Após tomar outra medicação no hospital, minha temperatura começou a cair. Fiquei em observação durante um tempo que parecia uma eternidade. Tudo que eu queria era ir embora, deitar na minha cama e dormir até o outro dia.
Anderson estava ao meu lado, sentado em uma cadeira de descanso, insistindo que eu comesse algo.
— Por favor, você não comeu nada desde cedo. Já são quase duas da tarde — insistiu.
— Se eu comer, vou vomitar — murmurei, passando a mão na barriga. A pizza enorme que comi após o jantar estava claramente cobrando seu preço.
— Você devia comer menos pizza. Ouviu o que o médico disse, não? Correr depois de comer daquele jeito fez a comida embrulhar no seu estômago.
— Está bem — resmunguei.
— Você sabe que tenho carro. Por que não me ligou para te buscar?
— Nem pensei nisso. Só me preocupei em chegar no horário.
— Da próxima vez, me avise. Agora coma essa coxinha.
Peguei a coxinha no momento em que meu estômago roncou. Ele definitivamente sentia falta de alimento. Aceitei o suco de caixinha que ele abriu e tomei alguns goles.
— Satisfeito? — perguntei, vendo-o abrir um sorriso.
— Sim.
Nesse instante, minha avó entrou no quarto, claramente preocupada, e veio até mim.
— Por que não me avisou que estava aqui? Esperei você até agora em casa e fiquei preocupada quando não chegou — ela disse, com um tom de repreensão.
— Desculpe, pensei que o médico havia te ligado.
— A escola me avisou quando passei lá para te buscar — ela se virou para Anderson. — Obrigada por trazê-la.
— Imagina, estou aqui para ajudar — ele sorriu.
— Não sabe como fiquei preocupada, e Adan também.
— Adan? — inquiri, surpresa.
— Sim, ele estava comigo na escola. Ele veio também — ela olhou em volta, procurando por ele. — Não sei para onde foi.
— Sabe que não quero vê-lo, vovó. Por que o trouxe?
— Bom... Eu não achei que iria se incomodar tanto...
Ela pareceu chateada com o próprio deslize.
— Vou deixá-las conversarem. Volto depois — disse Anderson, educadamente, saindo do quarto.
— Vocês... — indicou ela, referindo-se a Anderson — estão namorando?
— Claro que não! Anderson é apenas um amigo.
— Sei... — ela se sentou na cadeira ao lado e suspirou. — O que o médico disse?
— Que a pizza de ontem me fez mal.
— Você comeu uma quantidade enorme depois do jantar — observou.
— É que estava deliciosa.
— Da próxima vez vou comprar uma menor.
Sorri.
— Ah — ela se levantou como se lembrasse de algo —, tenho que pegar algo no carro. Espere um instante.
Respirei fundo, e meu estômago resmungou novamente de fome.
— Bom, acho que está na hora de comer — murmurei, acariciando a barriga. — Dessa vez, algo bem saudável. Que tal uma salada?
Sorri com a brincadeira e notei Adan parado na porta, me observando.
— Como se sente? — ele se aproximou, tocando a barra da cama.
— Estou melhor.
— Sua avó estava muito preocupada. Ela foi até minha casa antes de passar no colégio, pensando que você estaria lá — ele sorriu de lado.
— Por que ela pensou isso?
— Não sei.
Ele se sentou na cadeira ao lado, onde minha avó estava, e me observou.
— Pedi para me ligar caso acordasse atrasada. Eu poderia ter ido te buscar.
— Por que eu faria isso? — ergui a sobrancelha.
— Porque somos amigos — disse rapidamente.
— Deveria se preocupar mais com sua namorada. Ela esteve na enfermaria com dor no tornozelo.
— Eu sei — disse, baixando a cabeça e coçando a nuca.
— O que foi? Parece nervoso.
— Nada. Bom, já que você está melhor, acho melhor eu ir.
Eu não disse nada. Queria segurar sua mão e pedir para me fazer companhia, para beijar o topo da minha cabeça como fazia antes, mas isso foi há cinco anos.
— Fique bem. Se precisar de algo, me liga — ele deu um leve sorriso e saiu, esbarrando levemente em Anderson, que parecia estar ali há algum tempo. Eles se cumprimentaram e Adan foi embora, deixando Anderson entrar.
— Como se sente? — perguntou Anderson com um sorriso.
— Bem melhor. A coxinha despertou minha fome.
— Ótimo. Acabei de falar com o médico e ele disse que você está liberada.
— Sério?
— Sim. Quer que eu te leve para casa?
— Não sei, minha avó veio me buscar.
— Tudo bem, então. Nos vemos na escola amanhã?
— Sim, obrigada por se preocupar tanto.
— Imagina — ele acenou e saiu da sala logo em seguida.
Minha avó logo chegou.
— Vi Adan no corredor. Ele veio te ver?
— Sim.
— Vamos para casa?
— Não vejo a hora. Estou com fome.
Ela sorriu.
— Sempre com fome.
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Você Nunca Se Foi
Fiksi RemajaApós a trágica perda de seus pais em um acidente de carro, Sophi vê sua vida virar de cabeça para baixo. Ela retorna à casa de sua avó, um refúgio familiar em meio ao caos. A dor da perda é intensa, mas a acolhedora presença da avó lhe oferece um co...