A garota acorda de seu terrível pesadelo na cama de seu quarto do hotel. Não se sabia quantas horas haviam se passado, mas para a mulher, tudo ocorreu em alguns minutos.
Lilith cai ao chão e se senta abraçada aos joelhos. Sentiu o tremor de seu corpo em reação ao pesadelo.
Sem que nem percebesse, Edgar andava com leveza até a jovem tentando tocá-la. Trocaram os olhares calmos. A jovem se ergueu como pode e se jogou até o homem que a segurou, seus braços envolveram o tremor da jovem e se ajoelhou com Lilith ao chão.
— O que houve comigo mais uma vez?! O que fiz dessa vez para que se preocupassem comigo...? — Chorou.
Os dedos cheios de anéis brilhantes acariciam os cabelos rosas.
— Do que está falando? Está tudo bem, Lilith! Você apenas adormeceu.
Colen e Sun correram até o quarto, se sentando ao lado de ambos numa tentativa de confortar a jovem fraca.
— Senhorita Lilith... Como se sente?
— Tive um pesadelo horrível…! — Lágrimas finas percorreram pelo rosto avermelhado e molharam sua cicatriz acima do nariz que se estendia até debaixo dos olhos numa linha quase reta. — Vi Eliot... Vi meus pais...! Estava presa, depois cai, e tinha uma mulher...
— Respire, maruja. Não se preocupe com isso, foi apenas um pesadelo. Nada disso aconteceu e estamos aqui!
Sun se aproximou e segurou sua mão — Fica fria, não aconteceu nada demais… Você dormiu e nós a trouxemos de volta.
A garota se sentou sobre a cama — Me perdoem… — Enxugou o rosto e soluçou — Estava tão frustrada que fiquei perdida… Achei que tinha feito algo errado…
— Você não fez nada, devia descansar mais…
— Eu não devia… — Viu os olhos brilhantes feito cãezinhos tristes que imploraram para cuidar da garota. Lilith sorriu. — Tudo bem... Só não se empenhem muito nos meus problemas…
Colen acariciou o ombro da garota e olhou nos olhos claros de Lilith.
— Seus problemas serão nossos enquanto continuarmos te amando, garota! A gente tem que cuidar do que ou quem ama! Entendido?!
— Entendido... — Sorriu.A mulher tomava um grande gole de sua linda xícara de porcelana, branca com detalhes azuis, enquanto uma frecha de luz laranja adentrava pelas janelas de seu quarto e iluminava seu rosto atrapalhando que enxergasse Colen terminando de passar uma toalha quente sobre sua testa despida, com os cabelos presos contra suas orelhas.
— Colen, me diga... Vale mesmo a pena isto?
— O que?
— Vale mesmo a pena ficar aqui comigo? Acho que deve ser difícil ficar do lado de alguém tão problemático.
— Ah, maruja, sinto muito que esse seja seu ponto de vista. Saiba que vale sim estar contigo. Cada experiência juntos apenas fortalece nossos motivos para permanecer! Faz pouco tempo, mas nosso grupo fica cada vez mais forte a cada dia.
Riu — Já fazem alguns meses desde que estamos juntos… Acho que é um bom tempo… mas ainda não entendo os motivos para continuarem aqui.
— Edgar continua aqui pois você é como uma irmã para ele, eu estou aqui pois você é como minha filha, e Sun porquê ama você. Isso é apenas um dos milhares de motivos para gostarmos de ti.
— Então acha que ele... me ama?
— Ama!
— Huh... — Encarou além das colinas ensolaradas, logo, a neve cotidiana voltaria. — E o que seria amar?
Os olhos do homem brilharam, até que o mesmo sorriu.
— Você amou seus pais e amou seu irmão, como não saberia?
— Eu me refiro a outro tipo de amor... O romântico.
— Você nunca experimentou essa sensação, né?
— Não mesmo… Eu era popular na escola, mas nunca fui bonita o suficiente para ser desejada ou amada.
— Eu já amei alguém, mas uma única vez... O nome dela era Anne...— Anda logo! — uma garota ruiva, com cabelos lisos, quase vermelhos, pulava um muro num local abandonado.
— Já to indo! — Colen, um garoto gorducho, de cabelos curtos e um macacão simples caiu no chão.
— Você é muito devagar! — A garota andava até algum lugar alto, subindo algumas escadas.
— Você só é rápida porque é magra e pequena!
— Quem você tá chamando de pequena?! Seu balofo!
Ambos deram as línguas, até que então Anne voltou os olhos para cima, estava quase no topo.
— Anda!
Ao subir, estavam num telhado de metal alto, que de cima, trazia a vista de toda a cidade coberta pela neve fria, até mesmo a casinha afastada e laranja de Colen.
— Aqui é tão alto que dá até pra ver o fim de mundo onde você mora!
— Vai se fuder! Pelo menos eu não moro num barraco!
— Quem é que mora num barraco? — começaram a se bater, até que Colen prendeu seus braços, e trocaram os olhos refletindo a luz do sol.
Lentamente, se soltaram e encararam lugares opostos.
— Você tem mesmo que ir? — A ruiva perguntou.
— Eu não tenho outra opção...
— Mas você só tem quinze anos! Por que não sai com dezoito? É a hora que todo mundo sai da casa dos pais!
— Anne... Você não entenderia...
— Não entenderia o quê?! O motivo de você me deixar?! É claro que eu não entendo! Você é meu melhor amigo desde que nascemos, e agora você aparece dizendo que tem que ir embora da nossa cidade! É claro que eu não entendo... — Começou a chorar.
— Anne... — Tentou tocá-la, mas a garota o afastou bruscamente.
— Se você for... Eu fico sozinha... Você é meu único amigo! Você é tudo o que tenho! Então por que?! Por que?? — Gritava. — Seus pais podem ser como são, eu entendo! Meus pais também são péssimos, mas pelo menos temos um ao outro aqui... — Soluçou.
O garoto a segurou com força em seus braços, até que a mesma não resistiu e o abraçou de volta.
— Anne, você sabe que ambos não temos vidas fáceis, mas essa é minha única oportunidade! Se eu for agora, posso finalmente viver a vida dos meus sonhos.
Pensa só! Eu vou ser o grandíssimo e poderosíssimo capitão Colen! O famoso e maior pirata de todos os oito mares!
A menina riu.
— Não eram sete?
— Ah! É! Isso mesmo... — Seu rosto ficou vermelho.
— Eu sei o porquê deseja tanto fugir... Eu entendo... — Deitou a cabeça em seu ombro. — Se somos amigos de verdade, não posso te impedir de realizar seu maior sonho... Por mais que eu quisesse que você ficasse.
— Eu já disse que você pode vir junto! Ainda dá tempo pra você fazer as malas.
— Pare de ser idiota! Eu nunca saberia viver em meio ao mar com você e o estúpido do seu irmão. Mulheres nem ao menos costumam ser piratas.
Se eu ir, perderei a minha galeria... Você sabe como amo ela!
— É verdade... Você tem motivos para ficar. Veja, eu prometo voltar! E aí, já seremos adultos! Eu serei Colen, o capitão! E você será Anne, a engenheira mecânica e melhor e maior e mais bonita mulher de todas no mundo todo!
— Isso é muita coisa pra uma ninguém como eu...
— Óbvio que não! Um dia, todos vão conhecer a gente, e nossos nomes estarão na boca do povo! — Colen segurou suas mãos sujas e olhou em seus olhos. — Eu prometo, Anne. Vou te fazer a garota mais feliz desse mundo inteiro.Era noite, o sol já havia adormecido, Colen e Anne estavam em frente a um enorme barco, chovia como nunca.
— Você tem mesmo que ir? — Tentou gritar, as chuvas estavam fortes e o vento soprava descontroladamente.
— É minha única escolha, Anne!
Trocaram um longo abraço, ambos corpos mal podiam se manter de pé graças ao vento forte. Antes que o garoto partisse, a garota o beijou com todo seu amor.
— Por favor, lembre-se de voltar, vou te esperar aqui até quando esse dia chegar!
— Eu vou me lembrar, querida!— E então?! Você e ela se encontraram? — Lilith estava curiosa.
— Ainda não... Eu não tive coragem de voltar até lá... Se eu quiser me relacionar, devo me aposentar do mar, os piratas não podem ter relacionamentos...
— Como assim? Você a deixou mesmo esperando por você?! Você trocaria a pessoa que ama por um emprego tão mal visto?
— Jamais, porém tanto ela quanto ser pirata são minhas paixões... Creio que ela nem ao menos se lembre de meu rosto mais, com certeza ela se casou e já tem filhos, a única coisa de que tenho certeza é que ambos cumprimos nossos sonhos... Ouvi muito sobre seus feitos através dos murmurinhos das cidades e jornais.
— Oh Colen, isso é uma burrice de tua parte! Que atitude inepta... Mas ainda não sei se entendi o que é o amor no qual se refere...
O homem acaricia seus cabelos rosados — Bem, acho que as minhas vivências não podem ditar o que é, né? Relaxe! Um dia você vai entender!Todos dormiam, exceto Edgar, que tragava um cigarro na sacada de seu quarto, observando a lua.
Algo preocupava-o, não era apenas sua "irmã", mas algo a mais, lembrará de seu passado, tantas desgraças para apenas uma criança.
Edgar sabia qual era o problema de Lilith, era a criança conectada a igreja, a mesma que assassinou famílias como a sua. Ele sabia o que havia em seu sangue, mesmo sem a pretensão de dizer.
Em sua última tragada, uma nuvem de fumaça cinzenta se espalha pela sacada indo até a fora, impreginando no ar e dominando com seu odor quente e maldito.
Seus olhos vermelhos refletiram a luz da lua, um sorriso nasceu em seu rosto mostrando os dentes brancos e contemplando o glorioso céu. Estavam perdidos e completamente fodidos."Sob a luz da lua o som das chamas tomava a sua volta, sua alma sucumbia enquanto seu corpo queimava.
Sob a luz do fogo estava, seu sangue borbulhava, seu silêncio era mais alto que o grito da multidão.
"É hora de pagar por seus pecados imundos!" Era o que eles diziam.
Mas sabia que aquilo era um preço a se pagar, estava lá por seus irmãos e irmãs.
Bruxa! Bruxa, bruxa, bruxa! Sempre bruxa.
— Antes que eu queime este fogo, tenho algo a lhes dizer! — O mutirão se calou.
— Diga, bruxa!
— Vocês tolos, podem me queimar viva quantas vezes quiserem! Mas nunca vão se livrar de minha raça.
Sete vidas! Sete bruxos! Ouçam, podem me matar, mas não podem matar a vida que carrega o sangue dos seis bruxos mais poderosos!! A sétima vida, a sétima esperança!
Viva as bruxas!!
Gritos vieram dos céus: "Viva!"
O fogo aumentou, as chamas que faziam fumaça a luz da bela noite.
Ainda há esperanças, nem tudo está acabado".
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Assassina de Pandora
FantasíaÉ inevitável se perder na confusão do acaso. E é inevitável se entregar quando ele lhe oferece o que mais desejava. Neste complexo mundo literário, em meio aos meados do século XIX na Rússia, um mundo de reinos, magia e diversas espécies humanóides...