu irmão me lembra o meu, muita energia pra gastar.
— E por acaso aquele não seria o teu irmão?
Lilith olha para trás e Eliot está em cima de uma mesa bebendo drinks enquanto elfos gritam.
— Eu queria que não fosse — A jovem vai até a mesa e puxa o braço de Eliot. — Vem, Eliot! Vamos embora.
— Ei gracinha, pra que isso? Deixa o garoto — Um dos elfos tenta segurar o braço da mulher, e no mesmo momento ela aponta sua adaga para o homem. — Não me toque.
O garoto se afasta da adaga com os braços levantados. Enquanto a mulher puxa o irmão de cima da mesa e o leva para o balcão.
Ela o senta no banco ao lado e com a própria blusa de Eliot limpa seu rosto. — Você sabe que não pode beber tanto assim, idiota!
— Ah, florzinha, você não sabe se divertir! — Sua voz estava lenta e irritante.
— Huh.. não me chame assim — Lilith olha nos olhos do garoto. — Come os palitinhos. — O homem se dá por vencido e come devagar.
— Ele obedece fácil. Gostaria que o meu fosse assim também — Edgar ri.
Lilith desvia o olhar desconfortável, não estava acostumada a trocar palavras com estranhos. A menos que sejam as senhorinhas de sua cidade contadoras de histórias e fofocas da rua.
Enquanto a bela jovem acariciava a cabeça do irmão, o garoto que estava no palco chega até o balcão. Ele nota um cheiro diferente, olha para Lilith que estava sentada.
— Ela é nova? — Sussurrou para Edgar.
— Sou sim — Lilith ouve o sussurro do garoto.
— Ah, por nada! — O rosto branco e sardento ruboriza. — Você é nova? — repetiu estupidamente.
— Que gentileza é esta... Sim, eu sou sim.
Seus olhos brilharam, encarando o rosto de Lilith, sentindo faíscas vibrarem como choque cerebral.
— Faz tempo que não vem gente nova por aqui — O homem de cabelos brancos entrega uma caneca com água que o ruivo pega e toma. — E qual seu nome? — Seu rosto toma cor mais uma vez.
— Lilith... — A mulher abaixou a cabeça.
— Lilith? Que nome mais bonito! Combina com você.
— Lilith? Como a rainha do céu?
Deu um pequeno sorriso — Uhum...
— Isso é bonito. Seu irmão se chama Eliot e você Lilith, dois deuses. Seus pais são criativos.
— E já tem onde ficar esta noite?
— Não preciso, vou partir daqui alguns minutos.
— Sério? — Sun olha para Edgar. — Eu e meu irmão estávamos pretendendo partir daqui uma semana... mas, será que a senhora não poderia nos levar?
— Não sei, não confio em estranhos — Afirmou.
— Por favor, senhorita! Eu juro que nós nunca faríamos nada!
— Ainda não estou convencida.
— 50 rublos!
— 100 rublos.
— 60!
— 100!
— 80!
— Fechado — A mulher se levantou.
— Muito obrigado, senhorita Lilith! Vou pegar minhas malas! — Correu para trás da taverna.
Lilith pega seu irmão que havia desmaiado com a cabeça em cima de seu prato. Ela olha para seu rosto e dá um sorriso genuíno. — Huh... — Viu por um instante como Edgar a encarava propositalmente apenas para ver como seu rosto tomava cor toda vez que seus olhos se cruzaram.
— Estou aqui! — Sun voltou com pouca bagagem.
— Só isso?
— Viajamos muito, não temos tanta coisa!
Deu de ombros — E não vai prejudicar vocês saírem tão de repente?
— Oh, não, não. Só estamos fazendo bico, o dono daqui tem outro balconista profissional. Não precisam de nós — Disse tirando o avental e pegando seu sobretudo pendurado.
— Huh... tudo bem, não ligo.
Eles vão para fora, Lilith segurando seu irmão em teus braços, o rapaz com as malas enquanto o balconista jogou seu sobretudo pelos ombros e os prendeu.

E então, sua carona para casa aguardava ao lado de Emyla que sorria radiante.
— Lilith! Como foi a visita ao nosso reino? — A rainha lhe pergunta com um sorriso doce.
— De fato é um belo lugar, gostei mais do que pensei.
— Ah sim! Mas... quem são estes? Algum tipo de... amantes? — Riu.
— Conhecidos, apenas conhecidos — Seu rosto ficou ligeiramente vermelho.
Lilith coloca seu irmão sentado com a cabeça deitada na janela da carruagem.
Os homens se curvam diante da rainha e entram.
— Foi um prazer fazer negócios com você — Agradece recebendo o pagamento.
— Digo o mesmo, Lilith. Volte para nos visitar algum dia, tenho uma grande dívida com você neste momento!
— Claro, talvez eu volte algum dia — A mulher entra na carruagem e parte para sua pequena cidade mais uma vez.
Com o sol descendo do céu e a lua surgindo. Surge um clima quente e o céu laranja.
Finalmente pode descansar seu corpo no banco almofadado daquela carruagem e apreciar a vista que a natureza à propôs. Mesmo que o corpo relaxasse, sua mente continuava a não se deixar distrair.
Mesmo que tivessem semblantes de "mocinhos", Lilith não abaixaria a guarda para dois homens desconhecidos com a mesma sozinha e seu irmão apagado. Não queria cometer o erro de manchar uma carruagem tão linda com sangue.
Sun sorriu — A senhorita veio aqui a trabalho?
Deu uma leve risada — Vim.
Lambeu os lábios — Nós também. Estavamos juntando dinheiro pra conseguir uma casa por perto.
— Vou deixar vocês na entrada da cidade, em frente a minha casa. Se forem ficar por lá, recomendo que não inventem de me visitar — Arqueou as costas, sorrindo — Odeio visitas.
Edgar riu — Uh, que medo.
Riu também — "Amantes" — Reviveu as palavras da rainha. Um frio na barriga a fez enjoar, se lembrando que muito provavelmente deveria se casar nesse mês apenas para deixar seu irmão viver em paz.
"Viver em paz", era mais uma frase que a fez congelar por dentro. Olhar para o lado, o vendo babar com o rosto rosado a fazia pensar que logo o veria assim sempre.
O veria apenas em encontros, e nesses encontros ele beberia como gosta de beber, cairia duro, ela o levaria para cama e voltaria para sua casa e dormir com o garoto que mal se lembrava do nome.
— A dona está bem? — Edgar franziu uma das sobrancelhas com um riso de canto — Está fazendo uma cara de quem está com dor de barriga.
— Haha — Fez uma risada irônica — Só pensando em algumas coisas da minha vida.
Sun balançou as mãos — Coisas da vida. A senhorita parece ser bem ocupada.
— Pareço?
— Você tem uma aura de durona, de que tem um trabalho duro e que ocupa tempo.
Abriu os lábios mostrando os dentes, era um pequeno elogio. Mostrava como seu esforço valia a pena — Na verdade, estou pensando sobre como querem que eu me case logo.
— Isso é barra, ser mulher nesses tempos deve ser difícil — Edgar mantinha os dois braços esticados por toda a poltrona e pernas cruzadas, ocupando espaço, diferente do irmão.
— Um pouco — Empurrou a mecha de cabelo atrás da orelha — Mas sinto que não tenho escolha...

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora