Ventura.

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Por ventura das poesias, das dedicatórias aveludadas, das inexistentes palavras que soltei que o fizesse morrer em mim.

Os pulmões enchem de agua, o amor consome rápido como cupins, fazem acreditar naqueles últimos segundos encarando um rosto até que possa sorrir de volta no abraço infinito, na necessidade de acreditar que tudo bem, que mal faz? A vontade é nua, pinta as bordas até preencher, o faz derramar sangue por demonstrações de amor importunas de dizer com palavras, pra sempre desconcertadas.

Eu posso ver você indo embora, acenar nas minhas saídas, me ver nunca mais pisando na morada que construí e eu repetiria o tempo parado toda vez que enxerguei paz no silencio, nas pequenas demonstrações, naquilo que me faz acreditar que não é hora de trancar as portas. Como sinto falta, desfiz, rasguei, queimei tudo o que pude e então quando se perde tudo eu me vejo sozinha e como eu gostaria que ligasse, que me buscasse e me tirasse das madeiras espinhadas, dos venenos, me fizesse respirar por uma pausa curta, como eu gostaria que me ligasse dizendo que me ama, como eu queria que não negasse e me dissesse por uma vez de que está aqui porque sente.

Eu posso sentir você chegando, posso saber quando junto os cacos inconscientemente a sua companhia, como não preciso fazer com que não veja o que sobrou. Como eu gostaria que eu fosse menos, como gostaria que não absorvesse sua ausência ou sua curta presença, como eu gostaria que você me dissesse que vai estar comigo em todas as vezes que eu precisar tocar o chão para soltar os pés de novo, como eu gostaria de ser viva e corada o suficiente pra você dizer que sente minha falta, como eu gostaria que as camisas de força não se tornassem imagens tenebrosas pra encarar-te como um espelho. Porque faço me pensar que matei a tudo que pude, que estraguei tudo o que pude ter construído, como posso eu calar-me como solução, como em alguma hipótese em crise solitária posso fazer desta circunstancia as bolsas de soro de apoio.

Não o fiz como minhas muletas, porque enxerga-me como maluca? porque não posso ser simplesmente perfeita aos teus olhos como uma paixão ascendida, porque não cruzaria esta estrada comigo? as paredes brancas jamais eliminarão o sentimento da dor presa que se solta só na mais pura habitação de liberdade. Porque quebra os vidros ao chão? porque não me escuta dizer, por favor me entenda dizer, me ouça gritar e não faça-me acreditar de que eu nunca estive a direito de sentir e enxergar o que tem me dado nesta caixa.

Quando tudo esteve pronto pra enterrar, quando as roupas não podem mais ser dobradas, quando eu não consegui destrancar-me, a única coisa que eu queria era que você me dissesse que não sairia de perto até que eu pedisse, que não se sufocasse com meu silencio.

Sombra e luz: Tapeçaria do Eu. Onde histórias criam vida. Descubra agora