1 - Recomeço Doloroso

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Refazer as malas pela segunda vez em cinco anos nunca foi tão difícil, especialmente quando faltavam duas pessoas essenciais.

Há alguns dias, sofri um acidente de carro com meus pais. Infelizmente, eles não resistiram. O carro capotou várias vezes após um bêbado bater em nosso veículo em alta velocidade em um cruzamento. O homem também não sobreviveu.

"Você teve sorte, garota. Foi a única sobrevivente," disse o doutor antes de me dar alta. Mas eu não me sentia sortuda, apenas vazia. Era como um soco forte no estômago, junto com uma tristeza profunda, e eu havia perdido a vontade de viver.

Quando acordei na cama do hospital, após três dias inconsciente, a única pessoa que vi foi minha avó, que ficou ao meu lado o tempo todo. Infelizmente, perdi o velório dos meus pais, o que intensificou minha tristeza. Não ter tido tempo de me despedir me corroía por dentro.

Olhando ao redor, lembrei-me de que no verão passado havíamos viajado para cá para passar as férias com a vovó. A imagem dos meus pais sorrindo no corredor veio à mente: mamãe colocando a cabeça para dentro do meu quarto para me chamar para o café da tarde. Minha garganta queimou, e a vontade de chorar veio, mas eu estava tão abatida que não havia mais lágrimas a derramar.

Guardei minhas roupas no guarda-roupa e coloquei um porta-retrato ao lado da cama, sobre uma cômoda com um abajur. Na foto, estávamos eu, meus pais e nosso cachorro branco, Bugh, tão peludo quanto um ursinho. A imagem era de uma fazenda onde passamos as férias, um lugar tão lindo quanto estar na praia.

Sentei-me na cama, desisti e me deitei, escondendo a cabeça sob o travesseiro e desmanchando-me em lágrimas, o pouco que restava. Chorei como uma criança e me entreguei à dor e à saudade. Nunca mais os veria. Os pais que, há três dias, estavam ao meu lado, fazendo planos para o próximo verão, agora eram apenas vozes perdidas no tempo.

Senti uma mão leve passar por minhas costas e levantei o rosto. Vovó estava com um pequeno sorriso, me olhando com simpatia. Então a abracei forte, como nunca antes. Eu estava tentando me manter forte desde que saí do hospital, evitando chorar perto dela, mas não aguentei mais. Sabia que ela estava sofrendo tanto quanto eu; ela havia perdido uma filha e um genro. Ela afagou meu cabelo e suspirou. Eu não podia ver, mas sabia que ela engolira o choro.

_ Vai dar tudo certo - sussurrou em meu ouvido, me fazendo olhar para ela.

Apenas concordei com a cabeça e enxuguei as lágrimas.

_ Vamos almoçar, já está pronto, e depois vamos dar uma volta para ver se o ar melhora - sorriu, tentando descontrair o clima, enquanto enxugava disfarçadamente outra lágrima e saiu do quarto.

Levantei-me, peguei um vestido florido e fui tomar um banho. Me olhando no espelho, vi as olheiras e o rosto inchado. Despi-me e tomei um longo banho morno.

Vovó estava à mesa à minha espera e sorriu ao me ver.

_ Sente-se, vamos comer antes que o almoço esfrie - disse, servindo a comida no meu prato.

Almoçamos em silêncio. Eu não tinha assunto; minha mente estava vazia.

_ Sei que está muito cedo para isso, mas... - começou ela, colocando o garfo cuidadosamente ao lado do prato - já fui atrás de uma escola para você. Como faltam apenas alguns meses para acabar o ano, não achei certo você perder o restante.

Suspirei, frustrada só de imaginar ter que recomeçar em uma escola nova.

_ A senhora fez bem - sussurrei.

Ela permaneceu em silêncio enquanto terminávamos. O almoço estava delicioso, mas a tristeza era tão grande que nem consegui degustar a comida.

O dia realmente estava lindo. Deixei a casa da vovó e decidi dar uma volta sozinha, já que surgiu um compromisso de última hora. De certo modo, foi bom. Andar pelas ruas e respirar ar puro poderia aliviar um pouco da minha tristeza.

Califórnia sempre foi linda, sempre estava no topo da minha lista quando se tratava de férias, mas naquele momento, não tinha mais significado. A beleza do local se tornara sem cor. Não era justo uma garota de dezessete anos passar por isso. Ninguém merece essa dor inconsolável.

Passei por um parque, não daqueles com brinquedos, mas com árvores ao redor de um grande lago e bancos espalhados pelo gramado. O ar parecia mais puro ali. Sentei em um dos bancos e fiquei observando alguns patos nadarem.

Não lembrava de ter visto patos no último verão. Naquele momento, percebi como eu levava a vida de maneira tão corrida, a ponto de não notar patos brancos brincando no lago.

Após longos momentos sentada ali, refletindo sobre minha vida, finalmente voltei para casa para descansar. Afinal, amanhã começaria a aula.

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