26 - Um Passado Que Insiste Em Voltar

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Os dias após o confronto com Denise foram uma mistura de alívio e incerteza. Enquanto ela não me atormentava diretamente, uma sensação incômoda pairava no ar, como uma tempestade à espreita. No entanto, a vida seguia, e eu estava determinada a não deixar que seu rancor obscurecesse meu presente.

Na manhã seguinte, o sol brilhava intensamente, projetando raios de luz dourados através das folhas das árvores. Caminhei em direção à escola com uma sensação renovada de propósito, sentindo o calor da luz do sol em meu rosto como um sinal de que dias melhores estavam por vir.

― Bom dia, Sophi! – Adan me saudou com um sorriso radiante assim que entrei no pátio da escola.

― Bom dia! – respondi, sentindo uma alegria genuína ao vê-lo.

Ele se aproximou e pegou minha mão, seus dedos entrelaçando-se nos meus de maneira reconfortante. A presença dele era um lembrete constante de que eu não estava sozinha.

Na aula, apesar de Denise estar na mesma classe, consegui ignorá-la e focar no conteúdo. A sensação de normalidade estava voltando aos poucos, e eu me agarrava a ela como um náufrago a um pedaço de madeira.

Depois das aulas, Adan e eu decidimos dar uma volta pelo parque perto da escola. Caminhamos de mãos dadas, conversando sobre trivialidades e compartilhando risos. O parque estava vibrante, com crianças brincando e pessoas passeando com seus cães. O som do riso e o chilrear dos pássaros preenchiam o ar, criando um pano de fundo sereno para nossa tarde.

― Sabe, eu estava pensando em levar você para um lugar especial no fim de semana – disse Adan, seu olhar brilhando com expectativa.

― Ah, é? E que lugar seria esse? – perguntei, curiosa.

― Uma surpresa. Só posso adiantar que você vai adorar.

Seu mistério só aumentava minha curiosidade, mas eu adorava o jeito como ele sempre encontrava maneiras de me surpreender. Sentir essa empolgação era refrescante, um contraste bem-vindo após os últimos eventos turbulentos.

Enquanto voltávamos da nossa caminhada, passamos por uma antiga livraria que eu costumava frequentar. Algo na vitrine chamou minha atenção – um velho livro com a capa de couro desbotada, algo que eu sabia que minha avó adoraria.

― Vamos entrar? – sugeri, puxando Adan em direção à porta.

Dentro, o ar era impregnado com o cheiro familiar de papel envelhecido e tinta, um aroma que trazia uma sensação de conforto. Passeamos entre as estantes repletas de livros, o ambiente silencioso e tranquilo em contraste com o mundo lá fora.

― Eu costumava passar horas aqui – confessei, passando a mão por uma prateleira de livros antigos. – É um dos meus lugares favoritos.

― Eu posso ver por quê – disse Adan, pegando um livro ao acaso e folheando suas páginas com interesse.

Depois de escolher um livro para minha avó, pagamos na pequena mesa de madeira perto da porta e saímos. A sensação de nostalgia foi substituída por um sentimento de contentamento ao ver a satisfação nos olhos de Adan ao descobrir mais uma parte do meu mundo.

Quando chegamos em casa, Adan me deu um beijo rápido e prometeu me buscar mais tarde. Entrei na casa com um sorriso no rosto, segurando o livro contra o peito.

― Vó, olha o que eu trouxe para você! – anunciei ao entrar na sala.

Minha avó olhou para o livro e sorriu amplamente.

― Oh, Sophi! É maravilhoso. Você sempre sabe como me agradar.

Sentamos juntas na sala, conversando sobre o livro e outras coisas triviais. Era reconfortante passar esse tempo com ela, sentindo o calor do amor familiar.

No entanto, à medida que a noite se aproximava, uma sensação de inquietação começou a crescer dentro de mim. Não era um pressentimento ruim, mas uma espécie de ansiedade sobre o que estava por vir. Algo no jeito como Denise havia olhado para mim na escola sugeria que ela não estava pronta para desistir tão facilmente.

Quando voltei para meu quarto, ouvi um leve som de batida na janela. Caminhei até lá e, para minha surpresa, encontrei uma pequena pedra com uma nota amarrada. Abri a janela e peguei a pedra, desfazendo o nó que prendia o pedaço de papel.

― Encontre-me no parque à meia-noite, ou você vai se arrepender – dizia a mensagem.

Meu coração disparou. As palavras eram claras, e eu sabia de quem eram. Denise não havia terminado. Ela estava disposta a ir longe para me atingir, e agora eu precisava decidir como lidar com isso.

Sentei-me na cama, segurando a nota. A felicidade que eu sentira mais cedo se dissipou, substituída por uma sensação de inquietação. Adan precisava saber, mas eu também não queria arrastá-lo para algo que poderia ser perigoso. Eu precisava pensar com clareza, precisava decidir como enfrentar Denise de uma vez por todas.

Enquanto a noite se aproximava, eu sabia que a próxima meia-noite traria uma nova batalha. E dessa vez, eu estaria pronta.

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