Entrei em casa me jogando no sofá, o corpo exausto depois de um longo dia. A casa de Brenda era muito longe, e a caminhada havia me desgastado. Fechei os olhos por um momento, tentando afugentar o cansaço. Eu precisava de um banho bem demorado, um tempo só para mim.Estava prestes a me levantar quando ouvi risos vindos do jardim dos fundos. Vovó devia estar com visitas. Segui o som, curiosa, e encontrei-a sentada à mesa com um homem alto e forte ao seu lado. Eles interromperam a conversa e me observaram enquanto eu me aproximava, ajustando os óculos para ver melhor. Era Ettan.
— Que bom que chegou, Sophi — vovó sorriu, radiante. — Venha nos fazer companhia.
Sentei-me com eles, sentindo o olhar de Ettan sobre mim.
— Oi, Ettan — cumprimentei-o, tentando parecer casual.
— Oi, Sophi. Como você está?
— Estou bem — murmurei, ajustando os óculos, um pouco nervosa.
— Vou buscar chá para nós — disse vovó, levantando-se.
Olhei para a mesa e vi uma travessa de lasanha coberta com uma tampa de plástico transparente. Provavelmente a Dra. Sara havia mandado para vovó, como nos velhos tempos.
— Minha mãe pediu para trazer para a dona Eliza, como forma de agradecimento — disse Ettan, percebendo meu olhar. — Os medicamentos que sua avó levou para meu pai fizeram um ótimo efeito.
— Que bom. Ele está melhor?
— Sim, está se recuperando bem — ele sorriu, aliviado.
— Fico feliz em saber.
Ettan ficou pensativo por um momento, parecendo buscar as palavras.
— Como era sua vida na outra cidade? — perguntou, tentando iniciar uma conversa descontraída.
— Era bem legal. Eu fazia parte de vários projetos e tinha muitos amigos.
— E como está indo aqui?
— Estou tentando me manter discreta, já que toda aluna nova chama atenção. Mas até que estou indo bem — sorri, e ele retribuiu.
— Fez amizade?
— Mais ou menos. É difícil escolher as pessoas certas.
— Isso é verdade. Mas logo você vai se enturmar.
— Também espero — respondi, com um sorriso tímido.
Senti-me levemente desconfortável sob o olhar atento de Ettan. Se fosse Adan, eu teria congelado.
— E você? — perguntei, tentando desviar o foco.
— Estou fazendo faculdade de Direito.
— Nossa, isso é ótimo!
— Sim, mas agora meu pai quer que eu me case. Ele está insistindo nisso — disse, com uma mistura de desapontamento e humor.
— Por quê?
— Ele diz que está ficando velho e quer me ver casado e com filhos antes que ele se vá.
— Mas você só tem 23 anos. Não é cedo para isso?
— Tente dizer isso ao senhor Edgar — brincou, arrancando-me um sorriso.
Vovó voltou com uma bandeja de chá, servindo-nos e sentando-se.
— Como foi o trabalho com suas amigas? — perguntou ela.
— Foi bem, mas elas não são minhas amigas, vovó.
— Mas podem se tornar — ela disse, esperançosa.
— Não! Elas são loucas — ri, soprando a fumaça da xícara de chá.
— Por que diz isso?
— Elas acham que só porque fizemos um trabalho juntas, podemos criar um robô — debochei.
— E? Eu sei que você adora robótica. Por que recusa?
— Eu gosto, mas no momento é precipitado. Preciso conhecer melhor as pessoas antes de me comprometer. Quem sabe quando eu me formar na faculdade — dei de ombros. — Aí, é outra história.
— Eu te apoio — disse Ettan, tomando um gole de seu chá.
— Quê?
— Em fazer faculdade primeiro. Com mais experiência, você estaria mais preparada para desafios. Robótica não é fácil; é preciso um QI excepcional.
— Exatamente.
Tomei o chá em silêncio, enquanto vovó e Ettan conversavam sobre chás medicinais para ajudar o pai dele. Depois de um tempo, Ettan se levantou.
— Obrigado pelo chá, estava maravilhoso. Mas agora preciso ir.
— Imagina, eu é quem agradeço. Diga à sua mãe que levarei a travessa amanhã.
— Pode deixar, dona Eliza.
Caminhei até a porta de saída com ele. Vovó acompanhou-o até o carro, enquanto eu permaneci junto à porta. Ele entrou no veículo, trocando algumas palavras com vovó antes de se virar para mim, acenando com um sorriso. Acenei de volta, observando-o partir. Seu carro preto e elegante virou a esquina, e vovó voltou para mim, suspirando.
— Ettan é um jovem de ouro. Adoro esse rapaz — disse ela, tocando meu ombro antes de entrar.
Fiquei parada por um momento, pensativa. Adora? O que ela queria dizer com aquilo?
Entrei em casa, as palavras de vovó ecoando em minha mente enquanto subia as escadas para meu quarto. A noite já caía, e uma sensação de inquietação se misturava à minha exaustão. Alguma coisa estava mudando, e eu podia sentir o vento do desconhecido soprando sobre minha vida.
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Você Nunca Se Foi
Roman pour AdolescentsApós a trágica perda de seus pais em um acidente de carro, Sophi vê sua vida virar de cabeça para baixo. Ela retorna à casa de sua avó, um refúgio familiar em meio ao caos. A dor da perda é intensa, mas a acolhedora presença da avó lhe oferece um co...