Capítulo 3 - Toravo

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Ikún e Roxie

O sol brilha entre as poucas nuvens que restam no céu desde a tempestade de alguns dias atrás e o vento frio do inverno dá espaço a uma doce brisa floral, anunciando a chegada da primavera.

Fazia quase duas horas que Roxie havia ido atrás de Ikún e o resto do grupo estava começando a ficar em dúvida sobre o que fazer, mas a condição de Maddrum, que parecia ter sua energia drenada pelas vinhas em seu braço, era o que realmente preocupava Redcoat.

O jovem centauro divide o pouco que restava de seus mantimentos entre os três e repousa ao lado do Chefe de Guerra.

— É a última porção de raiz doce, mas Toravo está a poucas horas de distância, deve ser o suficiente. — Redcoat diz, arrancando um sorriso sem força de Maddrum, que come em silêncio. — Essa vinha está te matando.

— Estou bem. — responde com a voz rouca.

— Você está pálido e mal consegue correr em linha reta, você disse que pode tirar ela se quiser, então tire.

— Não. — Maddrum volta a comer, deixando o jovem irritado com a falta de diálogo.

— Não deixe o luto te consumir, a sua Princesa não gostaria disso. — Redcoat começa a ir em direção de Nancy. — Nenhum de nós gostaria.

Maddrum encara a vinha em seu braço, verdejante e cheia de vida, assim como Maya estava em sua viagem até o front e a mera lembrança de sua amada era o suficiente para que ele ignorasse o cansaço ou a dúvida sobre manter a planta.

Este era um pedacinho de Maya que ainda estava com ele e, ainda mais agora depois de perder Alec'Sei, Maddrum não abriria mão de mais nada que a lembrasse, mesmo que isso custasse sua vida.

Alguns minutos depois, os Guardiões voltam ao grupo. Os olhos avermelhados da pequena fada revelavam a dor da perda que ela sentia e, mesmo que Ikún disfarçasse melhor, era óbvio que estava arrasado.

— Obrigado por cuidarem de nós, principalmente por ter nos carregado, Redcoat. — Ikún se dirige ao grupo e então ao jovem centauro, que apenas assente com a cabeça. — Maddrum, você realmente não parece estar bem, meu amigo. Estamos muito longe da cidade?

— Devemos chegar antes do anoitecer e eles têm uma ótima curandeira lá, não se preocupem comigo, é sério. — O grande Chefe de Guerra se levanta, batendo no peito para mostrar que ainda estava firme como rocha.

Roxie segurava a mão de Ikún e aquele simples gesto parecia lhe sustentar e, ao notar o jovem centauro observando suas mãos dadas, a pequena sorri tímida.

— Você disse que tinha algo importante para me falar antes de eu sair mais cedo, me desculpe por sair sem escutar, mas eu fiquei desesperada que Ikún fosse fazer algo maluco, porque ele já fez antes. — Tagarela a Guardiã para Redcoat, chamando a atenção de Ikún que ergue uma sobrancelha ouvindo o que ela falava sobre si.

— Não era nada demais, eu até me esqueci. — Responde Redcoat sem jeito, mas ao ver Roxie continuar o encarando com um olhar de curiosidade, ele continua. — Só queria saber se podia dividir as raízes doces entre nós três ou se vocês iam querer também, mas agora já comemos todas.

— Ah, não se preocupe, eu posso ir até o bosque no caminho e colher algumas frutas e nozes para nós, sou muito boa nisso. — Roxie responde animada e volta a se virar para Maddrum, que ainda falava com Ikún.

Nancy chega ao lado do jovem centauro, segurando seu braço para se apoiar.

— Você deveria falar logo.

Crônicas de Albaran: O Vigia da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora