No dia seguinte, eu estava me sentindo um pouco melhor. A manhã era ensolarada, com um céu azul claro sem uma única nuvem. O canto dos pássaros enchia o ar de uma tranquilidade que eu não sentia há muito tempo. Minha avó e eu nos preparávamos para uma visita à casa dos Connors para devolver a travessa de lasanha que Ettan tinha nos trazido. A visita aos Connors sempre era uma tarefa delicada para mim, principalmente por causa de Adan.
— Está pronta, querida? — perguntou minha avó, observando-me com um olhar terno enquanto eu ajeitava meu vestido azul claro.
— Sim, vovó. Vamos logo antes que eu mude de ideia — respondi, tentando forçar um sorriso.
Ela deu um aceno compreensivo, segurando a travessa de vidro que Ettan nos emprestou.
— Não se preocupe, Sophi. Será uma visita rápida. Apenas devolveremos a travessa e voltaremos logo para casa — ela assegurou, ajustando seu chapéu de palha.
Caminhamos até a casa dos Connors, que ficava a poucos quarteirões de distância. A casa deles era grande e acolhedora, com um jardim bem cuidado na frente, cheio de flores coloridas que balançavam suavemente com a brisa.
Quando chegamos à entrada, minha avó tocou a campainha. Eu observava o ambiente ao nosso redor, tentando ignorar o nervosismo crescente. Um momento depois, a porta se abriu, revelando Ettan com um sorriso caloroso no rosto.
— Bom dia, Ettan — cumprimentou minha avó, estendendo a travessa. — Viemos devolver isso. Obrigada pela lasanha, estava deliciosa.
Ettan aceitou a travessa com um aceno.
— Foi um prazer. Fico feliz que tenham gostado. Por favor, entrem, vocês chegaram bem na hora do chá.
Antes que pudéssemos recusar, ele nos conduziu para dentro. O interior da casa era ainda mais acolhedor do que eu me lembrava, decorado com móveis de madeira escura e uma lareira imponente. Fotos de família adornavam as paredes, retratando momentos felizes ao longo dos anos.
A sala de estar estava iluminada pela luz natural que entrava pelas janelas grandes, e um aroma convidativo de chá de ervas permeava o ar. Sentamos no sofá macio enquanto Ettan preparava o chá na cozinha.
— Espero que gostem de camomila — ele disse ao retornar com uma bandeja cheia de xícaras e um bule fumegante.
— Adoramos, obrigada — minha avó respondeu, pegando uma xícara.
Enquanto Ettan servia o chá, notei a presença de Adan ao pé da escada. Ele parecia surpreso ao nos ver, mas logo se recompôs, caminhando em nossa direção com um sorriso educado.
— Oi, Sophi. Vovó. Bom ver vocês aqui — disse ele, sentando-se em uma poltrona ao lado.
— Oi, Adan — murmurei, tentando esconder meu desconforto.
Ettan sentou-se ao lado de Adan, pegando sua própria xícara de chá.
— Fico feliz em ver vocês duas — disse Ettan. — Sophi, como está se sentindo hoje?
— Estou bem melhor, obrigada. A medicação ajudou bastante.
— Fico aliviado em saber disso. Você nos deu um susto ontem.
Antes que eu pudesse responder, Adan interveio.
— Fiquei preocupado quando soube que estava no hospital. Queria ter ficado lá por mais tempo, mas pensei que talvez precisasse de espaço.
Eu evitei seu olhar, focando no chá na minha xícara.
— Estou melhor agora, obrigada por perguntar.
O silêncio pairou por um momento, pesado e desconfortável. Ettan, tentando aliviar a tensão, começou a falar sobre a última partida de futebol que Adan tinha jogado.
— Adan fez um gol impressionante na semana passada. Deveria ter visto, Sophi. Foi um jogo emocionante.
— Eu... eu não sabia — murmurei.
Adan sorriu, claramente grato pela mudança de assunto.
— Foi um bom jogo. Precisamos de mais vitórias assim.
Minha avó, percebendo a situação tensa, tentou contribuir para a conversa.
— Sophi costumava jogar futebol quando era mais nova. Ela tinha uma energia incrível.
— É mesmo? — Ettan perguntou, interessado. — Não sabia disso.
— Isso foi há muito tempo — respondi, tentando desviar a atenção.
Ettan sorriu, mas antes que pudesse continuar, uma voz familiar chamou da cozinha.
— Ettan, o bolo está pronto!
Era a Sra. Connor, a mãe de Adan. Ela entrou na sala com um prato de bolo recém-assado, sua expressão se iluminando ao nos ver.
— Oh, que bom que vieram! Por favor, fiquem e experimentem o bolo. Está fresquinho.
Minha avó sorriu, agradecendo.
— Adoraríamos. Obrigada.
Enquanto o bolo era servido, a conversa fluiu um pouco mais suavemente. A Sra. Connor era encantadora e sempre sabia como fazer os outros se sentirem à vontade. Ela perguntou sobre a escola e como estávamos lidando com os estudos, o que ajudou a dissipar um pouco da tensão que eu sentia.
Adan e eu trocávamos poucas palavras, mas aos poucos, o ambiente se tornava menos opressivo. Ele parecia querer dizer algo mais, mas se conteve, talvez por respeito à nossa história complicada.
Depois de um tempo, minha avó olhou para o relógio e suspirou.
— Bem, acho que está na hora de irmos. Não queremos tomar mais do seu tempo.
— Ah, mas a visita foi tão agradável — disse a Sra. Connor, com um sorriso caloroso. — Espero que venham mais vezes.
— Obrigada pelo chá e pelo bolo. Estava tudo delicioso — minha avó agradeceu, levantando-se.
Ettan nos acompanhou até a porta.
— Foi um prazer recebê-las. Não hesitem em aparecer quando quiserem.
— Obrigada — eu murmurei, tentando sorrir.
Ao sair da casa dos Connors, senti uma mistura de alívio e incerteza. A interação com Adan foi desconfortável, mas eu sabia que eventualmente teríamos que resolver nossas pendências.
Minha avó, percebendo minha inquietação, apertou meu ombro gentilmente enquanto caminhávamos de volta para casa.
— Sei que foi difícil, Sophi, mas você lidou bem com a situação. Estou orgulhosa de você.
Assenti, apreciando seu apoio.
— Obrigada, vovó. Estou tentando.
Ela sorriu e continuamos nosso caminho em silêncio, cada uma imersa em seus próprios pensamentos. A visita tinha sido uma pequena, mas importante etapa para lidar com o passado e seguir em frente.
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Você Nunca Se Foi
Fiksi RemajaApós a trágica perda de seus pais em um acidente de carro, Sophi vê sua vida virar de cabeça para baixo. Ela retorna à casa de sua avó, um refúgio familiar em meio ao caos. A dor da perda é intensa, mas a acolhedora presença da avó lhe oferece um co...