6 - Uma Tarde Alegre

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Após o almoço, me acomodei no sofá com um filme da tarde, tentando afastar os pensamentos sobre a escola. O sol tinha se infiltrado entre as nuvens, mudando o clima gélido da manhã para um calor inesperado. Estava imersa na trama do filme quando ouvi o som familiar da porta se abrindo.

— Nossa, como o mercado estava cheio — anunciou a vovó, entrando com um sorriso e carregando um pote de sorvete. Ela foi direto à cozinha e voltou com duas taças, colheres e o sorvete, colocando tudo sobre a mesinha de centro.

Enchi minha taça com sorvete, o doce fresco escorrendo pelas bordas, e comecei a saborear.

— Como foram as aulas hoje? — perguntou ela, a curiosidade brilhando em seus olhos.

— Foi bem — respondi, meio distraída. — Tenho um trabalho para fazer amanhã com algumas colegas de classe.

— Sério? Que bom, querida. Assim você faz novas amizades.

— Falei colegas, não amigas — corrigi, sentindo um peso nas palavras.

— Isso é normal. Já é um passo para tornarem-se amigas.

— São bem diferentes de mim.

— E daí? Amizade verdadeira surge nas conexões mais inesperadas.

Pensei nas palavras dela, uma verdade simples que carregava muita sabedoria.

— Talvez. Mas deixo para a próxima.

— Você não pode afastar todo mundo.

— Não é todo mundo, vovó.

— Dê-se uma chance, filha. Vai dar certo.

— Vamos ver — murmurei, voltando ao filme, mas meus pensamentos estavam em outro lugar. O que Anderson havia dito sobre Adan e Denise não queria sair da minha cabeça. Uma sensação de desconforto rastejava, corroendo meu foco.

— Vovó, posso te perguntar algo?

— Claro, querida. Pergunte.

— É sobre o Adan — comecei, virando-me no sofá para encará-la. Ela fez o mesmo, seu olhar cheio de compreensão.

— O que tem ele?

— Você sabe o motivo pelo qual nos separamos. Desde aquele incidente, ele e Denise começaram a namorar. Hoje, eu o vi indo buscá-la na escola — suspirei, cutucando meu sorvete. — E um amigo comentou que o relacionamento deles parece estranho, como se fosse forçado. Você sabe de algo sobre isso?

Vovó suspirou, seus olhos assumindo um brilho pensativo.

— Não sei nada a respeito, filha. Mas acho que ele não a ama.

— Por que acha isso?

— Instinto de vó — respondeu, um sorriso pequeno nos lábios. — Quando ele te viu naquela vez em sua casa, Adan ficou paralisado.

Um rubor suave subiu às minhas bochechas, mas me forcei a manter a mente clara.

— Devia ser susto — disse, tentando afastar a ideia.

— Deixa disso. Enquanto você tocava, ele te observava. Ele sorriu, querida. O mesmo sorriso de quando te pediu em namoro, lembra?

Não pude evitar um sorriso ao recordar aquele dia especial.

— Não tem como esquecer — admiti, minha voz tingida de nostalgia.

— Ettan cutucou Adan, e ambos sorriram, como se compartilhassem um segredo. Não sei o que está acontecendo, mas tenho certeza de que ele ainda gosta de você.

Engasguei com o sorvete e coloquei a taça sobre a mesa, virando-me rapidamente para vovó.

— Vovó, sei que adora o Adan, mas não estamos juntos, lembra?

— Mas sei que estarão — brincou, com um sorriso travesso.

— Vovó! — protestei, meio rindo, meio frustrada.

Ela gargalhou, uma risada tão genuína que me fez relaxar.

— Ele está namorando — revirei os olhos.

— Conheço os corações. Sei que você ainda gosta dele e tenho certeza de que ele não te esqueceu.

— Não me faça ter esperanças — brinquei, resgatando minha taça de sorvete e me concentrando na TV.

A verdade era que discutir com vovó sobre Adan era inútil. Ela sempre veria esperanças onde eu via apenas incertezas. Mantinha meus pés firmes no chão, mas a insistência dela me fazia questionar meus próprios sentimentos.

— Por que não chama suas amigas para virem aqui? — sugeriu ela, mudando de assunto após um breve silêncio.

— Não acho que elas queiram vir.

— Por quê?

— Não temos tanta amizade assim — dei de ombros.

— Quando tiver, traga-as para eu conhecer. Podemos tomar um chá juntas.

— Tá bom. Ah, fiz outro amigo também. Ele se chama Anderson, é super divertido e sempre está de bom humor.

— Quem é a família dele?

— Não sei — confessei, lembrando que nunca tinha perguntado sobre isso.

— Parece ser gente boa.

— Ele faz faculdade de gastronomia — falei, pegando mais um pouco de sorvete.

— Isso é ótimo, querida. Simpatizou com ele?

— Sim, ele é bem simpático.

— Chame-o para vir tomar um chá conosco.

— Vó, você tem mania de chamar todo mundo para tomar chá — balancei a cabeça, fingindo desapontamento, e ela sorriu divertida.

— Adoro chás.

— Eu sei — passei a mão em seus fios finos e grisalhos, bagunçando-os levemente. Ela sorriu, apreciando o momento de brincadeira que nos conectava como quando eu era pequena.

Enquanto terminávamos o sorvete, um pensamento insistente me perturbava. Se Adan realmente ainda tivesse sentimentos por mim, o que isso significaria para o futuro? E quanto ao que Anderson disse sobre o relacionamento de Adan com Denise? A incerteza pairava sobre mim como uma nuvem carregada, mas, por enquanto, me contentei em estar presente com vovó, deixando o futuro cuidar de si mesmo.

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