Ansiando pelo meu ateísmo, pedindo pra que Deus me devolva meu sarcasmo, meu ora pois! vá embora, me devolva a gaveta, olhando para tudo como um filme de rápida solução, sem cache pra produzir, eu grito, me rasgue de volta São Paulo! Quanto mistério, quanta dor, quanta ausência, quanta insanidade desse relógio na qual sou devota, três meses de puro solo de jazz, a cozinha de rasgos e páginas, para no final a dor deste homem ser maior que a minha, para no final meus dezessete anos serem mais profundos que os vinte e três do cavalo de papelão de um príncipe de esperas, de uma dor tão quieta e absoluta que minhas navalhas não são suficientes pra cortar um fio de cabelo desse ar terrível de homem, acabem com ele, gritem com ele, tirem dele, porque ele não consegue mais se escutar, e eu me sinto no papel de virar o espelho pra essa caveira abandonada que berrou pelo espelho espelho meu tantas vezes, e mal percebe que no final só esta desgastado esperando por aquela que ele amava, se cortou tanto com os cacos do espelho que o narciso não consegue perceber que está morrendo, porque ele não consegue me escutar? porque eu não consigo tirar meu foco disto? será se estou tão cortada e desinteressada pelos meus cacos que tive que me cortar com os dele? me envolvendo com as dores que abomino, me tornando a política que odeio, abaixando a cabeça pra um Deus que me odeia, dando perdão pra quem me matou, pra entender os cortes de alguém que eu não vou nunca mais levar a sério depois que se recompor de uma mentira, ou eu que reconheço essa mentira? eu não conheço essas cores, ele não conhece as minhas, essa desintegração, supérflua de forma tão gentil, não enche, não machuca, porque está fartura enche nossas barrigas, nos permite nos darmos tão bem, no final queimamos juntos ao inferno, fartos, eu estou farta, porque não consigo aguentar isto, eu não consigo suportar o grito, olhe pela janela, até que agora eu te corte, até que agora eu comece a te machucar, pra que você não vire um dos meus cacos, pra que você seja o meu inimigo, pra que eu não puxe sua mão no fogo ardente, porque a ti devo, a ti grito a que peço um beijo a séculos, um egoísmo tão plausível quanto Eva e a maçã e no final das contas eu não mordo a fruta, me corto com os espinhos de uma roseira e te faço um dos meus demônios, implorando pelo meu ateísmo, orando para que Deus me cure.
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Sombra e luz: Tapeçaria do Eu.
PoetryTextos feitos em balanços ao ego, á complexos e principalmente a parceiros de amor ou outros laços de relações, de tal forma pessoal, ou de que atinga o inconsciente coletivo.