Capítulo 22 - Graça Divina

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Cordélia Velez

Os sinos do cais despertam Cordélia, que sorri sentindo o lençol de seda sobre sua pele enquanto acostumava os olhos semicerrados à luz abundante de seu quarto.

Os passos leves correndo pelo corredor lhe davam sinal que uma invasão aconteceria logo, a fazendo virar para o outro lado da cama, mas Christer não estava ali.

A porta se abre em uma pequena fresta e o homem loiro sorri ao ver a esposa desperta.

— Melhor vestir algo — sussurra risonho.

— Eu já estou indo — se espreguiça para fora do lençol.

— Acho que você não entendeu, se veste e volta pra cama — fecha a porta e Cordélia pode ouvir os filhos correndo pelo corredor. — Vamos pegar tudo na cozinha, me ajudem — escuta Christer e as crianças concordando.

Sem tempo de encontrar e colocar algo mais complexo que um leve vestido amarelo com detalhes em branco que estava ao lado do espelho, se levanta e vai até a peça, espiando seu corpo nu no reflexo, a pele lisa como a seda de seu lençol lhe enche de vaidade, mexendo os longos cabelos sobre as costas escuta o barulho de uma bandeja metálica caindo no corredor.

O som ecoa um trovão misturado com o rugido do grande leão dourado que rasga as costas de sua armadura, que logo foi tomada pelo calor do sangue escorrendo, a fazendo se virar de costas para o espelho e procurar a cicatriz, que não existia, assim como o trovão ou o leão.

Escuta o trio se aproximando da porta e, tremendo, coloca o vestido, secando os olhos marejados enquanto se deitava para fingir que ainda dormia, com os olhos abertos apenas o suficiente para ver o marido e seus filhos trazendo duas bandejas com um café da manhã para ela.

— Parabéns para a mamãe... — começa a menina.

— Temos que acordar ela primeiro, sua tonta — repreende o garoto, que segurava uma bandeja com pães quentinhos e alguns biscoitos.

Forçando um bocejo, Cordélia se espreguiça e senta, apoiada no travesseiro.

— Bom dia, amores da minha vida — diz emanando alegria.

— Parabéns para a mamãe — começa a cantar a menina e os outros dois se unem à canção, lembrando Cordélia que hoje era seu aniversário.

Depois de muitos abraços e beijos dos filhos, Christer coloca a bandeja com duas xícaras de café e duas de chocolate na mesa da cabeceira e beija a esposa, alisando seu cabelo e rosto em um único movimento gentil, sempre perdido no olhar da bela mulher.

— Que foi? — pergunta risonha.

— Acho que estou me apaixonando por você de novo — a beija novamente.

— E quando foi que tinha deixado de estar, hein? — pergunta e o homem revira os olhos. — Eu te amo.

— Mãe, olha aqui, têm esses pães que ainda estão quentinhos e os biscoitos... — dizia o garoto até ser interrompido.

— Eu ajudei a fazer! — a menininha grita.

— Nós ajudamos o papai a fazer — corrige o menino e Cordélia lhe faz um cafuné. — Era para ter outra bandeja com geléia e manteiga, assim como algumas frutas, mas alguém deixou cair — diz e a menina enche os olhos de lágrimas.

— Calma, acidentes acontecem, isso aqui está ótimo, obrigada meus amores — segura e afaga a mão da filha enquanto diz.

Depois de comer todos os pães e biscoitos, juntamente com suas bebidas, o quarteto se prepara para o dia de aula e de trabalho.

Crônicas de Albaran: O Vigia da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora