Ego, responsável pelo sentimento de identidade, continuidade e coerência. Nestes barcos de Jung, questionei-me assim como Freud, em sua perspicácia sobre o inconsciente coletivo. Sobre esse esvaziar de mãos tão pálidas ao tratar da gentileza de escorrer esses complexos como água, pergunto-me: complexo de quê? Que eu, a tão pueril, possa ver a ti em teu senex, talvez positivo de um baixo lidar com suas quatro cordas entrelaçadas ao teu cérebro.Embaraça-se em linhas esfiapadas do barco vazio, anestesiando a alma pelo arquétipo camarada soviético, que apenas enxergo como o Zverkov, ou talvez, de forma assumida, as asas do inseto de Kafka. Após rodopiar-me em Jung, girei os olhos, tonteando, até que minhas vistas te encontrassem para falar sobre isso. Este silêncio foi o moderador do tremor de quem vos escreve agora, de quem te analisa à distância, de quem permeia tua ausência após tua breve presença. Entendo tua partida, teu susto e o quebrar de pernas, ou como diz a leitura de quem escreve este texto: a organização da mente.
Quando me exalto à tua sugestão, tenha a visão de que todas as garrafas se quebraram aos meus pés entre nossos trajetos. E nunca para que isto esfrie o inferno que pouco te afronta, mas para te dizer que, de alguma forma, os cacos me fazem negar a ti, que minto e aceito o teu fantasma. Mas isso me dói como espinhos que descem pela garganta, como um peixe que ansiei tanto para comer, mas que, de alguma forma, eu esqueci de limpar.
Os espelhos nos contam várias versões sobre nossas atitudes, minhas e suas. Mas tenho a dizer que, se Eros e Psique se cruzassem com espelhos, ao confrontarem suas imagens refletidas, veriam a tapeçaria intricada de seu destino, entrelaçada com fios de dor e prazer, tal qual entendimentos que apenas a vulnerabilidade pode causar. Como uma maré vermelha, a metamorfose varreu a antiga ordem de mim, engolindo meus cortes com suas ondas de fervor e fúria, transformando o solo sagrado em um campo de paz onde o idealismo se encontrava em seus braços.
Me alucino no luto, porque, de alguma forma, minhas manifestações têm sido causadas por aquele que tomo todas as noites para me apagar, jamais por interesse a ti. Porque, se incessantemente preciso estar sóbria para lidar com a complexidade da inferioridade, a quem viu teus passeios, saiba que meu inconsciente ainda devaneia por memórias atrasadas de um sereno.
Corra longe destes dois pés que nos dividem desta linha; sempre me culparei por negar-te o florescimento de uma amizade. Mas daqui, deste meio-fio, destas outras bases, se quiser que eu desça desta montanha de tijolos, se precisar de alguém que apoie tuas revoluções, estarei pensando em um quepe e inexistência de uma coincidência, esperando que pense em mim. Obrigado pelo pouco, e mesmo que tão fino quanto areia, sentirei tão breve, como se pelo menos fosse uma verdade. Pois, se um dia os cavalos me levarem, se as flores não mais brilharem e nem pedras cruzarem a nós, deixo-te a visão bonita de um cenário ao campo com bancos de madeira e um céu amarelado, rodeado de flores, abraçados pela última vez, como a memória que nunca morre de um dia de uma linha de trem qualquer que nos une, e a que nos parte ao meio.
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Sombra e luz: Tapeçaria do Eu.
PoesieTextos feitos em balanços ao ego, á complexos e principalmente a parceiros de amor ou outros laços de relações, de tal forma pessoal, ou de que atinga o inconsciente coletivo.