Prólogo

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Pov Wednesday

Recordo-me, com profunda clareza, o tom em verde desgastado, o qual compunha uma capa rígida de um atrativo livro. "Permaneça atento, nem todas as coisas ao seu redor funcionam como alicerce, podendo assim, ser âncora", esta frase se instalou em minha filosofia de vida simples, objetiva, e um tanto quanto impolida.

Portanto, meu altamente treinado sentido de espaço, notou instantaneamente quando uma projeção, minimamente mais alta que eu, principiou a seguir-me.

Sua proximidade se tornou maior e, desta forma, em uma atitude de auto preservação, impunhei uma lâmina, virando-me de frente para meu oponente, em posição de ataque.

- Sweetheart! -a saudação possuía um tom afetuoso, o qual a loira não via problema em demonstrar.

Enid afastou, com delicadeza, a faca que eu apontava em direção ao seu coração e deslizou seus braços longos por meu pescoço, abraçando-me com ternura.

- Largue-me imediatamente Sinclair! -meu pedido teve sua recusa, a garota simplesmente o ignorou- tem consciência de que possuo um instrumento cortante ao alcance de sua artéria carótida? -meu questionamento, irônico, não surtiu efeito.

- Eu consegui assustar você? -sua voz soou baixa e seus azuis brilhosos se encontraram com os meus castanhos, denunciando sua expectativa.

Enid Sinclair não havia me assustado. Nada e nem ninguem possuía poder para causar em mim a sensação de medo.

Mas algo havia mudado.

- Seus passos furtivos são falhos, eu lhe percebi, contudo, de qualquer modo, você me surpreendeu -afirmei sem emoção, não querendo revelar meu tom mentiroso.

Minha admissão foi o bastante para receber um sorriso grande e satisfeito por parte da loira.

- Senti sua falta Wendy! -murmurou contra meu peito para, por fim, se afastar.

- Não espere qualquer tipo de declaração de minha parte, ou vai morrer por isto -resmunguei, sentindo seus olhos inocentes queimando sobre mim.

- Nunca, por hora, me contento com a reciprocidade muda -retrucou em diversão, lançando uma piscada.

Enid Sinclair era uma garota que parecia não temer a morte, pois ousou entrelaçar nossos dedos, sendo minha acompanhante durante o percurso para o nosso dormitório.

Nenhum outro ser humano no mundo teria aquele privilégio, tocar-me tão abertamente e sobreviver, mas o contraste, entre a sua temperatura quente contra meu corpo frio, não me incomodava como antes.

- Bem-vinda de volta ao prédio Ofélia! -a mais nova exclamou, em evidente animação.

O quarto, o qual eu dividia com a loba, exalava divergência em todo e qualquer aspecto. Seu lado colorido invadia meu espaço, sem ao menos pedir permissão.

Minha atenção caiu sobre um porta retrato rosa, ocupando minha mesa de trabalho. A imagem mostrava a lupina agarrada ao meu braço, dando-me o maior dos seus sorrisos, enquanto recebia um bico desgostoso por minha parte.

- Um pequeno toque meu, espero que goste -explicou brincando com seus dedos, como uma criança costuma fazer.

Troquei um olhar com a maior, relativamente significativo, não diria aquelas palavras em voz alta e Enid sabia disso. Ela me conhecia o suficiente para entender tudo o que eu queria dizer, sem que eu precisasse, de fato, verbalizar.

Minha SinclairOnde histórias criam vida. Descubra agora