Minha Sinclair

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Pov Wednesday

O silêncio de Enid era incomum, um tanto doloroso.

Sua mão esteve junto a minha durante o caminho feito para o cemitério, entre as trocas de olhares tristes entre ela e seu irmão, e enquanto a terra cobria os caixões. Somente se soltaram quando a maior estava abraçada a Tedros.

Uma semana, foi o suficiente para que eu me recuperasse, assim, locomovendo todos os recursos, que o sobrenome Addams possuía, para achar os corpos dos pais de Enid. Eles estavam em tal estado de decomposição, que não puderam ser vistos em seu funeral, mas ao menos seria um lugar digno para descansarem.

Meus castanhos, quase negros, estavam fixos sob os lobos em frente ao túmulo. Eles eram os únicos que permaneciam ali e, parecendo notar, vieram ao meu encontro.

Afaguei o ombro de Tedros em consolo, recebendo um sorriso fraco, e estendi meus braços, recebendo a Sinclair.

- Eu gostaria de ter as palavras certas para vocês -admiti, deixando um beijo no nariz meio vermelho de Enid- sinto muito -sussurrei desconcertada, me sentia tola e impotente.

- Eles não foram os melhores, mas, de qualquer forma, eram nossos pais -Tedros suspirou, voltando a se recompor.

Entrelacei meus dedos com os de sua irmã e nos guie em direção ao carro, me acomodando com ambos no interior do veículo.

Devido aos últimos acontecimentos, o ano letivo em Nevermore fez uma pausa. Os Sinclair permaneceriam comigo, Enid era a garota que eu amava e Tedros seu irmão, eram Addams, independente de qualquer coisa.

Nossa chegada foi muito bem recepcionada, minha família os acolhereu de modo tão afetuoso, que soava como se eles amassem aqueles irmãos desde muito tempo.

Pugsley ficou encantado por Tedros, sua admiração roubava o tempo do garoto, não o deixando pensar em quaisquer coisas negativas, afinal, estava ocupado demais ensinando armadilhas de caça para o mais novo.

O suspirar de minha garota rompeu-me os pensamentos e eu desviei a atenção do meu livro, deixando-o sob a cabeceira de nossa cama.

- O que vem deixando seu coração inquieto, mon cher? -questionei, enquanto a mesma se aproximava, sentando em meu colo.

- Nada -murmurou sem firmeza alguma, deixando-me preocupada.

- Sinclair, você não sabe mentir -retruquei com um olhar tedioso e a maior comprimiu seus lábios.

- Sweetheart, o que somos? -questionou inocente, com expectativas palpáveis, causando-me falta de ar.

- Seremos tudo o que você quiser Enid -respondi simples, acariciando suas bochechas.

- Então, por que ainda não sou uma Addams de fato? -sua voz soou com tanta insegurança e medo, que eu senti um amargor no paladar- não me entenda mal, eu amo sua família e me considero como parte, mas eu quero aceitar o seu sobrenome sendo oficialmente sua garota -sussurrou como uma tímida criança.

- Sinclair, minha natureza não se prende a coisas triviais como rótulos -afirmei sem emoção, vendo os azuis marejarem- entretanto, indo contra este princípio, sei o quanto é importante para você e, acredite, é importante para mim da mesma forma -sentenciei, não sentindo mais medo de ver a suas lágrimas, mas alívio ao notar seu sorriso.

Estiquei meu braço, dando sutis toques contra a madeira da cômoda. Como um educado vizinho parasita, Thing abriu a gaveta, estendendo-me uma pequena caixa, para então, voltar a se concentrar em uma revista qualquer.

- Estava em meus planos saciar sua dúvida, me obrigando a lhe fazer este pedido de maneira grandiosa e doce, como você quer e merece, mas sua ansiedade é grande demais -sussurrei em brincadeira, todavia, a mais nova não retribui com uma risada.

Enid paralisou diante das alianças em minhas mãos, não conseguindo reagir, e sua respiração era tão inexistente, que a mesma quase parecia morta.

- Você vai me pedir em namoro Wed? -o tom emocionado foi um gatilho para meu revirar de olhos.

- Não chore Sinclair, vai fazer meu pedido parecer ainda pior e menos romântico -pedi, tendo-a próxima a mim.

- Não estou chorando! -respondeu com um sorriso instável, voz fraca, e lágrimas escorrendo por sua face.

- Não posso acreditar que deixei Barclay e Tanaka me convencerem a comprar balões em forma de coração, os quais não vou mais usar -murmurei para mim mesma, tentando restaurar um pouco da minha dignidade.

- Pediu ajuda a Bianca e Yoko? -perguntou divertida, recebendo um olhar mortal.

- Elas envolveram a todos! Eugene chegou a me mandar um pote de mel de boa sorte! -admiti e Enid não conseguiu conter sua gargalhada.

Eu dei um sorriso, contagiada pela felicidade da mesma, e então coloquei aquela pequena caixa entre nossas mãos.

- Enid, eu não sei ser uma romântica perfeita ou sequer demonstrar afeto direito, no entanto, posso aprender a retribuir e compartilhar tudo! Inclusive meu precioso espaço pessoal, desde que seja contigo -complementei encostando nossas testas, ficando em silêncios por alguns segundos em busca de coragem.

Aquele era o passo mais certo que eu estava dando. Isto eu distinguia com perfeição.

- Namora comigo? -pedi, me perdendo naquele mar azul, tendo a certeza que estava sentenciando meu fim.