Minha Sinclair

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Pov Wednesday

A bochecha quente de Enid estava contra a minha, invadindo meu espaço e atrapalhando meu campo de visão.

- Sinclair, permita-me redefinir uma coisa, uma luneta é um instrumento que estende a capacidade dos olhos humanos de mensurar objetos longínquos, é um dispositivo individual! -expliquei com um bico irritado, recebendo um sorriso travesso.

- Eu sei Wed! Foi por este motivo que comprei isto! -sussurrou animada, retirando de sua bolsa um binóculo- agora podemos observar as coisas juntas! -explicou em expectativa, tranzendo-me para perto de si e juntando nossas faces novamente.

Não dei-me ao trabalho de discutir sobre, somente aceitei, a contra gosto, dividir o aparelho com maior.

- Vocês são tão fofas juntas -Yoko elogiou baixo, recebendo a cumplicidade de Thing.

- Repita novamente e não vou poder garantir sua segurança -resmunguei sem lhe olhar, podendo ouvi-la engolir a seco.

Fazia alguns dias desde que me foi concedida uma visão. Eu sabia como usar a chave que havia arrancado do maldito lupino, somente necessitava de uma distração.

Era noite de lua cheia, então, deduzi que meu inimigo estaria ao encalço de Enid, uma vez que a loba não passava mais suas noites, solitária, em nosso quarto.

Como excelentes intrometidos, os belladonna se incluíram em todo esquema. Bianca, Eugene e Xavier me davam cobertura, o apicultor andava a vista, recebendo uma projeção do loiro, que por sua vez, tinha sua retaguarda protegida pela sereia.

Enid deu um espirro baixo e contido, em decorrência do frio, e eu retirei meu casaco, colocando-o sobre seus ombros. Admitia que não lhe queria aqui, correndo perigo, mas a teimosia da lupina era inabalável.

- Estou com sono -reclamou manhosamente, roubando meu colo para si e escondendo o rosto em meu pescoço- acha mesmo que ele vai cair em nossa armadilha? -perguntou em inocência, brincando com a gola de minha camisa.

- Ouviu falar sobre a maneira com que o esquimó caça lobos? -perguntei recebendo seu negar, junto a olhos azuis curiosos e atentos.

Sinclair soava como uma criança e, envolta em meu sobretudo preto, preenchia-me com ternura.

- Enfrentá-los seria muito perigoso, então ele conta com o instinto do animal -dei ênfase nesta parte- o esquimó alterna, na ponta de uma afiada faca, generosas camadas de sangue com finas camadas de gelo, e ao fim deste processo, fixa a faca no chão, em uma região onde lobos caçam -expliquei, notando a nota de confusão na face da loira.

- Eu iria cair nesta armadilha -Yoko se manifestou, em descontração, revelando que, além de Enid, Thing e ela também ouviam.

- O cheiro do sangue atrai o lobo e o animal começa a lamber o mesmo, então, sua língua quente derrete o gelo, que adormece o órgão, sendo assim, o lupino não sente quando a lâmina começa a corta-lo e morre de hemorragia -conclui recebendo medo e agonia dos demais.

- Então, estamos contando com o instinto animal do meu caçador? -a mais nova perguntou, em um gemido receoso.

- Não Enid, estamos contando com o instinto animal da nossa presa -afirmei, voltando a me concentrar na observação.