Capítulo 08. A busca

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Sentiu algumas gotas de água caírem sobre seu rosto a fazerem acordar. Com a cabeça doendo e ainda meio tonta tentou se levantar, mas foi impedida com um peso considerável dormindo abraçado em sua cintura como se fosse seu filhinho depois de um dia cansativo na escola.
— Sun? — Ela o chama.
O garoto acorda, esfrega os olhos e olha para cima — Bom dia, senhorita Lilith — O ruivo sorri de forma genuína — Teve bons sonhos?
— Seriam melhores se não houvesse um idiota grudado em mim — A jovem se solta dos braços do ruivo e se senta limpando a grama de suas pernas.
— Me perdoe, você caiu aqui e adormeceu tão agradavelmente que não pude resistir. É muito fofa!
— Nunca mais me chame assim.
— Okay…
Viram os olhos preocupados de Edgar pela janela, provavelmente tendo acordado imediatamente ao ouvir as vozes familiares e correndo até o quintal de Belman.
— Sun?! Oh por Deus! Sun! — O homem se ajoelha em frente a seu irmão — Por onde vocês andaram?? Tentei esperar acordado, porém adormeci! Pensei que voltassem logo!
Lilith se levanta — Nós nos divertimos um pouco... Nada demais. A tia Lilith cuidou do seu filhinho — Sorriu.
— Haha, é muito engraçado você sumir com meu irmão. Olhe para ele! — Abraçou o garoto — Ele é ingênuo, frágil e burro! Tem de ter cuidado com essa bolinha — Apertou suas bochechas enquanto Sun tentava lutar contra os apertos.
— Pare! Sinto muito! Juro que eu teria lhe avisado se não tivesse me esquecido!
— Se usasse a cabeça correta não se esqueceria de avisar seu irmão ao invés de sair seguindo mulheres bonitas e desconhecidas! — Suspirou — Espero que você não tenha feito nenhuma bobagem.
— Bobagem?! Eu?? Nunca! Jamais faria isso! — Seu rosto ficou vermelho.
— Por que ficou vermelho?! Não está mentindo, está?! — Se virou para Lilith — O que fez com ele?!
Riu — Engravidei ele.
— Quê?! — Gritou.
Lilith gargalhou — Esperem aqui, já volto! — Lhes deu as costas e foi para a casa. Em meio a noite decidiu que assim que acordasse iria à procura de seu irmão. Suas piores decisões eram as que a bebida lhe ofereciam em qualquer que fosse seu horário.

Em sua casa, a jovem vai até o quarto de seu irmão. Era simples como o seu, uma cama grande em lençóis brancos e azuis, escrivaninha e seu guarda-roupa. Sua janela lhe dava uma vista para a floresta densa e escura.
Mal podia se lembrar da última vez em que entrou naquele quarto, mal podia encontrar memórias ali, como se fosse distante de seu tão amado irmão.
Se deitou na cama de Eliot, seu cheiro ainda está nos lençóis. Deitada na cama, Lilith olha pelo quarto, na escrivaninha feita de madeira um lenço roxo. A mulher se senta e pega o lenço, era o lenço que Eliot nunca deixou de usar, foi de sua mãe na juventude e depois de seu irmão.
— Como ele deixaria isso para trás? Aquele imbecil... — Pegou o lenço e o colocou em volta do pescoço e franziu o rosto — Como ele esqueceria de algo assim? Esse traidor de uma hora pra outra não poderia… poderia? Oh... Por Deus... Se é que realmente existe um. Por onde aquele idiota anda? Que merda passava por aquela cabeça oca e tão ingênua para um homem grande como aquele? — Seus olhos oblíquos deslizaram pela escrivaninha, havia molduras cheias de fotos, amigos de Eliot estampados ao lado do mesmo com canecas de cerveja. Pouco a frente, uma foto de ambos juntos. Tão parecido e ao mesmo tempo tão distante, tão diferentes. Tímida e reclusa, formidável mas insegura, com aquele homem que o julgava como incrível, sociável, confiante, que sabia o que fazia e qual caminho seguir.
Lilith não tinha tantos amigos, podia contar em seus dedos delicados cada um.
Tão poucos, pouquíssimos. Belman não se importava de possuir uma vida semelhante a Eliot, porém suas diferenças talvez fossem, no entanto, uma barreira que acendeu a mente do homem contra seu próprio sangue. Quem sabe o quão ruim devia viver preso com um peso morto que apenas tinha seu dinheiro sujo a oferecer?
— Talvez se eu fosse mais como ele, eu poderia entender... Entender suas dores e sentimentos, desejos e desgostos.
Eu devia ter perguntado… eu sei que ele é forte, mas Eliot não é como eu que guarda dores, eu não sou nenhum pouco como ele… Eu devia ter mostrado que me importo.
Se eu tivesse sido melhor, quem sabe dessa maneira eu poderia dizer na sua linguagem como te amo...
O dedo deslizou por seu rosto pintado no quadro, sempre de azul, com os cabelos bagunçados e rindo. Sempre contagiando sua vida com sua alegria e amor, ele a amava, não amava? Ele lutou por anos vivendo num quarto no quintal de uma velha bondosa para dar a eles uma vida melhor, ou lutou para ganhar uma vida melhor para si?
Se revirou na cama, sem saber ao certo o que pensar da sua situação ou o que fazer a seguir.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora