Capítulo 09. Jardim de flores

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Em uma floresta verde e bela, o sol invade através das folhas das árvores e ilumina as estradas de terra. Três cavalos galopam pela mesma estrada feita de terra e galhos caídos.
— Senhorita Lilith, sabe mesmo para onde estamos indo? — Sun estava com medo de andar pela perigosa e isolada floresta.
— Não se preocupe, sei muito bem para onde estamos indo — A jovem estava tensa.

Depois de alguns minutos andando, chegaram numa casa abandonada. Não era de grande largura mas era possível ver seu segundo andar, com seu telhado velho e quebradiço.
A mulher desceu de seu cavalo ao se encontrar com esse lugar, com seu quintal cheio de pequenos brinquedos de crianças velhos e sujos, vasos de flores e mínimos pedaços do que um dia foram cortinas, devoradas e rasgadas pelo tempo e insetos.
A feição de Lilith era de um sentimento indescritível para os dois que acompanhavam-na, seus olhos avermelhados, como se segurasse uma lágrima, suas pupilas tão pequenas quanto um grão de arroz. Como enormes e aterrorizantes lembranças que atormentaram seus pensamentos e uma enorme saudade.
— Onde estamos, senhorita Lilith..? — Sun balbuciou preocupado.
— Esta é a casa onde eu cresci... Está igual — Lilith anda devagar em direção a casa, demonstrando em teus olhos amarelos a grande saudade, o grito interno de felicidade, tantas memórias estavam guardadas em um único lugar. Tantos momentos preciosos que poderia até ouvir os sons dos risos, a voz de sua mãe alertando o almoço. O grito de felicidade da família quando seu pai chegava do trabalho. Abraços, risos, beijos, carinhos e lágrimas. Mortes.

— Acha que Eliot pode ter passado por aqui? — Edgar observa as janelas com medo de que animais selvagens andassem por lá.
— Imagino que sim, se aquele era o homem que eu conheci então sei que ele viria para cá.
— Senhorita Lilith, será que não é melhor ficar aqui enquanto nós vasculhamos lá dentro? Não acho que seja bom para seu estado mental entrar — Sun segura o ombro da mulher.
Lilith se vira, Sun era baixo o suficiente para estar à altura de seus seios — Não se preocupe comigo, Sun. Eu estou bem — Lhe deu um leve e falso sorriso.

Os três entram na casa, há móveis pelo chão, manchas secas e velhas de sangue, sujeira, morcegos pelos cantos da casa, o chão de madeira rangia, ratos se escondiam por debaixo dos móveis e aranhas em suas teias.
— Uau, seja lá quem entrou aqui por último, com certeza não estava nada bem da cabeça — O ruivo chuta uma espada de madeira do chão que ao bater contra a parede se parte em pedaços.
— Não, foi assim que deixamos a casa quando fugimos — Belman se abaixou pegando uma adaga enferrujada — Em todos estes anos... não tive coragem de voltar aqui, fiquei com medo de me lembrar. E acho que ainda tenho...
— Senhorita Lilith... — O menino tenta encontrar palavras para confortar a mulher mas acaba recuando.
Lilith se virou e notou que seu sentido estava aguçado, com pouca magia podia sentir que alguém esteve em casa antes deles.
Sua mente pareceu não conseguir organizar os pensamentos por um instante. Mesmo de peito vazio e mente turbulenta, apenas lhe restava continuar.
Subiu as escadas sozinha, ambos sabiam que aquelas memórias pertencentes à mulher deviam ser relembradas a sós, era isso o que queria.
Viu seu pequeno quarto, doeu ver a podridão. Suas pelúcias, sua penteadeira e o guarda-roupa que um dia guardou lindos vestidos.
Do outro lado a cama de Eliot, com coisas de piratas e os barcos de madeira que seu pai o presenteava.
Viu também o quarto dos pais, a cama em que dormia quando tinha pesadelos, avistou o banheiro, aquele em que o espelho refletia a imagem de uma garotinha feliz, e não uma mulher quebrada.

— Será que ela está bem?
— Você estaria se fosse ela?
— Não...
Os dedos de Edgar limparam o vidro de um quadro, vendo os rostos da família Belman.
Deu um leve sorriso — O pai dela me lembra uma pessoa que conheci.
— Quem?
— Faz tempo... Era apenas irmão de um amigo. Ninguém importante. Mas isso me assusta... — Guardou o quadro — Ele era uma pessoa comum também, todos eram.
Lilith desceu as escadas — Está tudo bem aqui?
— Ah, sim! Estávamos só esperando.
Sum sorriu — É... Há muitas manchas pelo chão.
A garota anda até Sun — Minha mãe matou um homem bem aqui, sabia? — Se curvou até que seu rosto estivesse lado a lado ao do garoto e na mesma altura — A alma dele ainda vaga por aqui durante a noite procurando por ruivos bonitinhos para devorar — E lançou seu sorriso mais assustador.
— Oh... bem, acho que sei de quem puxou esses... instintos, eu acho — Sentiu seu corpo arrepiar.
— Devorar ruivos bonitinhos, é...? Parece até outro tipo de história — Edgar riu.
— Não seja tolo, fantasmas não fazem esse tipo de coisa — Revirou os olhos durante o sorriso singelo.
— Com essa bundinha dele qualquer fantasma se converteria.
— Ei! Não fale isso da minha bunda, seu esquisito!
— Como quiser, chato — Se afastou — Pombinhos, vou no andar de cima também dar uma vasculhada, podem namorar, mas não façam barulho por favor, ou fico com inveja.
— Pombinhos?! O que? Ew! Qual seu problema, seu verme?! Você só fala coisa indecente — O rosto sardento de Sun se avermelhou fortemente enquanto fazia sua expressão de falsa repulsa para seu irmão que lhe deu a língua e correu escada acima.
— Venha Sun, deixe Edgar ser quem é, quero te mostrar algo — A garota o convida.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora