Capítulo 15 - O Pôr do Sol

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Gaspar Velez e Rina Heddle

Os cavalos cansados puxavam a carroça pela estrada de terra batida, ainda úmida da chuva da noite passada e Rina, que guiava os animais, suava e lutava contra a dor de cabeça.

"Conseguimos, Eleonora, protegemos o pequeno lorde mais um dia" — observa o sol se pondo no horizonte.

Cada dia era uma vitória desde que saíram e a preocupação de estarem sendo seguidos apenas aumentava.

Isabela mal falava desde o dia em que partiram, Gaspar tentava parecer que estava bem, mas seu sono estava inquieto e sempre acordava aflito, deixando para Rina todo o trabalho de guiar a carroça, conseguir comida e roupas para passarem despercebidos, lugares onde dormir e fazer a segurança dos jovens e o ferimento que havia recebido durante o resgate não estava tornando, em nada, mais fácil a tarefa.

Um buraco na estrada faz a carroça saltar e o inquieto Gaspar desperta com o grito preso na garganta. O jovem observa ao redor e vê Isabela dormindo ao seu lado, segurando sua mão, como tinha feito desde que escaparam do Porto dos Pinhos e Rina, que brevemente havia o olhado, e agora se focava na estrada à frente.

— Onde estamos?

— Estamos perto de Grapajo — Rina responde e, ao notar a falta de reação do jovem, continua, ainda sem olhar para trás. — É uma pequena vila ao norte, parada quase obrigatória de quem usa a estrada da bacia para vir de Farasen até a capital.

— Certo, quer que eu assuma os cavalos para que possa descansar? — responde sem ânimo.

— Eu costumava ajudar meus pais adotivos com a caravana que eles geriam, estou acostumada a conduzir longas viagens.

— Ok — diz, desanimado.

— Os pesadelos, eles passam com o tempo — espia para trás e vê o jovem alisando a mão de Isabela, ainda cabisbaixo. — Depois que enfrentamos os mortos vivos e... — a pausa chama a atenção de Gaspar para a batedora, que desvia o rosto da vista do jovem. — Eu sonhei por dias com quem eu perdi, com quem eu não consegui salvar, mas o tempo ajuda.

— Meu problema é que eu não tenho pesadelos com minha família morrendo, mas sim com o homem que eu matei — Rina avista a vila e diminui a velocidade da carroça, se virando para o jovem lorde. — Eu sinto o impacto da minha lâmina na cabeça dele e vejo seu crânio aberto, bem na minha frente — engole seco —, isso também fica mais fácil com o tempo? Matar, eu digo.

— Eu não sei, com minha família havia usado meu arco apenas para caçar animais e, durante o ataque do drow, havia "matado" apenas mortos vivos, não eram pessoas de verdade, não mais.

— Então as primeiras pessoas que você matou...

— Foram os assassinos que ficaram no nosso caminho.

— Então não matou nenhuma pessoa — Isa diz deitada, surpreendendo os outros. — Uma pessoa não faria o que eles fizeram com... — aperta mais forte a mão de Gaspar, que a abraça com sua outra mão. — Eu queria ter matado até o último deles.

— Isa... — Gaspar se detém, sem saber o que falar.

A carroça salta em outro buraco e os cavalos relincham alto, tentando entrar em disparada, mas Rina alcança as rédeas rapidamente e os faz parar na entrada da vila.

— Todos bem? — a mulher pergunta e os outros assentem.

— Você dormiu? — Isa pergunta.

— Não, a estrada está horrível.

Crônicas de Albaran: O Vigia da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora