ATT: 16 de junho de 2024
Alteração no conteúdo (acréscimo) e troca de título.👟👟👟
O tênis estava surrado, o cadarço gasto e a ponta mastigada. Eu deveria calçar o mais novo, o com amortecedores em dia e sola ainda totalmente aderente, mas este não estava totalmente laceado. Ele iria machucar. O velho, cor de oliva, era o mais confortável, o mais seguro. Então, apenas amarrei corretamente e fui me alongar.
Eu estava nervoso, ansioso. Sentia que tinha algo diferente no ar. Sentia-me completo, livre e feliz. Eu sabia que ali era o meu lugar. Eu sempre me sentia assim quando eu estava na pista de corrida esperando pelo disparo da largada. Nessa hora eu sabia quem eu era e qual o meu objetivo, sabia o que tinha que fazer. Desde que dei meus primeiros passos, sempre soube que é para isso que nasci, correr.
Olhei para a arquibancada e não enxerguei ninguém que eu conhecia, apenas rostos embaçados. Mas o sentimento de acolhimento estava lá. Eu pertencia às pistas, mas a pessoa responsável pelo apoio e torcida estava em meio ao público. Algum amigo, meus pais ou outro alguém. Meu coração acelerou por um momento e me senti amado, senti-me livre. Sabia que não é por causa do que estava prestes a fazer, a sensação era diferente.
Terminei de me alongar e comecei a me aquecer. Fazia pequenos trotes e saltava erguendo os joelhos ao máximo. Vi o treinador Taylor se aproximar e me entregar um elástico de cabelo. Estranho o fato, até que sinto uma mecha quase entrar na minha boca por causa do vento. Quando foi que meus cabelos cresceram tanto?
Sai dos devaneios, prendi o meu cabelo em um rabo-de-cavalo estilo samurai e fui para a largada. Parecia estranha, estava sozinho, não via meus adversários. Será que eu me enganei com o horário? Talvez seja só um treino de velocidade antes da prova ou uma avaliação, mas por que a torcida, então?
No momento que eu me posicionei, fechei os olhos e respirei fundo, tentando clarear a mente ao máximo, que eu senti algo atrás de mim. Era como um vento frio, mas apenas me fazia querer fugir. Virei a cabeça para ver o que era, mas não vi nada. Apenas a escuridão.
Então o som da largada soou diferente. Até parecia...
👟👟👟
Abri os olhos e vi o meu celular apitando em cima da mesa de cabeceira. Suspirei e desliguei o alarme, sentando-me na ponta da cama. Passei as mãos pelo meu rosto e penteei meu cabelo para trás, precisava cortar, a franja estava chegando na altura das sobrancelhas. Levantei os braços, espreguiçando-me, para, então, finalmente deixar a cama.
Abri as cortinas e dei de cara com o nascer do Sol típico de inverno australiano. Sem uma nuvem no céu laranja com uma faixa de roxo claro ainda visível. Sabendo que o dia seria frio, separei uma troca de roupa e fui para o banheiro tomar um banho e tentar esquecer o sonho, que eu queria que fosse bom, mas só me deixava mais infeliz. Sempre o mesmo, mas a dor nunca diminuía.
Tirei o pijama e entrei no box. Deixei a água cair em minhas costas por um longo tempo antes de me ensaboar, mas, mesmo com a temperatura agradável e relaxante, saí do banho com o peito apertado, sensação que piorou quando vi que meu reflexo no espelho não era um dos melhores. Olheiras um pouco escuras, as sardinhas se destacavam na pele pálida, meu queixo e maxilar se destacavam, não de uma forma boa, mas por eu estar mais magro do que gostaria. E eu não conseguia sorrir com aquela visão. Eu não tinha motivos.
Quando desci para tomar o café, minha mãe já estava terminando de colocar a mesa. Estávamos apenas nós em casa, meu pai estava passando por uma temporada pesada no trabalho. Saía cedo e voltava depois das 21h todos os dias. Estava sendo uma época difícil. Para todos.
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42195 passos | Changlix
FanfictionFelix, por dois anos, foi a estrela da equipe de atletismo do colégio e tinha tudo para ser profissional, mas achava que seu sonho tinha morrido antes mesmo de começar e, assim, desenvolveu um quadro depressivo, tornando-se apático a tudo. Isso até...