4 - Sombras Do Passado

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Aplausos discretos preencheram a sala quando terminei a melodia. A Doutora Connor me deu um sorriso caloroso.

- Maravilhosa, Sophi! - disse, irradiando alegria. - Vamos tomar café no jardim agora.

Vovó acenou, acompanhando o casal para fora, deixando-me ali com os filhos deles.

- Sophi! Há quanto tempo! - Ettan se aproximou, me envolvendo em um abraço caloroso. Ele tinha crescido, sua presença era marcante. Seus olhos verdes brilhavam sob a luz suave da sala.

- Cinco anos - respondi, meu sorriso tímido.

- Pensei que manteríamos contato - ele murmurou, um toque de desapontamento na voz.

- Desculpe, minha vida ficou... complicada - respondi, tentando soar casual.

Ele segurou minha mão, os dedos acariciando o dorso com uma gentileza surpreendente.

- Ouvi sobre o acidente - ele falou baixinho, cauteloso. - Se precisar de alguém para conversar, estou aqui. Ainda tenho o mesmo número.

Assenti, um agradecimento silencioso na ponta dos lábios. Ettan sorriu, aquele sorriso que sempre foi uma âncora em meio à tempestade.

- Vamos ao jardim? - sugeriu, com um brilho nos olhos.

- Sim - murmurei.

Ele piscou e se afastou, o terno cinza moldando seus músculos definidos. Meus olhos captaram a figura de Adan, ainda na porta, me observando. Um arrepio correu pela minha espinha, meu coração acelerou. Parte de mim queria ignorá-lo, mas outra parte ansiava por correr para seus braços.

Puxei uma mecha solta do coque, desviando o olhar. Ver Adan trouxe uma tempestade de emoções. Nosso término turbulento ainda assombrava meus pensamentos.

Adan continuava ali, seu olhar fixo em mim. Sentia ele a mesma confusão? Estava feliz em me ver ou simplesmente surpreso?

Decidi agir, meus pés me levaram para fora, mas sua voz me deteve.

- Você tocou bem - ele murmurou, sem me encarar. Seu perfume familiar invadiu meus sentidos. - Estou feliz em te ver.

- Obrigada - respondi, minha voz quase inaudível.

Senti uma pressão no peito, o amor que eu havia tentado enterrar reaparecendo com força.

- Sinto muito pelos seus pais - ele continuou, sua voz baixa. - Se precisar de alguém, estarei por aqui.

- Obrigada, Adan.

Queria parecer indiferente, mas sabia que ele notou meu tom vacilante. Passei por ele, sentindo o calor de sua presença.

∆∆∆∆∆

O jardim estava vibrante, cheio de flores e uma brisa suave. Vovó e os Connor conversavam, risos eclodindo em meio a histórias antigas. Sentei-me, olhando as guloseimas na mesa, mas o nó na garganta me impedia de aproveitar.

Adan e Ettan não apareceram no jardim, e isso me deu um alívio momentâneo. Mas a sombra de Adan, seus olhos fixos em mim, pairava na minha mente. Quando vovó se despediu do casal, senti um peso sair dos meus ombros.

- Voltem mais vezes - Edgar pediu, acenando na porta.

- Claro, voltaremos - vovó sorriu, mas tudo que eu pensava era em como evitar essa visita no futuro.

No carro, vovó me olhou com curiosidade.

- Você se divertiu?

- Hum - murmurei, olhando pela janela.

- O que foi esse "hum"?

- Nada, vovó.

- Foi por causa do Adan, não foi? - sua voz estava cheia de culpa, como se ela tivesse me colocado em uma situação difícil.

- Está tudo bem, não podíamos prever - tentei confortá-la.

- Sinto muito mesmo assim - ela disse, apertando minha mão. - Vamos para casa.

Chegamos e nos trocamos. Vovó, sempre preocupada com meu bem-estar, sugeriu:

- O que acha de pedirmos uma pizza e assistirmos a um filme?

- Parece bom - concordei, tentando afastar as lembranças do dia.

Ela ligou para a lanchonete enquanto eu descia para a sala, meu celular vibrando com uma mensagem de Elaine.

"Como está indo a nova vida?"

"Um pouco mais difícil do que imaginei, mas estou bem. E você, como vai na escola sem mim?" - enviei

Deixei o celular sobre a cama e desci. Vovó, sempre animada, já tinha escolhido alguns DVDs.

- O que vamos assistir? - ela perguntou, me entregando a pilha.

- Você escolhe, vovó - devolvi, não vendo nenhum do meu gosto.

- Vamos, me ajude a escolher - ela insistiu, rindo.

Finalmente, apontamos para um filme de comédia. Nos acomodamos no sofá, e a pizza chegou logo, já assada. No meio do filme, vovó correu para o quarto e voltou com uma coberta e dois travesseiros. A noite terminou com risadas e uma sensação de normalidade que há tempos não sentia.


Mais tarde, sozinha no meu quarto, refleti sobre o reencontro com Adan. As emoções, as palavras não ditas, tudo parecia intensificado. Peguei o celular e olhei para a mensagem de Elaine.

_"Talvez as coisas estejam difíceis agora, mas elas vão melhorar. Se cuida" - escrevi, e enviei.

Me deitei, tentando afastar a confusão do dia. A lembrança do sorriso de Adan e do abraço de Ettan pairava na minha mente, e eu me perguntei o que o futuro reservava. Fechei os olhos, abraçando a incerteza com uma esperança silenciosa.

Você Nunca Se FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora