ᴛʀᴇ̂s

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Bato na porta antes de entrar

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Bato na porta antes de entrar. Nunca sei o que fazer depois de alguma discussão ou algo parecido. Mas talvez resolver isso é a melhor opção.

———— Posso me sentar aqui? Trouxe café.

———— Pode. Mas só por causa do café.

———— Desculpa por antes. ———— digo.

———— Sabe o motivo de eu querer ter trabalhado na pediatria? ———— eu não respondi nada ———— Quando eu era mais nova, fiquei muito doente perto do aniversário do meu pai. Foi um choque para os meus pais porque eles tinham medo que eu não conseguisse me recuperar, e então, eles se separaram, não tenho notícias da minha mãe desde aquele dia.

Enquanto ela falava, não trocamos nenhum olhar. A gente estava evitando isso.

———— A médica que cuidou de mim era especializada na pediatria. Ela sabia o que estava fazendo e aquilo me deixava tão tranquila. Demorou quase três meses para eu ficar melhor e quando isso aconteceu, eu decidi que queria trabalhar com a pediatria. ———— suspirou ———— Aquela médica me fez querer quem eu sou hoje, porque assim como ela me curou, eu posso curar outras pessoas.

———— Por que nunca me contou isso?

———— Porque quando eu quis te contar, você resolveu agir como estranho e se afastar.

É complicado falar desse assunto, as vezes prefiro até evitar pensar nisso. Mas toda vez em que se encontramos, lembro de cada noite em que ficamos juntos.

———— Não quero me apegar a Sofie, mas eu tenho certeza de que a assistente social dela não vai nem pisar nesse hospital.

———— E o que pretende fazer?

———— Talvez assumir como responsável dela.

Ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. Duvido que Alex deixaria uma loucura dessas.

———— Você é maluca?

———— Do que está falando?

———— Assumir como responsável de uma paciente é loucura. Você sabe que não pode se apegar aos pacientes.

———— Já sei disso. ———— diz ———— Mas se fosse meu filho naquela situação, e sei lá, eu tivesse morrido e a criança não tivesse pai, eu gostaria que um médico assumisse como responsável. ———— se levantou ———— Vou falar com o Alex, se a Sofie acordar, me avisa.

Assenti. Nunca fui bom com crianças, sempre que posso evitar qualquer caso com elas, eu faço isso. Sei que existem crianças com problemas cardíacos mas não existe só eu nessa área, então tenho que dar meu jeito para fazer outros cardiologistas trabalharem com isso.

Claro, uma vez ou outra preciso trabalhar com crianças, mas são poucas vezes que isso acontece. E sempre são casos que a cura é bem alta então não dura muito tempo.

Quase nem troquei alguma palavra com Sofie. Fico sem jeito e não sei explicar o motivo disso. Talvez seja por causa do bebê que nunca existiu, porque acho que eu era bom antes disso mesmo evitando casos com crianças.

———— Adivinha ———— ela entra no quarto e se senta na poltrona ———— , o Alex deixou.

———— É sério? Que legal! ———— sorri.

———— Que surpreendente, não sabia que você sorria.

Ri.

———— Você é bem engraçadinha.

———— Claro que sou. Dá 'pra você trocar de lugar comigo? A Sofie está acordando.

Tinha até me esquecido que estávamos em um dos quartos do hospital. Acho que essa deve ter sido a primeira vez em um ano em que conversamos sem discutir.

———— Ei, Sofie, como você se sente?

———— Ainda cansada.

———— Olha, pequena, nós não temos uma notícia muito boa para te contar. Nós fizemos a cirurgia e vimos que você está dodói.

Acho fofo o jeito que ela fala com as crianças. Nem todos tem esse dom como ela.

———— Eu vou ficar melhor?

———— Nós esperamos que sim, Sofie. Eu e o Dr. May vamos cuidar de você muito bem.

———— Eu não sei o nome dele.

———— Pode me chamar de Bay.

Shiv riu. Não entendi o motivo, mas acabei ignorando.

———— Bom, pequena, nós vamos te deixar descansar. ———— saímos do quarto.

———— Não entendi o motivo de você rir lá dentro.

———— É a primeira vez que eu vejo você deixar alguém te chamar por apelido.

———— Ela é uma criança.

———— Achei fofo, Bay.

Ela fez questão de dar ênfase na merda de um apelido.

———— Você vai me zombar por causa disso?

———— Claro que vou.

———— Qual foi o apelido que ela te deu?

———— Ninguém ter que me dar apelido, eu já falo meu nome com apelido para elas. Não sou idiota que nem você. ———— deu de ombros.

———— Não sou idiota.

———— Claro que não. ———— ela andava pelo corredor e eu ia atrás.

———— Dá 'pra você andar de devagar?

Shivani se virou e cruzou os braços. Não sabia o que iria dizer nesse momento.

———— O que foi?

———— Por que faz questão de me chamar de idiota?

———— Você quer uma lista de motivos? ———— pergunta ———— Acho que você sabe bem o motivo de eu te chamar assim.

Claro que eu sabia. Que droga. Sei que cometi muitos erros no passado, mas ela também, e sendo sincero, ela fez parte de muitos deles.

———— Você falou que eu tinha que parar de ser babaca para trabalharmos juntos, quem está sendo babaca é você.

———— Desculpa. ———— fala.

Não lembro qual foi a última vez que ouvi ela dizer "desculpa". Acho que era uma coisa rara ou talvez lenda urbana.

———— Você pediu desculpa?

———— Acho bom você pensar antes de me zombar.

———— Não vou fazer isso, mas é muito raro ver você falando essa palavra.

———— Falo isso para poucas pessoas.

Deve ser bem provável. Nem todo mundo diz "desculpa" toda hora.

———— Que horas seu turno acaba?

———— Às duas. Por que?

———— Quero trabalhar no caso da Sofie.

———— A gente acabou de descobrir o miocardite. Acha que é uma boa ideia? ———— pergunto.

———— Exatamente. Nós descobrimos agora, quanto mais trabalharmos nisso, mais podemos ver coisas para fazer e não deixar ela morrer.

Ela tinha um bom argumento. E não posso dizer que estava errada dessa vez.

———— Tudo bem. Vamos lá.

 ᴛᴏɢᴇᴛʜᴇʀ ғᴏʀ ᴀ ᴘᴀᴛɪᴇɴᴛOnde histórias criam vida. Descubra agora