Capítulo 1 - A Janela

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Gaspar Velez

Golpe após golpe, o som da espada contra o corpo de madeira do boneco de treino ecoava pela ampla sala, vazia a não ser pelo jovem mestre Gaspar Velez e a garota de vestido simples, envolvido por um avental, que o observava entediada.

Focando ao máximo sua concentração, o jovem de cabelos castanhos claros, assim como seus olhos, contava cada golpe e movimento de sua sequência de treino, mas o cantarolar da garota aos poucos entrou em sua mente, quebrando seu foco e fazendo com que, ao golpear o alvo, sua espada escorregasse de sua mão.

— Você sabe que é bem chato pra mim ficar aqui te olhando bater em um boneco de madeira, não é mesmo? — A jovem adolescente de longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, cuja idade provavelmente coincide com a do jovem lorde, diz soltando o ar enquanto, deitada, o observava de ponta-cabeça.

— Isa, você não precisa ficar aqui me vendo treinar, até onde eu me lembro você deveria estar ajudando sua mãe na cozinha. — Gaspar provoca enquanto recupera a espada do chão. — Aliás, sua música estava me desconcentrando.

— Eu sei, era o objetivo dela! — Rola para o lado, ficando de bruços para encarar o jovem lorde enquanto uma mecha de sua franja escapa, a fazendo franzir o nariz. — E agora que terminou seu treino podemos fazer outra coisa.

— Bem, seu plano falhou, pois agora tenho que reiniciar minha sequência e isso vai fazer o treino durar ao menos quarenta minutos a mais.

— Mas é tão chato! — Pronuncia de uma maneira demasiadamente exagerada, enquanto pousa o rosto em suas mãos. — Você deveria aproveitar e se divertir um tanto, o boneco de treino vai estar aí amanhã e a vida adulta ainda vai estar te esperando, aproveite e seja uma criança.

— Eu não sou uma criança, já perdi tempo demais com brincadeiras, não vou me distrair com mais bobagens!

— Eu sou uma bobagem? — Isabela pergunta, fingindo revolta para disfarçar que as palavras do amigo realmente a feriram.

— É claro que não. — O som da espada caindo ao chão ecoa na grande sala. — Você é minha melhor amiga e eu quero me tornar alguém forte para proteger o Porto dos Pinhos, minha família, nosso povo, para proteger você. — Gaspar encurta a distância entre os dois e se ajoelha em frente a Isa, que havia se sentado sobre os pés, ficando frente a frente e segurando suas mãos.

— Gosto que na sua lista de coisas para proteger estou atrás de todos. — Brinca para disfarçar o rubor do rosto. — Ao menos não citou os cavalos e os cães.

— E os patos. — Gaspar completa.

— É claro, os patos são bem legais.

Os dois riem, preenchendo a sala de vida, mas a porta se abre e Olga, mãe de Gaspar, entra lançando um olhar frio à garota, que se levanta cumprimentando a Lady Velez.

A mulher com um vestido azul escuro ornado com pedras de água marinha bem lapidadas e seu cabelo castanho claro, como o de Gaspar, arrumado em um arranjo perfeito passa o olhar de desdém de Isabela para o filho, e então muda a expressão para uma mais amena.

— Filho, o que eu já disse sobre interromper suas atividades para... — Olha para a jovem por um instante antes de retornar o foco à Gaspar. — procrastinar com os serviçais?

Isabela leva as mãos à cintura, enquanto seu rosto ficava vermelho e, reconhecendo que a amiga estava prestes a explodir em uma enxurrada de revolta, Gaspar responde rapidamente, chamando a atenção da mãe:

— Estou no meu momento de pausa, é importante descansar entre as sequências. — Vendo que Olga ainda não estava satisfeita, continua. — E Isa... — Olga ergue uma sobrancelha — Isabela! Isabela estava aqui para organizar as armas de volta nos suportes, na verdade eu quem estava atrapalhando o trabalho dela, desculpe, Isabela.

Crônicas de Albaran: O Vigia da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora