Capítulo 19

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A menina parecia outra quando não estava chorando e sim brincando com a jovem sentada ao seu lado no tapete emborrachado e colorido que formava uma espécie de quebra cabeça no chão. Ela ria pros brinquedos que a babá lhe mostrava, batia palma pras musiquinhas que ela cantava, e parecia mais curiosa e esperta que as outras crianças do mesmo ambiente. Ao menos ele gostaria de acreditar que ela era mais especial. Ou talvez a visse em destaque porque estava prestando atenção só nela.

Já faziam dois dias desde a última vez que ele a viu – naquela noite em que ela estava febril e ele foi confundido com seu pai. No dia seguinte a cirurgia dos quíntuplos, Addison esteve no hospital apenas pra checar os bebês e a mãe, provavelmente pra conferir se tudo estava como ela imaginava, mas foi uma passagem rápida, que nem foi suficiente pra que eles se encontrassem em algum momento. Ele só soube que ela esteve lá porque reconheceu a letra nas anotações do prontuário que ficava a disposição dos médicos na sala da UTI neonatal que as gêmeas dividiam.

Não havia necessidade de ela acompanhar o caso de perto. Era cirurgiã visitante, só estava naquele hospital por aquela cirurgia e poderia deixar qualquer outro cirurgião com o mínimo de experiência pra supervisionar o caso se ela quisesse voltar pra Nova York.

Por um momento ele imaginou que ela faria exatamente aquilo, mas agora tinha ouvido os comentários de que ela estava de volta ao hospital pra acompanhar o pós-operatório de Dorie Russell. Richard tinha chamado. Estava preocupado com o quadro depressivo que a paciente parecia estar desenvolvendo depois da morte de sua filha Emily – a gêmea que foi operada por Burke.

Era certo que o caso da recém-nascida não tinha solução, mas ainda assim Dorie não aceitava a perda e aquilo era compreensível já que ela era a mãe. A equipe não sabia como consolá-la, Addison também parecia não saber, mas certamente tinha mais experiência com aquele tipo de caso do que qualquer um deles. Mães-aflitas-com-esperança-no-impossível sempre fez parte de sua rotina. Ele nunca entendeu como ela lidava com isso.

Mas quando soube do rumor de que a esposa estava no hospital, Derek decidiu ir até a creche conferir se a menina estava lá. Não lembrava como era o nome dela, e nem sabia se queria lembrar. Apesar de poder entrar lá pra vê-la de perto – ninguém estranharia já que ele era o pai – ficou observando através de uma parede de vidro, que separava o local onde as crianças brincavam, do local onde a recepção ficava.

Ela parecia bem mais confortável do que naquela noite, e menos frágil também. A babá que cuidava dela – e era a mesma que ele lembrava de ter visto na primeira vez que a viu, quando Richard lhe contou sobre sua existência – ficou de joelhos pra sentá-la em uma cadeirinha vermelha, e nesse momento pareceu percebê-lo. Sorriu simpática.

- Ei, Ella! Olha quem está ali. É o papai _ ela disse apontando pra ele _ Você quer ir lá brincar com o papai? Quer brincar com o papai? _ perguntou.

Mas a criança parecia não entender.

- Olha lá o papai! _ a babá insistiu apontando para Derek _ Diz oi pro papai. Oi, papai! _ disse balançando a mãozinha da menina _ Oi, papai!

Ele nem sabia como reagir. Ficava até um pouco envergonhado ao imaginar que internamente aquela criança se perguntava porque todo mundo pensava que ele era o pai dela. Ela sabia quem era o pai dela, e se pudesse falar talvez entregasse que ele era um impostor.

- O senhor pode ir lá se o senhor quiser, doutor _ a moça que trabalhava na recepção informou _ O senhor pode ficar com ela por um tempo. Não é aconselhável porque eles precisam se acostumar, mas... A gente entende que também faz parte do período de adaptação.

- N-Não, eu só vim checar _ ele disse desviando o olhar.

Nem sabia porque estava lá.

- E-Está tudo bem? Ela está bem? _ perguntou.

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