— Filha! — O grito escandaloso da minha mãe me fez correr até ela, que estava na sala. — Veja! — Levantou-se do sofá com o celular na mão. — Olha! — Pulou de alegria e eu franzi o cenho, completamente perdida. — Leia!
— O que é que... — Calei-me ao segurar o aparelho após a sua insistência. — Tudo bem... — Respirei fundo, decidindo espantar os pensamentos angustiantes de minutos atrás. Trancada no meu quarto, eu me questionava sobre quando finalmente conseguiria arranjar um emprego. — Vamos lá... — Foquei no texto que a tela exibia. — Coluna do Ravel Chapelle — ri ao me dar conta de que se tratava da avaliação do francês. — Comida deliciosa em um ambiente aconchegante na cidade de Portland — li o título e a encarei, sorrindo ao ver o seu sorriso bem aberto. — Algo me diz que teremos grandes pontos positivos.
— Ele disse que o meu restaurante é o melhor da região! — Falou alto, eufórica. Arregalei os olhos. — Nem os maiores restaurantes de Seattle chamaram tanto a atenção do Ravel! — Voltou a pular e eu fiz o mesmo, contagiada por sua felicidade.
— Mãe! — A envolvi em um abraço apertado e nós duas gritamos de alegria. — Parabéns! Parabéns! E isso é só o começo! A sua comida é a melhor do mundo! — Beijei as suas bochechas e ela riu. — Eu estou muito feliz! Muito!
— Lê o artigo, filha! — Enxugou as lágrimas que já caíam por suas bochechas. — E lê em voz alta porque quero acreditar no que vi.
E ao avançar a leitura pelas tantas linhas, finalmente tivemos a confirmação de que Ravel Chapelle elogiou e recomendou o restaurante para os leitores da sua coluna tão famosa no meio gastronômico. Para não ser tão bonzinho – como, de acordo com a minha mãe, ele dificilmente era –, o francês apontou alguns problemas na iluminação externa e na do corredor que dava acesso ao banheiro. Nada mais. A sua especialidade era comida e esse foi o quesito que recheou de elogios para a minha mãe. Nós duas nos abraçamos mais uma vez e, emocionada, ela decidiu fazer uma grande comemoração com os seus funcionários já nos próximos minutos. Então, simplesmente pegou a sua bolsa e partiu para o estabelecimento no intuito de festejar em grupo. Eu optei por ficar em casa na companhia dos meus animais e também aproveitar a calmaria para enviar alguns e-mails para os locais que estivessem em busca de alguém na minha área.
— E vamos lá procurar um emprego... — Suspirei com pesar, tendo a esperança drasticamente reduzida depois de passar por tantas tentativas frustradas.
É claro que a minha intenção de ficar ali sozinha também estava relacionada a outra razão importante: tristeza de ter que aceitar a ausência de Jimin. Estamos há três semanas em países diferentes e ele falou comigo apenas três vezes, uma em cada semana e basicamente para conversar sobre Dionísio e Royce. Eu já havia entendido o seu recado. Park queria respeitar a minha decisão e se preservar, se poupar de qualquer sofrimento. E ele estava certo, tenho que admitir. Confesso que faria o mesmo se estivesse na sua posição. Horas mais tarde, sentindo a melancolia me consumir aos poucos, sentei na minha cama segurando uma caixa que guardava recordações muito valiosas. Liberei um longo e forte suspiro. Passeei as palmas pela tampa e sorri ao lembrar do sorriso daquele coreano tão especial. Royce, que estava deitado ao meu lado, miou e eu ri ao entender aquilo como uma ordem para abrir logo. Ao fazer isso, a minha mente foi inundada por boas memórias e a alegria se fez presente.
Naquele instante, eu mexia em pequenas lembranças que Jimin havia deixado. Os artigos do jogo de basquete e duas fotos nossas que tiramos na primeira vez que fomos jogar sinuca e no dia que conheci o seu lugar preferido na Coreia. A caixa branca estava guardada no ateliê e Romena fez a grande gentileza de colocá-la dentro da mala azul – a única que não devolvi –antes que Kevin a visse. Após alguns minutos observando aquelas recordações e resgatando memórias, tive a infelicidade de pensar no que eu tanto odiava e no que me motivou a desistir de ter qualquer tipo de relação com Jimin: tudo o que estava naquela caixa era lembrança de um período em que acreditei estar na companhia do meu marido. Nesse tempo, acreditei que os artigos foram dados por ele e que aqueles passeios foram propostos por ele, ou seja, todas as lembranças que estavam nas minhas mãos eram uma farsa.
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Impostor | Park Jimin
Fanfiction「 𝐅𝐢𝐧𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚𝐝𝐚 」 Eu estava frustrada, infeliz. Nem nos meus piores pesadelos imaginava que passaria por um momento como esse. Fiz inúmeros planos que não se cumpriram ao longo de dois anos completos de casamento e o pontapé inicial para os p...