Crônicas de Albaran: O Vigia da Montanha

Capítulo 30 - A Primeira Pessoa

Sandro Zola e Oliver

O interior da tenda estava iluminado por duas lâmpadas, alimentadas por um dos núcleos mágicos enviados por Arbelian. Embora menor do que a tenda dos Comandantes, ainda tinha espaço para uma mesa repleta de livros e pequenas peças mecânicas largadas sobre um esquema de algum projeto. Além disso, havia duas cadeiras e uma mesa menor, onde uma tigela usada repousava, esperando ser limpa. Finalmente, a cama, que nada mais era do que um saco de dormir melhorado, estava acompanhada de mais um monte de livros ao seu lado, escorados em um baú de madeira clara e escuras tiras metálicas.

Cada passo mais pesado do lado de fora da tenda de Sandro deixava Oliver nervoso, resultando em trocas de olhares confusos entre o Conselheiro e Ethan, que havia chegado pouco depois do jovem Capitão.

— Por que está nos contando isso? — Sandro questiona, sentado em uma das cadeiras. — Por que trair Oden?

— Não importa, apenas façam o que eu disse, posso tentar mantê-lo distraído por alguns dias e isso deve dar uma vantagem para vocês — Oliver espia a saída da tenda, nervoso, enquanto permanecia sentado na outra cadeira.

— É por causa de Signy, certo, Willian? — Ethan diz de forma cautelosa, sentado aos pés da cama e mexendo uma pequena engrenagem, que estava na mesa, entre seus dedos de forma pouco habilidosa.

— Como? — Arregala o olho, se focando no rapaz loiro e forte de rosto gentil.

— Posso não ser tão inteligente como Sandro ou tão esperto quanto você, mas me lembro das coisas, principalmente da primeira vez que vi uma pessoa morta, no aniversário de Signy. Soube que quem havia cometido o crime se chamava Willian e foi por amar a aniversariante e estar com ciúmes — segura a engrenagem no centro do punho e a envolve com os dedos. — Depois de ver sua reação quando comentei com a maga conselheira de Oden sobre os assassinatos e conversas com as pessoas recém chegadas foi fácil ligar os pontos.

— E sobre a identidade de Oden também. — Sandro se intromete. — Sabendo da origem de vocês, pesquisei sobre sua "origem nobre" e não descobri nada, a não ser que Hemels é o nome de um orfanato em Grenze, cidade natal da família Meyer. Demorou um pouco para cair a ficha que Oden era primo de Christer e por isso não tinha o mesmo sobrenome, mas, juntando as informações que Ethan conseguiu, como ele mesmo disse, foi fácil ligar os pontos.

— Então vocês já tinham descoberto tudo? — Oliver ri aflito. — Já têm tudo pronto e encaminhado para nos deter?

— Bem, tínhamos, até você resolver mudar de lado, agora isso gerou uma variável interessante, mas acho que Ethan parecia ter a resposta. Se importa, meu caro? — O estudioso ajusta os óculos e se vira para o cunhado.

— Eu ouvi alguns boatos sobre a irmã de Oden...

— Que boatos? — Oliver se levanta, cerrando os punhos ao fazer a pergunta, mas recebe apenas olhares de pena de Ethan e Sandro, que já deduzia o teor dos rumores.

— Dos casos que ela teve, e continua tendo, fora do casamento — diz receoso.

— Casamento? — toda a força parece lhe escapar em um suspiro.

— Sim, ela está casada e tem dois filhos, dizem que ela se casou porque engravidou do homem e Oden o obrigou a assumir a responsabilidade, mas mesmo assim ela continuou a ficar com outras pessoas...

— Mentiroso! — Oliver se altera, franzindo o cenho, mas com os olhos lacrimejados. Ouvir em voz alta o que já desconfiava doía muito mais do que havia previsto.

— É verdade — Ethan continua. — Alguns dos jovens que estão na comitiva recém chegada até comentaram sobre ter dormido com a dama de companhia dela quando eram mais jovens para que seu amigo ficasse com Signy.