Aplausos discretos preencheram a sala quando terminei a melodia. A Doutora Connor me deu um sorriso caloroso.
- Maravilhosa, Sophi! - disse, irradiando alegria. - Vamos tomar café no jardim agora.
Vovó acenou, acompanhando o casal para fora, deixando-me ali com os filhos deles.
- Sophi! Há quanto tempo! - Ettan se aproximou, me envolvendo em um abraço caloroso. Ele tinha crescido, sua presença era marcante. Seus olhos verdes brilhavam sob a luz suave da sala.
- Cinco anos - respondi, meu sorriso tímido.
- Pensei que manteríamos contato - ele murmurou, um toque de desapontamento na voz.
- Desculpe, minha vida ficou... complicada - respondi, tentando soar casual.
Ele segurou minha mão, os dedos acariciando o dorso com uma gentileza surpreendente.
- Ouvi sobre o acidente - ele falou baixinho, cauteloso. - Se precisar de alguém para conversar, estou aqui. Ainda tenho o mesmo número.
Assenti, um agradecimento silencioso na ponta dos lábios. Ettan sorriu, aquele sorriso que sempre foi uma âncora em meio à tempestade.
- Vamos ao jardim? - sugeriu, com um brilho nos olhos.
- Sim - murmurei.
Ele piscou e se afastou, o terno cinza moldando seus músculos definidos. Meus olhos captaram a figura de Adan, ainda na porta, me observando. Um arrepio correu pela minha espinha, meu coração acelerou. Parte de mim queria ignorá-lo, mas outra parte ansiava por correr para seus braços.
Puxei uma mecha solta do coque, desviando o olhar. Ver Adan trouxe uma tempestade de emoções. Nosso término turbulento ainda assombrava meus pensamentos.
Adan continuava ali, seu olhar fixo em mim. Sentia ele a mesma confusão? Estava feliz em me ver ou simplesmente surpreso?
Decidi agir, meus pés me levaram para fora, mas sua voz me deteve.
- Você tocou bem - ele murmurou, sem me encarar. Seu perfume familiar invadiu meus sentidos. - Estou feliz em te ver.
- Obrigada - respondi, minha voz quase inaudível.
Senti uma pressão no peito, o amor que eu havia tentado enterrar reaparecendo com força.
- Sinto muito pelos seus pais - ele continuou, sua voz baixa. - Se precisar de alguém, estarei por aqui.
- Obrigada, Adan.
Queria parecer indiferente, mas sabia que ele notou meu tom vacilante. Passei por ele, sentindo o calor de sua presença.
∆∆∆∆∆
O jardim estava vibrante, cheio de flores e uma brisa suave. Vovó e os Connor conversavam, risos eclodindo em meio a histórias antigas. Sentei-me, olhando as guloseimas na mesa, mas o nó na garganta me impedia de aproveitar.
Adan e Ettan não apareceram no jardim, e isso me deu um alívio momentâneo. Mas a sombra de Adan, seus olhos fixos em mim, pairava na minha mente. Quando vovó se despediu do casal, senti um peso sair dos meus ombros.
- Voltem mais vezes - Edgar pediu, acenando na porta.
- Claro, voltaremos - vovó sorriu, mas tudo que eu pensava era em como evitar essa visita no futuro.
No carro, vovó me olhou com curiosidade.
- Você se divertiu?
- Hum - murmurei, olhando pela janela.
- O que foi esse "hum"?
- Nada, vovó.
- Foi por causa do Adan, não foi? - sua voz estava cheia de culpa, como se ela tivesse me colocado em uma situação difícil.
- Está tudo bem, não podíamos prever - tentei confortá-la.
- Sinto muito mesmo assim - ela disse, apertando minha mão. - Vamos para casa.
Chegamos e nos trocamos. Vovó, sempre preocupada com meu bem-estar, sugeriu:
- O que acha de pedirmos uma pizza e assistirmos a um filme?
- Parece bom - concordei, tentando afastar as lembranças do dia.
Ela ligou para a lanchonete enquanto eu descia para a sala, meu celular vibrando com uma mensagem de Elaine.
"Como está indo a nova vida?"
"Um pouco mais difícil do que imaginei, mas estou bem. E você, como vai na escola sem mim?" - enviei
Deixei o celular sobre a cama e desci. Vovó, sempre animada, já tinha escolhido alguns DVDs.
- O que vamos assistir? - ela perguntou, me entregando a pilha.
- Você escolhe, vovó - devolvi, não vendo nenhum do meu gosto.
- Vamos, me ajude a escolher - ela insistiu, rindo.
Finalmente, apontamos para um filme de comédia. Nos acomodamos no sofá, e a pizza chegou logo, já assada. No meio do filme, vovó correu para o quarto e voltou com uma coberta e dois travesseiros. A noite terminou com risadas e uma sensação de normalidade que há tempos não sentia.
Mais tarde, sozinha no meu quarto, refleti sobre o reencontro com Adan. As emoções, as palavras não ditas, tudo parecia intensificado. Peguei o celular e olhei para a mensagem de Elaine.
_"Talvez as coisas estejam difíceis agora, mas elas vão melhorar. Se cuida" - escrevi, e enviei.
Me deitei, tentando afastar a confusão do dia. A lembrança do sorriso de Adan e do abraço de Ettan pairava na minha mente, e eu me perguntei o que o futuro reservava. Fechei os olhos, abraçando a incerteza com uma esperança silenciosa.
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Você Nunca Se Foi
Novela JuvenilApós a trágica perda de seus pais em um acidente de carro, Sophi vê sua vida virar de cabeça para baixo. Ela retorna à casa de sua avó, um refúgio familiar em meio ao caos. A dor da perda é intensa, mas a acolhedora presença da avó lhe oferece um co...