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Alerta gatilho⚠️

Três meses depois que ela se foi

JUNGKOOK ELTHER

Minha mãe chorou. Chorou como nunca antes. Meu nome saía de sua boca com melancolia. Aqueles gritos estiveram por muito tempo presos, como sabia disso? Seus olhos castanhos escuros como o céu noturno coberto por poeira. Eu nunca tinha visto aquilo na vida e já sabia que me atormentaria por longos pesadelos. Meus braços doíam com a pressão que os dois homens faziam, sentia que iam deslocar a qualquer momento. Não me importo contanto que consiga salvá-la. Preciso salvá-la. Aquele homem se diz meu pai. Era ele. Infelizmente era. Lembro-me da única vez que Zuric me mostrou uma foto dele, mesmo que parecesse maior e bem mais musculoso pessoalmente. Era ele. Os mesmos olhos claros que eu tinha. Meus punhos estavam cerrados e minha pele formigando. Erik enforcava minha mãe enquanto seus pés mal batiam sobre o chão.

- Solte ela seu desgraçado. Solte minha mãe. - As palavras saíam da maneira mais alta e grosseira possível. Erik riu. Riu mostrando seus dentes brancos e bem cuidados, jogando o corpo frágil de minha mãe no chão. Escutei o barulho do seu crânio batendo contra a calçada. Seu crânio. Zuric arfou e nem teve forças ora relutar e gritar. Me assustei ao ver sua mão se encobrir de sangue em meio aos seus cabelos. Com narinas dilatadas e uma raiva fora do comum joguei meu cotovelo contra o cara da direita, que caiu para trás tropeçando nos próprios pés. E me virei socando o outro. Nunca tinha socado ninguém na vida.

E nunca pensei que fosse gostar da sensação.

Erik tentou puxar minha camisa. Encarei seus olhos tão claros quanto o céu daquela tarde. Cuspi em seu rosto e lhe empurrei contra o chão. Me ajoelhei diante de minha mãe e a segurei nos meus braços, o sangue que escorria de meu nariz pingou sobre ela. Seus olhos piscavam lentamente, vezes demais, pronta para desacordar a qualquer momento.

- Você vai ficar bem. Nós vamos para um hospital e isso vai acabar. - Encostei nossos narizes e senti seu cheiro cravado em minha memória. Meu coração doía. Ardia. Pegando fogo. Uma chama que nunca, nunca seria apagada. Como um círculo de fósforos. Incendiando um, não é possível salvar o resto. E era assim que me sentia. Era o bastante para machucar meu coração. O coração é a parte mais importante do corpo. O que vai acontecer com o resto agora? - Vou salvar você.

- Muleque insolente, pelo visto essa vadia não ensinou você a ser o verdadeiro homem. - Escutei a voz de Erik atrás de mim, assistia sua sombra andar e se aproximar cada vez mais. Agarrei mais forte o corpo de minha mãe. - Quer proteger ela? Você não vai ser capaz de fazer isso, porque vou matá-la na sua frente de uma maneira que você vai se deliciar ao ver. - Sua voz se calou e o estalo me fez gritar. Dor. Foi isso que dominou minha mente. Sem querer soltei o corpo de minha mãe, se apoiando com os pulsos no chão. Outro estalo. - Você vai aprender a ser um homem quando vir comigo. Para cada lágrima dessa será uma lâmina desse chicote.

Virei o máximo que consegui. O que vi foi sua camisa social de mangas longas dobrada ao cotovelos, em sua mão um chicote de couro marrom onde na ponta se distinguiam em três. Três chicotes rodeados por lâminas finas e cortantes como pequenos cacos de vidro. Antes que pudesse ter outra reação mais uma chicoteada veio. Uma foi o bastante para rasgar minha camisa fina, três fez com que minhas costas ficassem expostas. Vi meu próprio sangue pingar sobre o asfalto. Um. Dois. Três. Três chicoteadas. Minha pele a mostra. Uma ardência dilacerante. Não conseguia me levantar, minhas pernas tremiam de dor. Meus lábios estavam secos e por mais que meu sangue e minhas lágrimas pudessem os manter hidratados parecia não haver nada.

- Continue. Faça o que quiser comigo mas não toque nela. - Zuric levou com muita força sua mão até a minha e apertou negando com a cabeça.

- Não faça isso, filho. Pare. Pare agora Erik! - Zuric gritou na sua cabeça. Porque não passou de um sussurro o que era para ser uma ordem.

DIVIDA PERFEITA | Livro II • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora