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As ultimas palavras queimadas eram guiadas pela ilusão do desencanto da pílula, mesmo que parte de mim as ame por serem a estrada vazia que meu cérebro pintou ao desejar a paz, mesmo que façam parte do meu despedaço, miragens da dor, fazem com que eu descreva o desejo do corpo, mate meu consciente pra que meu inconsciente possa viver por ele, sem respirar, sem machucar. O que torna cativante a vida após o acidente? os céus são escuros, não há sono, não há utopia, as memórias são pálidas o suficiente pra destroçarem o presente e a forma de evitar é sempre a ideia de queimar e refazer até que eu sinta que errei em jogar tudo fora pra recomeçar, sabendo que respirar já é perda de tempo, a poesia se tornou dadiva da minha própria sobrevivência pra que eu pudesse dizer um olá, ou um adeus pra mim mesma todas as noites em que eu me quebrei. Hoje é só mais um dia, e se o sol não nascer pra mim hoje, eu posso morrer pela lua amanhã, as duas caras, os dois sentimentos que correm e trazem a mim os espinhos que furam até mesmo quem eu amo, e posso só me questionar, se o fim é o sonho das almas perdidas na lanterna, porque eu ainda procuro sem querer um motivo pra estar aqui? O punhado é a assistência, o corte é a habilidade que se forma da necessidade da dor, se mais uma vez eu me olhasse no espelho, eu gostaria de sanar minhas duvidas perguntando ao meu reflexo, se a necessidade de sentir a magoa é pra ter certeza sobre o fim, ou a vontade incessante de sentir que estou viva? 

O sangue se torna amargo, os olhos não os enxergam mais como a cor cereja ou o vinho doce da taça que se quebrou ao chão, a cruz tem espinhos e não adianto que o problema seja por carrega-la e sim por cortar-me com as farpas sem que eu as permita de fazerem isso comigo. Nem se eu quisesse, eles pintam as molduras das janelas de branco, as abrem e não são capazes de encarar sua realidade cruel de trazer o silencio e a dor da admiração da paisagem mórbida que se tornou a superficialidade de invejar a felicidade mentirosa das pessoas que um dia juraram que  o sucesso é só a partir do momento em que elas estiverem com suas pernas de pau fracas a cima de você. 

Mesmo que o desinteresse me tome, eu ainda sei pintar o por do sol, mesmo que o brilho se apague eu nunca vou esquecer a cor do mar, mesmo que me vença mais um dia e eu perca tudo que me resta e até mesmo do mais precioso, eu sempre vou me recordar de acordar pra tentar de novo até que as feridas estejam velhas e não doloridas e esticadas ao andar, porque mais uma vez eu não posso parar, porque mesmo que eu afirme tanto que gostaria de admirar a vida lá de cima, eu sei que jamais vou amar outra coisa tanto quanto eu amo estar aqui pra saber que algo ou alguém está me esperando acordar pra dizer, "senti sua falta".

Sombra e luz: Tapeçaria do Eu. Onde histórias criam vida. Descubra agora