Capítulo 15

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Estava estudando em meu quarto quando um bando de garotas passaram gritando e rindo pelo corredor, me atrapalhando.

Vou até a porta, abrindo, para checar. O grupo está um pouco afastado, mas ainda consigo ouvir.

— Ele está com a Victoria agora, mas aposto que não vai olhar na cara dela amanhã! - uma loira riu.

— Ele nunca fica com ninguém mais de uma vez... - uma ruiva agora.

— Mas ele era tão privado sobre isso, e agora tá transando com todo mundo... o que será que aconteceu? - uma morena dessa vez.

— Seja lá o que aconteceu, quero que me coma também! - a loira de novo, fazendo as outras duas rirem - Ontem foi a Liana, e ela disse que ele é um Deus no que faz!

A ruiva se abana. — Ai... eu quero me banhar naquele homem! Ele é tão gostoso!

— Uma pena que não repete o prato... - a morena diz, e elas se afastam.

Eu já sei de quem elas falam. O bolo em minha garganta não some.

Há três semanas aconteceu o episódio da festa. Há uma semana, a aula em que cheirei Amortencia e descobri que eu estou apaixonada por ele. E desde aquele dia, Mattheo não esconde mais que come uma - às vezes três - meninas por dia. E ele nunca repete.

Venho observado ele. Como ele anda fumando demais. Como anda enviando tantas cartas. Como anda bebendo muito.

Como vira e mexe sai andando pela escola com rosas mortas na mão.

Sempre rodeado por garotas.

Mas estou ficando obcecada. Minha cama absorveu seu perfume nas poucas vezes que esteve em meu quarto. As marcas que sua boca deixou em minha pele estão sumindo, mas não quero que saiam.

Os livros que o vejo ler na biblioteca são os que eu leio assim que disponíveis. Romance. Política. Magia básica dos elementais. Não importa.

Tenho sonhado com ele todos os dias. Acordado com o coração disparado e em tristeza profunda. Abstinência.

Sinto falta de seu toque. De sua voz. Seu cheiro, calor, pele. De tudo.

Minha aparência está péssima. Draco e Pansy vêm tentando me fazer comer o mínimo para que eu não desmaie, mas não é todo dia que conseguem.

Há olheiras enormes abaixo de meus olhos por tantas noites em que choro até dormir.

Meu coração dói.

Respirar dói.

(...)

A luz pisca. Ele me puxa por entre as pessoas, me guiando até o canto mais escuro do salão. Estou rindo, a bebida me deixa mais leve.

Ele segura em minha cintura, me vira e mexe em meu cabelo. Você é linda.

Seus lábios roçam os meus, e eu fecho os olhos, em expectativa. Merda, qual o nome dele mesmo? Ele é bonitinho. Acho que é Luke... ou será Paul?

Minha mão é puxada e quando abro os olhos, Luke-Paul está me encarando com dúvida. Olho para trás, vendo a pessoa que eu deveria estar esquecendo nesse momento. O que você está fazendo?!

Ele não me responde, só me puxa, me levando para longe de Luke-Paul. Me levando para fora da festa.

Inferno! Riddle, me solta, porra!

A gente anda por entre os corredores escuros de Hogwarts até chegarmos na comunal da Sonserina. Ah, é. A festa estava sendo dada pela Corvinal.

Ele me empurra pelos andares e me prende contra a porta de meu quarto. O que aconteceu com ele? Está ofegante.

Faço um biquinho. Você estragou meu casinho...

Ele não me responde. A bebida está batendo forte demais, e eu tenho quase certeza de que misturei algumas coisas.

Olho para os lados, e vejo que estamos sozinhos. Por que nos tirou de lá?

Ele não me responde. De novo. Me irrito, virando para abrir a porta do quarto, quando ele me segura.

Volto a olhá-lo, esperando.

Seu olhar está queimando em mim. Meu corpo inteiro queima por ele.

A verdade é que nós conversamos hoje no refeitório sobre uma das provas, e eu senti falta da sua voz no minuto em que ele desviou a atenção de mim para Chloé. Fiquei com ciúmes e decidi que na festa, iria pegar todo mundo.

Mas ele atrapalha minha primeira tentativa de beijo!

Seu olhar desce para minha boca, e ele respira com ainda mais dificuldade. Minha própria respiração sai de ritmo. Sinto seu joelho entre minhas pernas e me pergunto se ele sente o quão quente estou lá embaixo.

Sua mão vai para minha bochecha, seu olhar queima em minha boca. Ele se aproxima, nossos lábios tão próximos que sinto sua respiração sobre minha pele.

Nossos lábios roçam um no outro. Um sussurro de beijo que desperta meu corpo inteiro.

Fecho os olhos, pensando que não queria de jeito algum esquecer dele na festa, mas causar ciúmes. Parece que funcionou.

Mas ele simplesmente... se afasta.

Abro meus olhos, e ele ainda me encara. Respira como alguém que acabou de correr uma maratona.

Respiro fundo, tentando me acalmar. Por que se afastou?

Ele não me responde - de novo. E sai andando. Eu vi sua mão carregando um pedaço do meu coração para longe também.

(...)

Acordo com o coração na boca. Respiro fundo, acalmando minha respiração.

Depois daquele dia, ele passou a me encarar descaradamente. Me encontrava nos lugares mais inusitados e conversava comigo.

Mesmo que com poucas palavras, ele falava comigo. Lembro de suas palavras naquela tarde, na torre de Astronomia.

Ele tinha acabado de me dizer o motivo de fumar.

"Eu nem sei o porquê de estar falando isso para você.
Talvez você precisasse de alguém para te escutar. Não passe a me evitar por isso, por favor.
Não vou te evitar."

Mentiroso.

Respiro fundo, olhando em volta.

Não, eu preciso fazer alguma coisa. Provavelmente vou me humilhar por isso, mas quero saber o porquê de ele estar me evitando.

Levanto da cama, com lágrimas nos olhos e o peito doendo, calço meus chinelos e só visto o roupão por cima do conjuntinho de seda - muito - provocante que ganhei de Pansy.

Arrumo o cabelo e escovo os dentes. Olho no relógio, três e quarenta e dois da madrugada de sábado.

Respiro mais uma vez antes de sair do quarto e ir em direção ao dormitório masculino.

Quarentena - Mattheo Riddle (SHORT FIC) Onde histórias criam vida. Descubra agora