Capítulo 18. Aniversário de Sun

21 7 1
                                    

“Você fica linda quando mente. Tão boa...” — Henr Verus.

O tempo passou como água na cachoeira, era impressionante como já haviam percorrido uma parte significativa da Rússia mesmo a pé.
Hoje em questão, era o dia para comemorar o nascimento de Sun White, que devia se distrair durante o dia enquanto sua festa fosse preparada.

— Faz tempo que não andamos a sós, não é mesmo, senhorita Lilith? — Sorriu caminhando, sem seu colete que estava sujo.
— De fato, garoto…
— Mas por que decidiu me levar a um passeio justo hoje?
— Hoje? O que tem hoje? Algo de especial? — A mulher ficou nervosa e seu rosto se coloriu, balbuciando e sem saber onde olhar.
— Não, não há nada de especial hoje — O garoto sorriu.
— Uh... — Murmurou — O que quer fazer?
— Quer tomar um sorvete? Podemos fazer um piquenique.
Riu — Sem toalha?
— Tem razão, sem toalha!

Compraram então seus sorvetes e caíram no primeiro banco da praça que viram.
O sol raiava gentilmente no céu como deveria fazer, algumas crianças corriam para os lados, pessoas alimentavam os pombos e o clima estava confortável.
Riu — Quanta criança.
— São adoráveis, não vejo a hora de ter meus filhos.
— Com certeza serão engraçadinhas como o pai.
— Pelo menos vão ser lindas como a mãe — Trocaram olhares demorados e seu sorriso diminuiu — A senhorita mudou muito, sabia?
— Mudei?
Lambeu os lábios e seu sorvete — Mudou. Lembro de como me odiava e se irritava com qualquer suspiro meu. Parecia uma mulher muito mais raivosa do que realmente é.
Abaixou o rosto e encarou suas mãos — Me perdoe… Eu não odiava você, mas tinha uma visão diferente de você. Achei que você tinha segundas intenções me seguindo, que quisesse se aproximar para me apunhalar em seguida.
— Eu entendo você. Forcei muito a barra para conseguir te mostrar que eu realmente queria ser seu amigo.
Acho que foi bom, se eu não tivesse superado minha timidez para te importunar não seríamos próximos.
Balançou a cabeça levemente e mordeu o cone do sorvete — É mesmo, acho que eu precisava de um pestinha no meu pé — Riu.
— Ei, senhorita Lilith… Por que era tão frustrada antes? Não era feliz com seu irmão.
— Eu era feliz... mas houveram coisas em meu passado que me trouxeram a ser assim.
Para me tornar a assassina famosa que sou e ter dinheiro para sobreviver precisei entrar numa guerra.
— Você esteve em uma guerra?!
— Sim… O rei sabia de mim mesmo fingindo que não para não me caçarem como na infância. Ele me deu essa oportunidade para poder ter dinheiro e sobreviver — O encarou e sorriu — Desde então a agora rainha me protege de ser presa pelos assassinatos, eu sou uma baita sortuda.
— Muito sortuda. Menos na parte de ser caçada…
— Não é um assunto que eu gostaria de tocar… Por algum motivo eu era alvo da igreja na infância. Meus pais deviam ter feito alguma merda muito grande…
— O bom é que agora as coisas estão melhorando com o tempo.
Jogou a cabeça para trás e riu alto — Tem razão! Agora eu ganho bem e vivo bem… na medida do possível…!
— Ganha muito?
— Muitíssimo, porém uso o dinheiro mais para assuntos importantes. Como a faculdade do Eliot e a minha.
— Pretende fazer também?
Sorriu — Claro! Eu não consegui com dezoito e agora que estamos viajando também não tenho como. Só que quando eu puder quero muito poder terminar meus estudos…

Sun brincou com os dedos de suas mãos vazias e suspirou.
Seu rosto parecia aquecer sempre que olhava para o rosto de Lilith e a ouvia falar.
— Fico tão feliz que compartilhe sobre sua vida comigo… — Fechou os olhos e sorriu — Não sabe como isso me faz feliz.
Jogou seu braço pelo banco — O que mais quer saber então?
— As cicatrizes… As do rosto.
Engoliu a seco e desviou o olhar — A na bochecha foi num ataque… demônios atacaram uma cidade em que eu estava passeando.
A jovem tentou segurar o líquido salgado que teimava em querer descer de seus olhos mas que não permitia sua saída.
— E o nariz?
— Foi no dia em que meu pai morreu…
Olhou para baixo, percebendo sua dor — Sabe… não sei muito sobre meus pais, sei que eram reis de outro país, que eram legais e que morreram. Vivi num orfanato.
O olhou surpresa — É mesmo? Um nobre.
Riu — É, um nobre. Edgar não podia reinar na sua idade e fugiu comigo para não vivermos sozinhos naquele palácio — Suspirou e torceu o nariz — Ele era vangloriado onde quer que fosse, era o centro de tudo e todos.
Todos queriam ser ele, queriam ser fortes, bonitos, inteligentes e engraçados.
Eu era uma pequena sombra sozinha que só vigiava sem falar nada, sem ter um amigo que não fosse ele…
Tocou seu ombro — Ainda pensa isso?
— Há um tempo já não penso nisso… Hoje convivo bem sabendo que nunca vai haver um melhor que outro. Eu sou grato por ele ter sido mais que um irmão pra mim, se não fosse ele eu não sei o que seria de mim — Seus dedos se entrelaçaram em suas ondas atrás da cabeça — A gente até viveu bem depois do orfanato. Às vezes ficamos por mais de um ano numa única casa, às vezes nem um mês mas nunca sem teto — Sun levantou a cabeça — Conversar assim com você me faz lembrar da vez em que estivemos naquele lago da floresta, foi como um começo para nós mesmo você espumando de raiva.
— Sim... eu me recordo, aquele era meu lugar favorito da cidade com o garoto que eu comecei a detestar — Riu.
— Eu não tirava os olhos das suas cicatrizes.
— Eu percebi — Soltou um murmúrio envergonhado. — Nem do meu corpo...
Sun sorriu, sabendo que não era verdade — Apenas de seus olhos... — Seus rostos se aproximaram — Eles ainda são tão profundos, são irresistíveis.
— Os seus refletem a luz das estrelas — Riu — Não sei se é apropriado dizer isso, parece brega…
— Todo mundo é brega às vezes, e é apropriado... Eles estão fazendo isso agora? Mesmo de dia?
— Sim — Os dois riram — O sol é uma estrela, então deve ser isso.
— Não... eles brilham assim toda vez que vejo a senhorita, talvez seja você a estrela que eles refletem — Suspirou — Senhorita.
— Sim?
— Um dia, eu quero me casar com você. Vou me tornar um homem grande e forte, forte o suficiente para protegê-la e merecer seu amor, eu prometo.
Sorriu — Eu gosto dessa ideia… acha que podemos ter filhos?
— Quantos quiser.
Riu alto — E vai dar conta de cuidar?
— Claro que vou!
— Sei… Tenho minhas dúvidas.
— Eu vou te provar um dia!
— Tomara.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora