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🌹 Vida e morte 🌹

Encaro o céu e penso sobre o que Tuli disse. Ela foi sozinha ou decidiriam mandar ela? Suspiro.

- Alguma vez o lago já te chamou? - pergunto e Tuli me olha de relance e sorri. Encaro suas feições e hoje em especial parece mais afetiva e terna.

- Se ele me chamar, não entrarei e espero que não entre também. - ela afirma, ela aperta a boca em uma linha fina. - Não vá para lá. - ela pede. - Quer dizer, somos apenas pontos vivos que permanecem aqui, então se somos almas que vão para algum lugar, pelo menos deveríamos ir para um lugar bom. - ela diz.

- Se eu te pedir algo, você faria? - ela franze o cenho.

- O que seria? - penso um pouco sobre o pedido. Será algo egoísta a pedir e devo pensar muito e não jogar essa frase como alguém sem sensibilidade.
Pedir que ela me aceite como sou e mostrar magia a ela seria certo? Aliás, não conheço Tuli a muito tempo e sua primeira pergunta seria se já matei ninfas... E a resposta seria sim. Balanço a cabeça.

- Esqueça. - ela toca meu antebraço.

- Ora, me diga. - ela pergunta sorrindo. - Será seu primeiro pedido e isso me anima. - olho para meu antebraço e para a mão delicada e pequena de Tuli. Ela solta meu antebraço e torce a boca olhando para longe. Acabo rindo ao perceber que Tuli está envergonhada.

- Era algo estúpido. - digo e ela me olha sem graça e assente.

- Eu estava disposta a ouvir seu disparate. - nego.

- Te chocaria. - afirmo e ela finge surpresa e abraça o próprio corpo. - Não. - rio. - Não é isso. - ela relaxa e suspira.

- Parece mais animado. - meu sorriso morre e percebo que me esqueci por um momento de tudo que me afligia. Franzo o cenho e encaro os traços delicados de seu rosto.

- Obrigado. - digo e ela assente.

- Não precisa sofrer sozinho. - ela diz e aponta o suco. - Nem parece que coloquei lágrimas de grifo, ficou bom, não é? - assinto.

- Odeio dizer que gostei dessa coisa. - ela ri.

- Te prometo que não estava sujo, era um grifo limpinho. - assinto.

- Ó!  Com certeza! - ironizo e ela tenta me empurrar levemente com o braço, seguro seu pulso e puxo ela, Tuli acaba derrubando o suco na grama e caindo em minha direção, ela fica vermelha, mas não desvia o olhar. É inacreditável o quanto seus olhos me lembram águas cristalinas. "O que estou fazendo?" Desvio o olhar e solto ela. - Desculpe! - me levanto e pego a jarra caída. Ela se ajeita e noto que sujei a barra de seu vestido com o suco. Aperto o maxilar. Ela bate calmamente na barra do vestido e olha em minha direção. Tuli me oferece um olhar compreensivo.

- Tudo bem... - só então relaxo o maxilar e as mãos, não tinha notado que estava com as mãos fechadas firmemente.  Ela se levanta e aponta o portão. - Quer que eu vá? - assinto. Ela assente e me ajuda a recolher as coisas do chão.

Caminhamos em direção a casa e Tuli me ajuda a organizar a bagunça e lavar o que foi usado. Ela não diz nada e acabo não querendo falar muito. Terminamos e acompanho Tuli até o lado de fora. Ela sorri gentilmente.

- Foi ótimo! - ela move a perna olhando para baixo, a barra suja se evidencia. - Até essa parte. - ela diz e volta a me olhar. Relaxo as asas e assinto.

- Fico realmente agradecido, me sinto muito melhor. - ela assente.

- Até amanhã Zur. - ela diz e as asas aparecem. Ela voa levando consigo o que trouxe e ao se distanciar no céu, estranhamente parte de mim parece vazia. Olho para a casa adiante da minha e encaro tudo apagado. Caminho de volta para dentro de casa e fecho a porta.
Fecho os olhos e me sinto aliviado por estar mais tranquilo.

Asas do Mal - Nova Geração Onde histórias criam vida. Descubra agora