A babá

Capítulo 4

Encaro pela última vez o imenso aeroporto, com o coração apertado pisco minhas lágrimas de volta enquanto entro dentro do avião. Eu amo de paixão essa cidade, mas se pra ter uma condição de vida muito melhor e poder finalmente juntar um bom dinheiro eu preciso sacrificar um tempo longe dela, então eu vou fazer isso. Nem sei como tenho mais lágrimas depois de ter passado a minha última noite aqui chorando por ter ficado parada em meio aquela situação ao invés de ter reagido. Se meu irmãozinho não tivesse aparecido ele provavelmente teria conseguido me arrastar consigo pra sei lá aonde e pra fazer sei lá o que.

Odeio ser esse tipo de pessoa que quando se imagina em uma determinada situação, fala que faria mil coisas, mas quando está realmente nela só fica ali parada em choque.

Vamos direto para o voo de primeira classe, luxo patrocinado pela minha mamis maravilhosa e a patroa dela, uma mulher que eu realmente admiro muito porque além de linda é extremamente gentil e caridosa. Foi ela a responsável por ter nos ajudado a sair da comunidade, ela também foi a responsável por minha mãe ter conseguido o visto permanente por lá, assim como nossos vistos e diversas outras coisas. Ela foi como um anjo nas nossas vidas.

Quando nos estabelecemos confortavelmente nas poltronas, encaro meus irmãos com um sorriso abatido no rosto. É óbvio que estamos nós três extremamente abatidos e nervosos por irmos pra um local tão diferente, com uma língua completamente diferente.

Recebo várias e várias mensagens positivas, tanto do pessoal da minha escola de samba quanto dos nossos familiares, o que faz com que mais lágrimas venham a tona. Isso está sendo mais difícil do que eu pensei.

Seguro firmemente a mão dos meus irmãos quando o avião começa a decolar e nos abraçamos na medida do possível quando vemos ele ja no alto, agora não tem mais volta, estamos realmente indo pra outro país.

A viagem se passa de forma bem devagar e ao contrário dos meus irmãos, eu não consegui dormir em momento algum, talvez por ser minha primeira vez e eu ser extremamente medrosa.

-Primeira vez em um avião?-Pergunta uma voz masculina com um forte sotaque e quando olho para o lado, vejo um homem bem bonito com um sorriso gentil e calmo.

-Tá tão na cara assim?-Pergunto vendo o mesmo dar uma leve risada enquanto fecha seu livro.

-Pela forma como encara tudo tão atenta e com medo, creio eu que sim.-Diz me encarando com profundos olhos escuros.

-Seu português é muito bom.-Digo sentindo um pequeno frio na barriga quando o mesmo me lança outro sorriso.

-Eu fico feliz em ouvir isso de uma moça tão bonita.-Diz fazendo com que dessa vez, eu sorria.-Pra qual lugar dos dos Estados Unidos você pretende ir?

-Primeiro pra Los Angeles e depois pra San Francisco.-Digo vendo o estranho bonitão me encarar surpreso.

-Que surpresa, você vai pra o mesmo lugar onde moro.-Diz me fazendo sorrir surpresa.

-Isso sim que podemos chamar de mundo pequeno.-Digo sorrindo ao ver seu olhar discreto passar por meu corpo, não o julgo porque também já fiz o mesmo.-Sobre o que é o livro que você está lendo?-Pergunto vendo o mesmo levantar o livro de capa dura com um título elaborado.

-É sobre um romance entre um musicistas na idade média e uma burguesa vinda de família rica que havia sido prometida a outro homem nobre, poderia ficar falando sobre ele por horas e horas, mas não quero te aborrecer.-Diz encarando o livro e depois a mim. Ele tem uma aura sombria mas ao mesmo tempo tão encantadora que me pego cativada pelo mesmo. As roupas extremamente finas e escuras realçam ainda mais esses traços.

-Temos todo o tempo do mundo e a história parece interessante.-Digo o fazendo sorrir abertamente e jesus, que sorriso lindo.

Passamos um bom tempo conversando, com ele explicando com uma fervorosa paixão sobre o livro, ao mesmo tempo com uma classe e elegância admirável, completamente diferente daquelas dondocas que tentavam se achar finas.